Rosa da Fonseca e Maria Luiza Fontenele, ex-prefeita de Fortaleza, estão à frente do projeto da “Sociedade sem Dinheiro” (FOTO: Crítica Radical) |
“Uma
sociedade com outra relação social”. É assim que define a ex-vereadora e
líder do movimento Crítica Radical, Rosa da Fonseca, o projeto “Sociedade sem Dinheiro”. Baseado em estudos da obra de Karl Max, um grupo pretende viver uma experiência inédita no Ceará. “As pessoas falam de Canudos e do Caldeirão, mas é uma experiência diferente e na modernidade”, considera Rosa.
A
previsão para tudo estar pronto é ainda no primeiro semestre de 2014.
“Não queremos somente nos alimentar melhor ou ter um contato maior com a
natureza, mas estabelecer uma nova relação, baseada na partilha.
Não queremos voltar para a pré-modernidade, nem para o escambo, porque
quando você fala em troca, você pressupõe valor. Queremos romper com
isso. Nosso objetivo é a emancipação humana”.
Ideia
Ainda
na década de 1980, um grupo sonhava em viver em uma comunidade onde o
valor e o dinheiro não influenciassem a vida das pessoas. Diretamente de
Fortaleza, esses jovens fizeram contatos com pessoas de outros países,
principalmente da Alemanha, que mantinham o mesmo objetivo e estudos
convergentes. Durante a década de 1990, criticaram o capitalismo e o
socialismo, por um dar prosseguimento a lógica da exploração.
Mas foi em 2013, ao passar de mais de 20 anos, que eles decidiram colocar na prática o que já se pensava antes. “Tivemos a experiência na luta do Cocó,
quando ficamos acampados em uma relação totalmente horizontal, em que
tudo era decidido em consenso. Raramente se fez alguma votação. Durante
84 dias, o acampamento se manteve com o apoio das pessoas”, relembra
Rosa.
Em entrevista ao Tribuna do Ceará,
a ex-vereadora e professora conta sobre a combinação entre natureza e
tecnologia utilizadas no acampamento, que devem um dia ser utilizadas no
projeto da “Sociedade sem Dinheiro”. “Trouxeram um gerador para termos
energia. Foi feito um banheiro seco, já ia sendo montado um forno solar.
Isso tudo usando tecnologia. Uma pessoa já ia emprestar uma placa de
energia solar para captarmos. Podemos usar a tecnologia, porque ela é um
fruto da humanidade, que deve ser usada em outras lógicas, não só a do
capitalismo”.
Para Rosa, a experiência foi determinante para colocar em prática a ideia já antiga. “Chegou a hora de dar o passo adiante”,
pontua. A partir daí, os integrantes do Crítica Radical e mais outro
grupo de pessoas – que acamparam ou não no Cocó – se reuniram para
formar o novo conceito de sociedade. Porém, onde morariam? Uma comissão
de cinco pessoas foi montada para responder a essa pergunta.
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O local
A ideia era morar perto da capital, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF),
para não ficar longe dos movimentos sociais e não se tornar uma
comunidade fechada. A partir daí, foi dada a largada para a procura de
um terreno fértil, para que pudessem plantar seus alimentos, e com boa
localização.
Após a decepção com algumas ilusões, foi com a ajuda de corretores que 55 hectares em Cascavel
– a 62 quilômetros de Fortaleza – se tornaram um “achado” na vida desse
grupo. O que não esperavam é que outro comprador apareceria, o que
aceleraria a busca pelo dinheiro para quitar os R$ 583 mil.
Em
menos de um mês (de novembro para dezembro), o grupo arrecadou R$ 110
mil para dar entrada. Com mais iniciativas, doações e partilhas, mais R$
95 mil foram pagos no último sábado (1º), fechando a primeira parcela
que garante a posse do terreno. Agora, começa uma nova temporada de
esforços para angariar o restante.
Desafios
Os
desafios são vários. Onde dormir? Onde realizar as necessidades
fisiológicas? E a comida? E a água? E a internet? Aos poucos, o grupo
vai descobrindo e aprofundando as formas de lidar com eles. “Durante
algum tempo, vamos precisar de dinheiro”, reconhece Rosa. A princípio, a
ideia é conseguir o dinheiro com partilhas e contribuições, sem
precisar vender nada.
Para solucionar
as questões, o grupo procurou pesquisadores da Universidade Federal do
Ceará (UFC) e Universidade Estadual do Ceará (Uece) para tirar dúvidas
sobre o cultivo de hortaliças, além da criação de peixes e outros
animais. “Tem um olho d’água, estamos vendo se podemos utilizar a água
de lá”, ressalta. Mesmo assim, Rosa admite que terão que recorrer a
energia elétrica e internet pagas de imediato. “Estamos num processo.
Nada é determinado. É um processo que vai se transformando”.
Sobre
uma sociedade híbrida, em que pessoas queiram ter uma ocupação ou
estudarem, Rosa explica que essa questão não foi aprofundada. Entretanto, ela garante que haverá um núcleo que não terá um vínculo mercantil.
Perspectivas
“O
povo fala: ‘Mas isso é um absurdo. Sem dinheiro, a pessoa não vive’. E
isso é que é um absurdo: a pessoa precisar de dinheiro para viver”. Com
esse pensamento, Rosa espera que a “Sociedade sem Dinheiro” se expanda.
Além disso, outros grupos de diferentes lugares, como em Maranguape, já
entraram em contato querendo criar ramificações da experiência. “Vamos
lá”, se empolga Rosa.
“E se não der
certo?”, pergunto. Com a pergunta, Rosa faz um semblante de dúvida e
revela: “Não pensamos nisso. A gente aposta que vai dar certo”. Se vai
dar certo ou não, só o futuro dirá.
Reuniões
Os
interessados em participar da “Sociedade sem Dinheiro” devem participar
das reuniões do grupo que acontecem todo sábado, a partir das 9h. Como o
local dos encontros pode mudar, as dúvidas são tiradas pelos
responsáveis do Crítica Radical. Telefone para contato é: (85) 3081.2956
/ 3081.2960.
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