segunda-feira, 6 de maio de 2013

Irrigação aposta no cultivo de itens orgânicos


Perímetro de Tabuleiro de Russas investe em produtos procurados por quem opta por alimentos sadios
Russas. Produtores do Perímetro Irrigado Tabuleiro de Russas superam as dificuldades e estão tendo êxito com a agricultura orgânica. A produção sustentável é uma tendência mundial diante dos malefícios causados pelos agrotóxicos à saúde do homem. Mesmo com a resistência de parte da sociedade e a falta de políticas mais efetivas que estimulem e consolidem a produção sustentável, os produtos têm sido bem comercializados no mercado regional.

A acerola está com um preço bom, segundo os agricultores, que vendem o quilo a R$ 1,30. Uma caixa de 23 quilos sai a um preço de R$ 34,00. Eles acham que a difusão do produto irá valorizar ainda mais o setor agrícola FOTOS: ELLEN FREITAS
O presidente da Associação de Produtores de Orgânicos do Tabuleiro de Russas (Optar Orgânicos), Claudio Moreira, conta que os produtores se animaram diante das primeiras experiências com a cultura.
Há três anos, alguns pequenos irrigantes incrementaram sua produção com a agricultura orgânica, pouco difundida na região e já obtiveram bons resultados, visto que o mercado vem procurando cada vez mais esses produtos.

"Não é um alimento orgânico somente porque não se usa agrotóxico. A agricultura orgânica é, na verdade, um estilo de vida, tanto para quem consome quanto para quem produz. É uma cultura de sustentabilidade que chega até a mesa das pessoas e envolve famílias e meio ambiente, todos convivendo de forma harmoniosa", explica.
Para levar informação aos produtores afim de organizar a produção, há dois anos foi criada a Optar Orgânicos, através de parceria com o Sebrae. Com o intuito de conscientizar os produtores sobre a temática e adequar a produção de orgânicos às novas exigências, a associação tem atingido seus primeiros resultados.
"Dizer que um alimento é orgânico não é só deixar de colocar agrotóxico, tem toda uma exigência como a relação do trabalhador com a produção, não é permitida a utilização do trabalho infantil, o uso consciente dos recursos naturais, do solo, da água. O trabalho é baseado em ética e sustentabilidade", enfatiza Cláudio.

Lotes
Atualmente no Tabuleiro de Russas 17 lotes estão produzindo alimentos orgânicos. Dentre as culturas cultivadas estão a acerola (sendo o principal produto), banana, goiaba, mamão, melancia, abóbora, macaxeira, batata doce e feijão. Uma boa parte da área está reservada a produção de acerola orgânica.

"A nossa acerola é muito procurada, estamos comercializando em média 10.000 kg de acerola por mês, principalmente aqui na região. O produto vai principalmente para casas que processam a fruta para fazer poupa", afirmou Moreira.

De acordo com o produtor José Edis, mais conhecido como Dedé, mesmo com a crescente procura tem sido difícil comercializar a acerola como produto orgânico. Lembra que há certa resistência dos compradores. "Infelizmente mesmo produzindo um alimento orgânico, ele é vendido como convencional. Então as pessoas que compram não sabem que esse alimento é orgânico", lamenta. Segundo ele, devido à burocracia e à legislação mais rígida com relação aos produtos orgânicos, algumas fábricas processadoras de frutas preferem não se adequar e assim permanecem vendendo o produto como convencional.

A associação possui o selo IBD orgânico, onde permite que os produtos sejam comercializados no país e na Europa. Mas devido a pouco produção só é possível atender o mercado local.

Dedé cultiva em seus 8.5 hectares macaxeira e batata doce. Quatro hectares de seu terreno são destinados para a macaxeira e para a acerola, que estão com preços mais valorizados no mercado. "Hoje é uma procura muito grande por farinha de mandioca, com a baixa produção o quilo está chegando há R$ 7,00. A acerola esta com um preço bom, nós vendemos o quilo a R$ 1,30. Uma caixa de 23 quilos sai daqui a um preço de R$ 34,00" comemora o agricultor.

Claudio conta que produzir alimentos orgânicos é mais barato do que o convencional, porque tudo que é utilizado como adubo e pesticida, é encontrado na própria natureza.

"O custo com bioadubação e inseticidas naturais é praticamente o que se gasta com o deslocamento. Nós utilizamos os mais diversos materiais para a nossa produção como folhas de poda de árvores, miolo de mamona (resultante do processamento para retirada o óleo), cinza de madeiras de cajueiro, muito utilizada como combustível para os fornos de cerâmica, enfim, tudo o que geralmente é jogado fora nós transformamos em adubo e inseticida na plantação", explica o produtor.

