segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Num cinema perto de você

Sucessos da TV como Crô, de "Fina estampa", "Os caras de pau" e "Tapas & beijos" estão na mira da tela grande, impulsionados pela bilheteria dos filmes de comédia

Quando "Fina estampa" estreou, em 2011, Crodoaldo Valério era apenas o mordomo afetado da vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni). Ao longo da novela, ele cresceu. Cheio de maneirismos, expressões bem sacadas e um ar pueril, logo se tornou um dos destaques da trama de Aguinaldo Silva. Ao fim dos 185 capítulos, Crô ficou rico - herdou a fortuna da patroa. Mais que isso. Tamanha popularidade transformou o personagem em estrela de cinema em "As aventuras de Crô", da Downtown Filmes/Paris, que estreia em 29 de novembro. A transição de Crô para a tela grande é um exemplo de um fenômeno que só progride, tanto aqui quanto lá fora, numa ligação cada vez mais direta entre TV e cinema. Principalmente quando se trata de comédias.

"Os Caras de Pau": longa que começa a ser rodado no fim de novembro e estreia em julho de 2014

O filme de Crô só vem engrossar o caldo de lista cheia de estreias para este e os próximos anos. O rol inclui "Meu passado me condena", derivado da série do Multishow, "Os caras de pau", "Os normais 3" e "Tapas & beijos", todos da TV Globo, além dos já lançados: "A grande família - o filme", "Cilada.com", "Giovanni Improtta" e "Casseta & Planeta - A Taça do Mundo é nossa".

Para Marcio Fraccaroli, diretor-geral da Paris Filmes, os lançamentos não conjeturam uma tendência. Mas, sim, uma oportunidade de mercado. "O brasileiro gosta de comédia, de ir ao cinema com a família para rir", afirma ele.
"No cinema podemos contar a história de forma mais bem acabada, os personagens já estão testados, a piada já foi contada e aprovada. Para o cinema nacional, preferimos projetos populares, para pensar neles como um negócio. Conseguimos exibi-los em quase 800 salas", explica Márcio, que lançou, este ano "Minha mãe é uma peça" e "O concurso", entre outros.

Diretor de "As aventuras de Crô", Bruno Barreto afirma que à medida que a indústria de entretenimento brasileira cresce, os preconceitos se dissipam. "A imagem está cada vez mais elaborada, as produções, grandiosas. Não tem mais aquela questão de se achar que TV não é arte", decreta.

Crô (Serrado) entre a empregada Marilda (Kátia Moraes) e o motorista Baltazar (Alexandre Nero): personagens mantidos

Emblemático

Embora veja "com muitas reservas" a adaptação de programas televisivos para o cinema - "pois na maioria das vezes eles não acrescentam nada ao que o espectador já viu" -, Aguinaldo Silva explica que Crô se tornou "maior que a vida! e sobreviveu "à superficialidade do gênero, muitas vezes, descartável´. "Poucos personagens de novela atingem esse tipo de comunicação com o público. Quem vai ao cinema para rever um deles quer saber mais sobre ele, vê-lo de modo mais completo e acabado. É o personagem que ele já conhece, mas cheio de nuances que a novela não permite", avalia o autor, criador também de Giovanni Improtta.

Intérprete de Crô, Serrado acha que, sem o roteiro de Aguinaldo, o filme não teria condições de ser produzido. Caso o texto fosse passado a terceiros, o ator comenta, o personagem correria o risco de se tornar um "híbrido".

"Se sai do contexto fica obsoleto, e o público sente que está sendo enganado. Aguinaldo me conhece e conhece o personagem. Eu preciso dessa troca, é fundamental para mim como artista", argumenta o ator, que entre a novela e o filme viveu Tonico Bastos no remake da novela "Gabriela", em 2012.

Andréa Beltrão, Fernanda Torres e o elenco estão empolgados para rodar um filme

Séries para a telona
No caso de "Meu passado me condena", nos cinemas em 4 de outubro, a equipe permaneceu fiel à da TV. Além do elenco original, com Miá Mello e Fábio Porchat como o casal protagonista, a diretora é a mesma, Júlia Rezende. Embora aponte vantagens como a segurança e a sintonia que a equipe já tem, ela diz que há um cuidado dobrado para evitar a repetição. "Tenho que acreditar que existe um olhar original sobre essa história que ainda não foi explorado", observa.

