sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

IJF atende 94% de casos a mais nesse fim de ano

Balanço relativo aos dez dias de festas chama atenção para número de queimados e agressão por arma de fogo
Os dados do principal hospital de traumas de Fortaleza, o Instituto José Frota (IJF), são claros. Fortaleza enfrenta um verdadeiro caos urbano, causado em grande parte pela violência em geral, imprudência e imperícia de quem pilota motos. No total, entre Natal e Revéillon, o Frotão atendeu a 2.308 ocorrências. Número 94,2% maior do que o de igual período do ano passado, com 1.188 registros, sendo que em 2012 foram dois dias a menos de festividades.

Entre os feriados de Natal e Revéillon, o Instituto José Frota (IJF) atendeu a 2.308 ocorrências. Com 839 vítimas, sendo 476 somente de motos, os acidentes de trânsito lideram a lista de atendimento na unidade pública FOTO: NATINHO RODRIGUES

Acidentes de trânsito com 839 vítimas - 476 somente de motos; 121 agressões físicas, 107 por arma de fogo e outras 74 por arma branca, lideram as estatísticas. Queimaduras também chamam atenção, com 119 ocorrências em dez dias. Em apenas um ano, o número de pessoas com múltiplas lesões causadas pela violência no trânsito aumentou 102%. Se considerar apenas as motos, o salto é maior ainda, 115,3%. Foram 84 lesionados por dia ao longo desses dez dias.
Em oito dias entre Natal e Ano Novo de 2012, o IJF contabilizou 414 vítimas de trânsito, com 221 devido aos acidentes envolvendo motos. Além de 61 casos por armas de fogo, 37 por arma branca e 78 agressões físicas. Os queimados somaram 96.

O diretor da emergência do Frotão, Helder Pinto, lamenta que a associação entre bebida alcoólica, falta de capacete e de habilitação continue potencializando tantas vítimas. "A moto é a grande vilã, não só pela grande quantidade de acidentes, mas os pacientes são mais graves e levam mais tempo para se recuperar", lamenta.

Vítimas
O médico alerta não só para as festas de fim de ano e afirma que a violência em geral, principalmente no trânsito, vem aumentando. Entre maio e novembro deste ano, informa, o Frotão atendeu, em média, 38 pessoas diariamente, vítimas de acidentes envolvendo esse tipo de veículo. Em sete meses, o hospital contabilizou 7.757 ocorrências.

O número é 35% maior do que igual período do ano passado, quando o IJF atendeu 5.777 pessoas. Essa média foi superada no período de Natal, entre 21 e 25 de dezembro, quando o Frotão atendeu a 253 vitimados por motos. Foram 51 pacientes por dia. No Revéillon, foram 223 atendimentos.

A maior parte das vítimas, diz, é formada por homens. As causas dos acidentes são quase as mesmas: falta de habilitação, não uso do capacete, ingestão de bebida alcoólica e negligência.

O auxiliar de produção Francisco Gleison de Assis Freitas quase perdeu a vida numa batida frontal com uma caçamba parada na calçada na noite do dia 21 passado devido a essa mistura perigosa. Ele teve parte de sua perna direita amputada (do joelho para baixo) e ainda vai passar por cirurgias. Gleison não sabe quando terá alta do IJF, mas tem a certeza de que, ao sair vivo do acidente, uma de suas primeiras ações em 2014 é tirar a habilitação A e nuca mais beber antes de pilotar sua moto. "Escapei dessa, perdi a perna, vou usar prótese, e reconheço que fiz uma besteira", avalia.

Susto no presente e incertezas no futuro por não saber se vai continuar no emprego e quando estará liberado para voltar à vida normal, Gleison representa bem o perfil da maioria dos acidentados. Dificuldades na família, no trabalho e na sociedade, os acidentes no trânsito também têm impacto direto na economia do País. Segundo a assistente social do IJF, Ana Lúcia Pinto Tavares, a maioria sofre traumas profundos e fica com sequelas ou comprometimento motor e neurológico. "Muitos são chefes de família e com o acidente e suas consequências, os desafios são maiores ainda", afirma.

Acidente
Casos como o da jovem de 16 anos Francilúcia Ribeiro Soares também preocupam. Ela sofreu acidente no dia 4 de outubro deste ano e quase não sobreviveu. Foram necessárias cinco cirurgias e sequelas na perna direita. Após uma festa, ela saiu na garupa da moto do namorado com outra amiga e sem capacete. Todos menores de idade e ele, sem habilitação.

Na manhã de ontem, depois de muito sofrimento dela e de sua mãe, Lúcia, foi para casa, no município de Itapiúna. Sua rotina agora será descanso e fisioterapia. Perdeu o ano escolar e não sabe se irá voltar à escola no próximo ano. "Uma vida comprometida por imprudência e negligência", lamenta a assistente social Rosângela Neves.

Criar faixas exclusivas é solução para segurança
O Presidente da Associação dos Psicólogos de Trânsito, José Wagner de Paiva Queiroz Liman, acredita que saída para uma maior segurança no trânsito com relação aos veículos automotores sob duas rodas é o possível estudo por parte de arquitetos e engenheiros de destinar faixas exclusivas para o livre deslocamento das motocicletas.

"Não é um problema somente do Ceará. É uma realidade nacional. O número da frota tem aumentado de forma vertiginosa, e a única medida mais viável que percebo é destinar-lhes espaço específico para seus deslocamentos, diminuindo assim, espera-se, o número de acidentes em todo País", aponta.

De acordo com informações do Ministério da Saúde, acidentes de trânsito têm sido responsáveis pela morte de milhares de brasileiros em diferentes cidades do País, principalmente motociclistas. Em um período de nove anos, de 2002 a 2010, o número de pessoas que morreram vítimas de acidente com moto cresceu quase três vezes no País, o que acendeu a luz de alerta para a sociedade.

Atualmente, os Centros de Formação de Condutores (CFC) oferecem ao candidato à habilitação de motocicletas (veículo motorizado de duas ou três rodas, com ou sem carro lateral) 45 horas de curso teórico e 20 aulas práticas de 50 minutos cada.

Testes
"Embora tenham aulas práticas e orientação atualizada, esses condutores não têm tempo de testar a si mesmos em situações de conflito. E são estes os casos mais frequentes em centros urbanos", explica o mestre em Sociologia e especialista em trânsito, José Eduardo Moraes.

LÊDA GONÇALVESREPÓRTER

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