A receita do FPM é hoje junto com o Bolsa Família sustentáculo para várias economias nos municípios do Ceará
Embora
o Programa Bolsa Família (PBF) tenha sido criado com objetivo de
erradicar a pobreza no Brasil, atualmente, o benefício reverte-se,
também, como importante fonte de receita para a maior parte dos
municípios cearenses, ao lado das transferências constitucionais, como o
Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Além possibilitar o acesso à
renda pela população mais pobre, colaborando para a diminuição das
disparidades regionais, o benefício injeta recursos no comércio local,
dinamizando, em certa medida, a economia dessas cidades. É o que aponta o
Enfoque Econômico nº 86 - "A Importância do Bolsa Família para a
Dinâmica Econômica dos Municípios Cearenses", lançado ontem pelo
Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).
O
repasse de recursos oriundos do Programa Bolsa Família para o Ceará
totalizou R$ 1,6 bilhão, em 2012. Desse montante, Fortaleza recebeu mais
de R$ 277,5 milhões, ou 17,22 % do total FOTO: NATINHO RODRIGUES
Conforme
o documento, em 98 dos 184 municípios do Estado - ou aproximadamente
53% -, em 2012, os recursos do PBF equivaleram a mais de 50% do volume
recebido por essas cidades via FPM. Resultado, reforça o diretor geral
do Ipece, Flávio Ataliba, que demonstra a importância do programa para a
maior parte das cidades cearenses, pois "um volume equivalente a 50% da
principal fonte de receita desses municípios é distribuído diretamente
para as famílias beneficiadas, sendo revertida em consumo de
subsistência e impactando positivamente na economia local". "Esse
resultado coloca o Bolsa Família em outro patamar de discussão, ou seja,
a sua importância para a sustentabilidade dos negócios locais. O que
seria deles sem esses recursos?", indaga.
Em municípios como
Itapipoca, por exemplo, o sétimo em contingente populacional no Ceará,
com um total estimado de 119.320 habitantes em 2012, a receita de PBF
(aproximadamente R$ 27,75 milhões) deste município, nesse ano, foi
bastante próxima ao do FPM (em torno de R$ 28,30 milhões) - 98%. O mesmo
ocorre em Canindé, Viçosa do Ceará, Tianguá, Icó, Acaraú, Morada Nova e
Maranguape, todos com índices superiores a 80% nessa relação.
"Diante
da importância apresentada, um outro ponto que merece atenção é o fato
de o PFM ser uma transferência constitucional, com os recursos
garantidos pela Constituição Federal, e o PBF ser apenas um programa de
governo. Isso confere incerteza política aos municípios nos próximos
governos, tendo em vista a continuidade ou não do programa. Além do
impacto sobre a economia local tem-se ainda, pelas próprias regras da
iniciativa, o impulso à educação, pois o pagamento depende da frequência
das crianças da família beneficiária à escola, contribuindo, assim,
para aumentar os índices de educação", acrescenta o analista de
políticas públicas do Ipece, um dos autores do estudo, Nicolino
Trompieri Neto.
Receitas
O repasse de
recursos oriundos do PBF para o Ceará, em 2012, totalizou R$ 1,6 bilhão.
Desse montante, Fortaleza recebeu mais de R$ 277,5 milhões, ou 17,22 %
do total. Jati, General Sampaio, Itaiçaba, Arneiroz, Baixio, Ererê,
Pacujá, São João do Jaguaribe, Granjeiro e Guaramiranga são os dez,
dentre os 184 municípios cearenses, que têm os menores números de
pessoas beneficiadas com o programa. Já as dez maiores localidades são:
Fortaleza, Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Sobral, Itapipoca,
Crato, Maranguape, Canindé e Tianguá.
4º no ranking
Em
2012, o Ceará era o 4º do ranking nacional, no número de beneficiados
com o PBF, com um total de 3,8 milhões de pessoas. No 1º lugar está a
Bahia (seis milhões), seguida por São Paulo (4,4 milhões) e Minas Gerais
(4,2 milhões). Em 5º, Pernambuco (3,6 milhões) e Maranhão (3,3
milhões), em 6º. O Ceará também fica em 4º na proporção de beneficiados
em relação à população (44,6%). O Maranhão surge em 1º lugar, com 50,3%,
seguido por Piauí (48,5%) e Alagoas (46,9 %).
ANCHIETA DANTAS JR.
REPÓRTER
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Baixa receita e níveis elevados de pobreza
Os
resultados apontados pelo Ipece revelam, por um lado, a insuficiência
de receita dos municípios cearenses, ao mesmo tempo em que demonstra o
alto índice de pobreza que eles apresentam, dado o grande volume de
recursos do Programa Bolsa Família que essas cidades recebem. Como
praticamente a economia dessas localidades sobrevive desse programa e
das aposentadorias rurais, essa é uma importante fonte de receita para a
dinamização do comércio ali existente, dado que quase que em sua
totalidade os recursos são direcionados para o consumo. Além de
retornarem em impostos indiretos para os governos municipais, que já
possuem uma baixa arrecadação, ajudando a incrementá-la. Dessa forma,
embora o Bolsa Família não possa ser considerado uma política definitiva
de longo prazo, ela é essencial nesse momento.
Carlos Eduardo Marino
Pesquisados do Lab. de Estudos da Pobreza
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