O longa é o début de Julia no cinema. E o primeiro filme brasileiro a ser filmado integralmente em um cruzeiro de verdade. A história mostra a lua de mel da dupla, que se casa um mês após se conhecer. Para se adaptar aos percalços, Julia passou três dias num navio antes do início do trabalho.

Na versão cinematográfica de "Meu passado me condena", Miá Mello e Fábio Porchat embarcam num cruzeiro

Enquanto aguardam uma possível volta à grade da Globo, Marcius Melhem e Leandro Hassum relembram "Os caras de pau" no longa que começa a ser rodado no fim de novembro e estreia em julho de 2014. Segundo Marcius, o filme ocupa um filão já explorado pela trupe de "Os trapalhões", no que ele classifica como "uma aventura cômica para toda a família". O ator adianta que, ao contrário do programa de TV, a produção não será calcada em esquetes. A direção é de Felipe Joffily, de "Muita calma nessa hora" e "E aí, comeu?". "Não queríamos que fosse um programa esticado. A entrada do Felipe trouxe um olhar de cinema, mas a presença do Márcio ajuda a manter o DNA da série", ensina Marcius.

Vertente que, em breve, deve ser explorada pela equipe de "Tapas & beijos", que vai ao às terças-feiras na Globo . Vontade não falta, garante o diretor Mauricio Farias: "O grupo de artistas que faz o programa está animado com a ideia. Esse desejo é o único indicador que conheço para que qualquer trabalho seja realizado".

Autor da série, Claudio Paiva ainda não teve tempo para pensar no roteiro: "O espectador pode ver "Tapas & beijos" de graça e sem sair de casa. Para levá-lo ao cinema, temos que oferecer algo novo".

Sucessos Isso dá um filme...

Embora não sejam necessariamente bons programas de TV que virem filmaços, o público parece aprovar o trajeto. Lançado em 2003, "Os normais", derivado da série homônima estrelada por Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães, levou 2,9 milhões de espectadores ao cinema. O sucesso rendeu a sequência "Os normais 2 - A noite mais maluca de todas", seis anos depois, em 2009. A terceira parte do longa já está entre os planos do diretor José Alvarenga Jr. e dos autores Fernanda Young e Alexandre Machado.

Terceiro filme com "Os Normais" deve sair em breve

"A gente tem um pré-roteiro escrito, e a história é incrível porque é um falso documentário sobre o que aconteceu com Rui e Vani. Então temos 50 milhões de versões, a linguagem é de documentário e é bem sacado. A questão é conciliar o tempo de todo mundo", adianta Alvarenga.

Foi Alvarenga que também levou o programa "Cilada" para o cinema com "Cilada.com", que deu certo. O filme, de 2011, angariou quase 3 milhões de espectadores. As situações já vividas por Bruno Mazzeo nas seis temporadas da série do Multishow foram esquecidas, e o roteiro, que parte da mesma premissa, priorizou uma história romântica, pouco vista nos 53 episódios.

Segundo Bruno Mazzeo , o desejo de levar seu "Cilada" para a TV era antigo. E ganhou força após a produção de "Muita calma nessa hora" (que ganhará continuação com estreia no fim do ano), também de sua autoria. Porém, a sequência não está nos planos do ator/autor: "Filme baseado em seriado, acredito, deve ter algum diferencial. Nem que seja um antes e depois".

De 2007, "A grande família - O filme" foi a segunda maior bilheteria daquele ano, perdendo apenas para "Tropa de elite". Com roteiro de Claudio Paiva e direção de Mauricio Farias - dupla também por trás de "Tapas & beijos" -, a produção mantém os mesmos personagens do seriado, no ar há 12 anos no ar.

Se "Os normais", "A grande família" e "Cilada" são exemplos bem-sucedidos dessa transição, assim como "Giovanni Improtta", baseado no bicheiro da novela "Senhora do Destino" (2009), lançado no início do ano, não caiu em mãos desconhecidas. O longa foi dirigido pelo próprio Wilker, que também estrela a produção.

Mas a estreia de "Seus problemas acabaram!!!", da trupe do Casseta & Planeta, não teve o mesmo êxito. Apesar da credibilidade dos anos a fio na grade da Globo, o longa dirigido por José Lavigne e exibido em 2006 não agradou ao público. "O filme trazia esquetes e não dramaturgia. Acho que faltou uma linguagem mais parecida com a do cinema", reforça Paulo Sérgio Almeida, diretor do site "Filme B" .

NATALIA CASTRO
AGÊNCIA O GLOBO

Nenhum comentário:

Postar um comentário