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Instalado em 2009, o abatedouro público de Pedra Branca, no Sertão Central, é exemplo de manejo adequado às exigências |
Conselho Regional de Medicina Veterinária e Uipa apontam falhas no manejo dos animais para produção da carne
Russas. Dos cerca de 180 municípios do Ceará com
matadouros públicos, somente 33 são licenciados pela Superintendência
Estadual do Meio Ambiente (Semace). Isto significa que 78% das cidades
estão consumindo a chamada "carne de moita", ou seja, o abate não
aconteceu conforme as exigências básicas da Vigilância Sanitária.
De acordo com a normas sanitárias, o abate do animal e o manuseio da
carne devem ser feitos sem nenhum contato com o solo. No processo, o
animal deve ser colocado em um box de atordoamento, onde será
sacrificado utilizando uma pistola pneumática. Em seguida, o corpo do
animal é guinchado pela perna, através de trilhos aéreos, onde é levado
ao tanque de sangria. Todo o manuseio deve ser realizado a um metro do
chão. Quem realiza o corte deve estar com todos os equipamentos de
proteção, de modo a não ter contato direto com a carne, garantindo a
qualidade do alimento.
Esses são alguns dos processos que não são realizados em mais da metade
dos abatedouros. De acordo com a presidente da União Internacional
Protetora dos Animais (Uipa), o retrato é bem diferente. Além das
péssimas condições de higiene, onde os animais são muitas vezes cortados
em mesas ou diretamente no chão, em contato direto com quem faz o
trabalho, em meio a estruturas precárias e sujas, os maus tratos com os
animais ainda é muito grande.
"Na maioria dos matadouros ainda acontece a morte por marretadas, onde o
animal fica agonizando", denuncia. Em um dos casos vistoriados pela
Uipa, no antigo Frifort, atualmente fechado, o sofrimento dos animais
não era somente na hora do abate, eles viajam centenas de quilômetros de
pé, sem água nem comida, apertados na carreta de um caminhão. Ao
chegar, ficavam até quatro dias no pátio do matadouro, recebendo só
água.
Diante disso, ela fez um projeto de lei e entregou ao então deputado
João Alfredo, que apresentou à Assembleia Legislativa, onde foi aprovado
e sancionado pelo Governo do Estado.
Legislação
A Lei 12.505, de 9 de novembro de 1995, obriga a todos os matadouros do
Ceará a utilizar o método cientifico, com uso da pistola pneumática no
abate de animais e proíbe a utilização de marreta, foice, machado, entre
outros utensílios similares. Porém, segundo ela, há uma constante luta
para que a legislação seja cumprida no Estado.
"Desde do ano de 1995 que luto para que adquiram a pistola, mas o abate
é da forma antiga. Solicito Audiências Públicas, reuniões com
autoridades etc, mas as pessoas não se conscientizam. Vivo recebendo
denúncias de todo o Interior do Estado, alguns com vídeos e fotos. Tudo é
encaminhado ao Ministério Público e a partir daí ou o local é
interditado ou é assinado um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com a
Prefeitura", conta Geuza.
Ela critica a falta de fiscalização das autoridades competentes e diz
que a responsabilidade também é dos municípios que não fiscalizam e
liberam alvarás de funcionamento para locais nessa situação.
Doenças
De acordo com o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária
(CRMV-CE), José Maria dos Santos Filho, o consumidor que se alimenta de
carnes abatidas em locais que não seguem as normas da vigilância
sanitária, pode adquirir aproximadamente 200 doenças que podem ser
transmitidas dos alimentos ao homem, através da ingestão de toxinas,
bactérias e vírus.
De acordo com ele, esses agentes infecto-contagiosos podem ser
detectados em exames realizados nos animais vivos, após o abate, ou
ainda, por meio de exames laboratoriais. "Para tanto, os matadouros,
sejam de bovinos, suínos, caprinos/ovinos, aves; as empresas de
laticínios, mel e pescados e qualquer outra que trabalhe com produtos de
origem animal, devem possuir um sistema de inspeção sanitária desses
produtos, de modo a garantir a inocuidade do alimento", afirmou.
Ainda de acordo com o presidente do CRMV, de um modo geral o matadouro
ou empresa processadora de alimentos deve ser uma atividade
preferencialmente comercial. Porém, na ausência dessas, os municípios
cearenses, no intuito de impedir a venda desses produtos oriundos de
"moitas", sem a devida inspeção de um médico veterinário, acabam por
implantar matadouros públicos. "Em sua ampla maioria, não passa de umas
moitas oficializadas já que não atendem aos mínimos requisitos
tecnológicos e higiênicos necessários para garantir a sanidade dos
produtos de origem animal, seja pelas deficientes condições estruturais,
seja pela falta de equipamentos adequadas ao abate, seja pela falta dos
inspetores de alimentos médicos veterinários, concursados, ou ainda
pela falta de médico veterinário responsáveis técnicos pelo
estabelecimento", criticou.
