Fernanda Colombo falhou ao assinalar uma irregularidade
inexistente em um lance que resultou em gol do Cruzeiro. Com a anulação,
a partida terminou com vitória para o arquirrival da Raposa, o Atlético
Mineiro
Foto: Reuters
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Futebol, razão e paixão não costumam entrar em campo juntos. Muitos
acham algo compreensivo quando o erro o favorece e levantam a bandeira
do "errar é humano". Entretanto, com os nervos aflorados após um revés, a
falha é imperdoável e costuma servir de estopim para preconceitos. Foi o
que aconteceu com a assistente de arbitragem Fernanda Colombo, após
falhar em um lance do clássico do último domingo entre os arquirrivais
Atlético Mineiro e Cruzeiro.
O erro, que ocorre devido à falibilidade humana, de fato existiu e
expôs a face machista do futebol. Após a partida, o diretor de futebol
do Cruzeiro, Alexandre Mattos, associou a falha à beleza da
profissional.
"Estão tentando promovê-la porque é bonitinha e não é por aí. Ela tem
que ser boa de serviço, profissional e competente. O erro dela foi
muito, muito, muito anormal, coisa de quem está começando uma carreira.
Se é bonitinha, que vá posar para a Playboy e não trabalhar com
futebol", bradou o dirigente.
O fato repercutiu e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) optou
por suspender a assistente por duas rodadas do Campeonato Brasileiro
para que passe por uma reciclagem, uma vez que Colombo errou em duas
partidas consecutivas.
Para a doutora em Literatura em Língua Inglesa pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) e professora do departamento de letras
estrangeiras da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lola Aronovich, a
entidade máxima do futebol nacional fez valer seus direitos, porém,
relacionou a atitude de Mattos a um ato machista.
"Isso tudo é muito absurdo. Bandeirinhas erram o tempo todo, eles têm
que tomar uma decisão naquele momento e a falha e natural. O que choca é
a declaração; não acredito que após um homem errar ele [Mattos] vá
sugerir que o assistente pose para a G Magazine", supõe Lola, que também
é autora do principal blog feminista do Brasil, o "Escreva, Lola,
Escreva". "Pelo que li, é muito comum que a CBF encaminhe para uma
reciclagem aqueles árbitros que erram mais de uma vez. Não é algo que
tenha acontecido exclusivamente com ela e não vejo machismo nessa
determinação", completa.
A doutora também discorda da máxima que diz que o Brasil é o "País do
futebol". Para ela, esse papel cabe apenas quando a modalidade é
praticada por homens, além de enxergar preconceito na cobertura
jornalística.
"É comum ver fotos da assistente [Colombo] em situações corriqueiras,
mas sempre erotizam a imagem. Se ela ajeita o meião, legendam que ela é
clicada em pose indiscreta. Essa ideia é transmitida também para as
revistas especializadas, onde as mulheres costumam ser mostradas apenas
como musas e não ressaltam seus méritos profissionais", conclui.
Apoio
A assistente cearense aspirante à Fifa, Carolina Romanholi, defende a
companheira de trabalho: "Todo mundo erra. Estão fazendo tempestade em
copo d'água porque foi com uma mulher. Acredito que ela é muito nova
para trabalhar em clássicos, mas falhas acontecem e a experiência vem
com o tempo. Passei por tudo isso, inclusive pelas falhas".
"As assistentes passam pelo mesmo treinamento que os homens são submetidos", salienta.
Eduardo Buchholz
Repórter
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