terça-feira, 17 de junho de 2014

O forró invocado de Jackson

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O nome do paraibano de Alagoa Grande era José Gomes Filho (1919 - 1982). Respondia, entretanto, por Jack - em referência ao mocinho de faroeste americano Jack Perry - depois, Jackson do Pandeiro, como ficou conhecido. Também lhe cabem os títulos de "Sua Majestade, o Rei do Ritmo" (que deu nome a disco de 1960) e até "Garrincha do Pandeiro".

O artista foi um dos pilares da música do Nordeste que ocupou o mercado fonográfico no século XX. Em 2014, se ainda estivesse por aqui, completaria 60 anos de carreira. Em sua homenagem, o selo Discobertas lançou a caixa "Jackson do Pandeiro - Anos 60 (1966 - 1969)", com remasterizações em CD de três LPs da década de 1960, reforçados por um coletânea com gravações raras, registradas no mesmo período.
Embora parte do material relançado possa ser incluído, digamos, em uma discografia essencial de Jackson, trata-se de um material, inexplicavelmente, inédito em CD. Na caixa, estão os discos "O Cabra da Peste" (Continental, 1966), "A Brasa do Norte" (Cantagalo,1967) e "É Sucesso" (Cantagalo, 1968).
Na coletânea "Mais um pouquinho - raridades" estão reunidas gravações avulsas, lançadas em compactos pelas duas gravadoras. "Ao longo desses 25 anos de CD no mercado, as gravadoras só lançaram coletâneas. Não teve nenhum disco original do Jackson reeditado. Eu fiz, porque a minha ideia é fazer reedição. São caixas que eu gostaria de ter comprado. Estou complementando minha própria coleção", situa o colecionador de discos e diretor do selo, Marcelo Fróes, sobre a importância da homenagem.
 
 
Reedições
Atualmente, os álbuns do artista ou são encontrados via Discobertas ou no formato original, em vinil. Este é o quinto projeto de Marcelo relacionado ao repertório do paraibano. Os primeiros discos, lançados originalmente pela gravadora Copacabana, foram compilados em um CD duplo, relançados pela EMI em comemoração aos 50 anos de carreira, em 2004. Já pelo selo Discobertas, criado em 2008, foram remasterizados os discos em 78 rotações, do acervo da gravadora Columbia; em 2010, uma edição em disco de show realizado por Jackson em 1980; e, em 2012, o DVD "Jackson do Pandeiro - MPB especial 1972", com imagens originalmente gravadas pela TV Cultura.
"Falta ainda o material da antiga Philips, hoje Universal, que eles pretendem relançar em algum momento. No início da carreira, Jackson gravou pela Copacabana, depois Columbia e Philips. Os discos que estão sendo lançados são da segunda metade dos anos 1960, fase meio braba da carreira, em que ele gravou por selos independentes", contextualiza Marcelo. A fase "independente" da carreira aconteceu em meio à crise da música nordestina, que assombrou outros artistas de renome, como o próprio Luiz Gonzaga. Foram espremidos por uma Bossa Nova ainda no auge e a ascendente Jovem Guarda.
Genialidade
A comparação de Jackson do Pandeiro com garrincha (enquanto Gonzagão seria o Pelé da música) é atribuída a Alceu Valença e registrada na música-homenagem de Guinga e Simone Guimarães, "Para Jackson e Almira". Revela-se, talvez, a mais precisa sobre a importância e a categoria desse tal José Gomes. Tinha um ritmo invocado, que, com toda a sua simplicidade e originalidade de artista popular, era capaz dar um traço e entortar o juízo de qualquer ritmista.
"O grande Jackson do Pandeiro era um craque. Se pegasse a lista telefônica, começaria a cantar aqueles nomes enfileirados de tal maneira sincopada que iria parecer a música mais irresistível do mundo", registrou o jornalista e pesquisador de música Zuza Homem de Mello, em artigo publicado dois dias após seu falecimento. O músico morreu aos 62 anos, em 1982, época em que era mais requisitado como ritmista de outros nomes da MPD do que como intérprete O dado, só reforça a necessidade de se ouvir de novo, relançar e homenagear o bom de velho "Jackinha".
Disco
Jackson do Pandeiro - Anos 60 (1966 - 1969)
Jackson do Pandeiro
Discobertas
2014, 4 discos
R$ 88,90
Fábio Marques
Repórter


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