Segundo um relatório realizado pela CRMV, em 2013, dos 184 municípios
cearenses 154 possuíam abatedouros públicos, destes, 128 possuíam
registro no CRMV. Entre matadouros interditados ou desativados, o número
era de 34.
Ainda segundo José Filho, o Conselho faz fiscalização rotineira dos
matadouros denunciando ao MP quando detectadas irregularidades. "Ocorre
que, quando o matadouro é fechado, normalmente o criador abate os
animais em moitas e a Vigilância Sanitária não coíbe essa prática, o que
seria bem fácil, já que normalmente todos sabem onde esses animais são
abatidos. Se não souber, é só fazer uma fiscalização nas feiras
municipais, e açougues, pedindo o documento que comprove a origem da
carne".
Alerta
Alerta
"Os matadouros, na ampla maioria, não passam de moitas oficializadas e não atendem aos mínimos requisitos legais"
José Maria dos Santos Filho
Presidente do CRMV
José Maria dos Santos Filho
Presidente do CRMV
"Vivo recebendo denúncias de todo o Interior, e encaminho ao Ministério Público para ajustamentos de conduta"
Geuza leitão
Presidente da Uipa
Mais informações
Geuza leitão
Presidente da Uipa
Mais informações
CRMV - (85) 3272.4886
Uipa - (85) 3261.3330
Ellen Freitas
Colaboradora
Colaboradora
Pedra Branca, Limoeiro e Iguatu servem de modelos
Russas. Em meio a disparidade de abatedouros
clandestinos existentes no Ceará, o Estado possui, pelo menos, três
exemplos de unidades que cumprem as regulamentações da vigilância
sanitária. Os abatedouros foram instalados nas cidades de Limoeiro do
Norte, Iguatu e Pedra Branca e servem de modelo para o restante dos
municípios.
O abatedouro público do município de Pedra Branca, na região do Sertão
Central, foi um dos primeiros a serem implantados. O projeto trouxe
equipamentos modernos, priorizando a higiene da carne no momento do
abate. Também foi extinto o abate por meio de machadadas, como era
comumente utilizando, sendo substituído pelo abate humanitário, sem
sofrimento para o animal.
De acordo com o administrador do abatedouro público de Pedra Branca,
Jucelino Rodrigues Gomes, o abate dos bovinos ainda não é feito com a
utilização de pistola pneumática, determinada pela legislação do Estado.
Os animais são abatidos, segundo ele, com pistola que utiliza cápsulas,
mas que não penetra na cabeça do animal, diferente da pneumática, que é
considerado o método mais eficiente.
"As vezes é ruim porque o boi se meche muito, ai a pessoa erra e tem
que usar duas ou três cápsulas por animal e sai caro ficar comprando",
explica. Ainda de acordo com ele, uma pistola pneumática será comprada
para realizar o trabalho.
Em média são abatidos 35 bovinos por dia para suprir a demanda de 40
mil habitantes. "Tem dias que se abate uns 60, principalmente nas
sextas-feiras.", ressaltou Gomes.
Ainda de acordo com ele, a estrutura permite que, por hora, sejam
abatidos 16 animais. O local emprega 29 funcionários, que se dividem nas
funções de abate, corte, veterinário, limpeza e tratamento da água.
"Depois dos processos, a água utilizada vai para vários decantadores, onde é feito o tratamento e filtrada", explicou ele.
Em junho de 2012 foi inaugurado o abatedouro público de Limoeiro do
Norte. Após várias denúncias publicadas no Diário do Nordeste, sobre as
condições precárias no abate e higiene das carnes, o local foi fechado
pela Justiça e reaberto três anos depois após a construção de uma nova
estrutura. O local possui, além de equipamentos que garantem as
condições adequadas de abate e comercialização, também foi equipado para
realização do manejo humanitário dos animais.
Iguatu entregou um abatedouro moderno no ano passado. A obra, orçada em
R$ 1,3 milhão, foi inaugurada em janeiro de 2013, após longos anos de
espera da população. Apontada como uma das mais modernas do Nordeste, a
unidade é a primeira do Interior a dispor do Serviço de Inspeção
Estadual, realizado pela (Adagri).
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