
– Ei cara, tu vai pra igreja de bermuda?
– Quê que tem, máh? Jesus não ia de chinelo?
– Quê que tem, máh? Jesus não ia de chinelo?
O diálogo era sobre a maneira como Felipe se vestia para ir à Igreja Bola de Neve.
Ao entrar, ele é recebido com abraços, sorrisos e saudações comuns do
linguajar surfista. Olhando ao seu redor, o jovem vê pessoas de chinelo,
bermuda, boné, com tatuagens. E cantando as músicas que o grupo de
louvor está tocando.
O púlpito é uma prancha de surf e o sermão do pastor contém, além de trechos bíblicos, analogias atuais, com gírias cearenses e brincadeiras,
fazendo com que os membros aprendam a palavra de Deus de uma forma
aplicável ao seu dia a dia. A história de Felipe não foge à realidade
dos frequentadores da Bola de Neve.
Membro
há 2 anos e 4 meses, Yuri Alexeyev veste bermuda, blusa casual e tênis.
“Aqui eu tenho a possibilidade de ir à igreja com a roupa que me traz
conforto e que condiz com minha personalidade. É muito gratificante
saber que estou em um ambiente que é receptivo com as várias tribos, sem
a necessidade de ter que me moldar a um padrão pré-estabelecido.”
Conhecida
pela liberdade que concede a seus membros, a igreja foi implementada em
Fortaleza em 2007, com reuniões em uma barraca de praia, e atualmente
possui mais de 500 membros, em um templo no bairro Edson Queiroz. “O nome Bola de Neve
foi algo que surgiu espontaneamente para dar a ideia de algo que está
constantemente crescendo. E foi o que aconteceu: a igreja cresceu de uma
forma sobrenatural.”, explica o pastor Alexandre Tocantis.
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| Alexandre Tocantins é pastor da Igreja. (FOTO: Arquivo Pessoal) |
Apesar do visual despojado e da liberdade ao se vestir,
o pastor Alexandre alerta que não há exageros por parte dos fiéis. “Tem
que haver um bom senso, um equilíbrio. Claro que a igreja tem um visual
mais despojado, mas isso não quer dizer que a pessoa vai entrar aqui de
biquíni, por exemplo. Nunca tive nenhum problema em relação a algum
membro vestido de forma inadequada. Na verdade, todo mundo entra e já
percebe que apesar de a igreja ter um nome diferenciado e ter toda essa
informalidade, nós temos o temor a Deus e levamos a palavra (Bíblia) a
sério.”
O incentivo à
prática de esportes também é um dos destaques da igreja. Aos domingos
acontece o Ministério de Surf, no Titanzinho e no Icaraí, onde há um
trabalho social de retirada de lixo das praias. De 2013 até março de
2014, os membros já retiraram 1 tonelada de lixo desses locais. Há ainda
a escolinha de surfe, com direito a orações e leitura bíblicas. Além
do surfe, outros esportes como jiu-jitsu e skate são incentivados.
Ainda
que seja conhecida como “igreja de surfistas”, o local é frequentado
por jovens, adultos e famílias, com cultos específicos para casais, para
idosos, para jovens e reuniões para mulheres. Segundo o pastor,
atualmente, os jovens é que estão levando seus pais à igreja, e não o contrário, como acontecia anteriormente.
Onde tudo começou
Fundada
em 1993 pelo surfista e apóstolo Rinaldo Luiz de Seixas Pereira – ou
“Rina” como gosta de ser chamado -, a Igreja Bola de Neve começou em São
Paulo. Depois de ter uma hepatite, dores muito fortes e uma experiência
pessoal com Deus, nascia uma reunião descompromissada, mas que
precisava de um nome. Não demorou a aparecer um que expressasse a
realização do sonho daquele grupo, uma Bola de Neve que, começando
pequenina, se transformasse em uma avalanche.
Um
ano depois, em 1994, ocorreram algumas mudanças. Líderes foram enviados
a expandir a obra, um novo local foi usado para realizar as reuniões:
uma loja de surf. Daí vem a tradição do púlpito ser uma prancha de surf.
Depois houve outras duas sedes, uma na Lapa e outra em Perdizes, São
Paulo. Até que a antiga casa de shows Olympia deu lugar à atual sede da Bola de Neve, com capacidade para 2.640 pessoas sentadas.
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Além da sede, existem mais de 220 igrejas
espalhadas pelo Brasil e por países como Rússia, Índia, Estados Unidos e
Argentina. A igreja cearense se expandiu, abriu uma novo templo em
Caucaia e está em processo de implantação em Juazeiro do Norte e Sobral.
InTime – Movimento une arte, cultura e interação com esportes
Igor Pinheiro é membro desde a implantação da igreja em Fortaleza
– local onde conheceu sua noiva – e atualmente é diácono e líder do
ministério InTime. Ele acompanhou o crescimento da Bola de Neve em
Fortaleza, desde as reuniões em uma barraca de praia até a atual sede na
avenida Washington Soares, e sente-se grato pelo trabalho realizado.
“Foi um processo bem doloroso ver a dificuldade de cada ministério se
estabelecer, mas depois de toda a luta, saber que estamos tendo
resultados é muito satisfatório. Muitas pessoas que começaram na mesma
época que eu estão crescendo e tendo suas histórias transformadas. Eu
cresci muito, como cristão e como cidadão.”
O InTime Culture,
movimento iniciado no ano de 2010, em São Paulo, tem objetivo de unir
artes urbanas e jovens que têm interesses em comum em prol de uma
comunhão esportiva e espiritual. Além disso, ações sociais
como corte de cabelo e atendimento médico são desenvolvidas para ajudar
comunidades carentes. “Buscamos despertar nessa nova geração que eles
possam se expressar e transmitir o amor de Jesus através de suas
habilidades.”, explica o líder do projeto em Fortaleza, Igor Pinheiro.”
O
movimento surgiu com o objetivo de gerir e idealizar eventos que unem
cultura alternativa e esportes de ação como skate, bicicross, patins,
slackline, surf, entre outros. Esses eventos integram o esporte com
música, dança, grafite, fotografia e outras atividades que envolvem esse
estilo de vida.
O InTime também oferece apoio e incentivo social e cultural através de oficinas e aulas gratuitas
para preparação e prática desses esportes. O projeto também pretende
manter um relacionamento contínuo com os jovens e prestar a assistência
necessária para preparar e apontar um futuro para as próximas gerações.
“Alguns
dos jovens que iniciaram suas atividades junto com a implantação do
movimento hoje já estão se desenvolvendo bem no esporte. Dois jovens do
Intime Skate School já se tornaram atletas, participam de competições e
têm patrocínios”, comenta Igor Pinheiro.
Em
Fortaleza, a fundação do movimento se deu no ano de 2012 com escolinhas
de skate, jiu-jitsu e surf. Apesar das aulas práticas, o projeto tem um
caráter educativo, como foco na formação de valores cristãos. Ao final de cada oficina há uma reflexão por parte do instrutor, com leitura da Bíblia e oração.
Além
do incentivo ao esporte, a Bola de Neve está sempre se atualizando. “A
igreja acompanha a rapidez com que as coisas acontecem. Talvez o mesmo
layout que a gente usava 13 anos atrás, hoje já estará sendo
reestilizado. O mesmo linguajar de 15 anos já não é o mesmo de hoje. A
igreja não pode ficar parada no tempo.”, conclui o pastor Alexandre
Tocantis.

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