Há três meses, os bancos e até o altar da igreja viram carteiras
para retirar os jovens do Morro Santa Teresinha da ociosidade FOTO: KLÉBER A. GONÇALVES
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As portas da paróquia Nossa Senhora da Saúde, no Mucuripe, são abertas
nas manhãs de sábado às crianças do morro de Santa Terezinha. Porém, ao
contrário do que se pode pensar, não é para uma tradicional missa. Há
três meses, os bancos e até o altar da igreja viram carteiras de uma
grande sala de aula. No começo, eram apenas quarenta crianças.
Atualmente, mais de oitenta, entre sete e 13 anos, saem de suas casas
com o material escolar em mãos e procuram encaixar-se nos espaços vazios
da paróquia para brincar e aprender.
A ideia é reunir os jovens para fazer as tarefas da escola, tirar
dúvidas das disciplinas entre si e estudar o que estiver precisando. Se
não houver tarefas do colégio para fazer, elas não ficam sem fazer nada.
Cada sábado, uma atividade diferente é realizada entre os presentes. E,
claro, o tema sempre leva a questão da cidadania, seja com desenho,
pintura ou massa de modelar. "Eu acho super legal e fico feliz que
muitas crianças estão participando e gostando mais de estudar. Até lixo
na rua eles não jogam mais", pontua Geisa Maria Diniz, de nove anos.
O projeto foi criado pelo Padre Aylson Bessa Cavalcante assim que ele
chegou a paróquia. "Amo demais a minha terra, mas fiquei impressionado
com a violência que tomou conta da cidade. A nossa iniciativa é uma
resposta a toda essa onda de violência. Creio que uma das soluções para a
combater a violência está na educação", declara.
Mesmo com pouco tempo, ele já exalta bons frutos com a sua ideia.
Segundo o padre Bessa, as mães chegam para comentar como os seus filhos
melhoraram na escola e em seu comportamento. Como o fator da amizade,
que eles passam a lidar melhor uns com os outros.
É importante ressaltar que até mesmo crianças de famílias não
religiosas participam. Durante as atividades, não é feito a catequese,
elas não rezam. A base é outra. Como diz o padre Bessa, o intuito desse
projeto é transformar a sociedade a partir da educação. E isso é
independente da religião da pessoa.
A ação foi batizada de "Recicla-dão", que significa reciclado mais
educação. Ao final das atividades, as crianças entregam os materiais
reciclados e "as casas do mosquito da dengue" (o que pode ser foco) que
coletaram ao longo da semana. Tudo é trocado por cupons. No fim do mês,
brinquedos são sorteados. Por mês, são mais de 8 mil objetos.
Para fechar a manhã, um lanche é dado às crianças. Tudo é feito com
doações da própria comunidade. Do lanche ao material utilizado nas
brincadeiras.
Camila Marcelo
Repórter
Repórter
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