O que tem faltado, de acordo com Claudio, é um incentivo para produção. "Seria muito mais cômodo para nós chegarmos em um lugar onde pudéssemos encontrar tudo o que precisamos, assim como na produção convencional, mas tudo é feito por nós. Cada vez mais as pessoas estão necessitando de alimentos mais saudáveis e os produtores só necessitam de apoio. Os alimentos orgânicos não vão substituir os convencionais, mas é preciso que haja incentivo para esse tipo de produção", explica.

Pesquisa
Em pesquisa divulgada pelo Diário do Nordeste, em 24 de maio do ano passado, constatou-se que produtos orgânicos vendidos em estabelecimentos comerciais de Fortaleza estavam isentos de qualquer contaminação por agrotóxicos. Pelo menos foi o resultado da pesquisa exclusiva feita pela Fundação do Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec), solicitada pelo jornal. A avaliação focou amostras de pimentão, alface, tomate, pepino e bananas, que foram examinadas tendo como base ingredientes ativos em pesticidas utilizados como defensivos agrícolas. Na ocasião, a médica e professora do Departamento de Saúde Comunitária e coordenadora do Núcleo Trabalho e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Raquel Rigotto, observou que os resultados demonstraram a viabilidade do governo valorizar mais a agricultura orgânica.

Raquel lembrou que a alimentação convencional, susceptível ao uso dos pesticidas, são danosos tanto para o consumidor, quanto para os trabalhadores rurais. Os estudos comprovam a relação de incidência de casos de cânceres, além dos danos para o meio ambiente, com a contaminação do solo.

Vantagens
17 lotes estão produzindo alimentos orgânicos. Dentre as culturas cultivadas estão a acerola banana, goiaba, mamão e feijão.

R$ 7 é o preço do quilo da farinha orgânica, representando em vantagens econômicas consideráveis para o irrigante.

Mais informações
Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA)
Comitê Copa Orgânicos
Telefone: (85) 3101 8004
http://www.sda.ce.gov.br

Copa do Mundo propicia incentivo
Russas. Produtores de orgânicos terão acesso a linhas de crédito para serem fornecedores para a Copa do Mundo. Entre os clientes estão hotéis, restaurantes e supermercados, durante a Copa das Confederações neste ano e para a Copa do Mundo Fifa, em 2014. os recursos sairão do Fundo Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Fedaf ou do Pronaf, para que produtores rurais no Ceará ampliem a sua produção.

Os orgânicos são mais saudáveis e livres de agrotóxicos e demais produtos químicos, daí o interesse na comercialização direto do produtor. O interesse deverá se expandir durante o evento internacional que acontecerá no Ceará
A notícia, dada após reunião entre o Comitê da Copa Orgânico e representante de associações de agricultores familiares, realizada no mês de fevereiro, animou os pequenos irrigantes do Perímetro Irrigado Tabuleiro de Russas, que veem como uma grande oportunidade o fornecimento de alimentos para a Copa. De acordo com o presidente da Optar Orgânicos, Claudio Moreira, desde o ano passado há essa discussão da participação de produtos orgânicos oriundos da agricultura familiar no cardápio de atletas e turista no período dos jogos.

"Nós ficamos empolgados com a possibilidade de sermos fornecedores desse grande evento, mas até agora ainda não está muito claro para nós como será realizada essa parceria e se podemos efetivamente participar dela", afirma Moreira.

A Associação dos Produtores de Orgânicos do Tabuleiro de Russas possui o selo de produto orgânico que permite sua venda para fora do país. Porém, como a produção ainda é pequena, tudo o que é produzido abastece basicamente o mercado interno. Há uma série de exigências para que os produtores possuam este selo, envolvendo desde os impactos ao meio ambiente, as qualidades do alimento e envolvimento da comunidade na produção.

De acordo com o secretário adjunto do Desenvolvimento Agrário e coordenador do Comitê Copa Orgânica no Estado, Antônio Amorim, é preciso que os produtores de orgânicos identifiquem sua capacidade de produção e sua produção atual, além de informarem os negócios que estão sendo feitos com os produtos. Ainda segundo ele, a busca por linhas de crédito para aumento da produção para o evento valoriza e fortalece a agricultura familiar do Estado. "Esses dois eventos vão exigir produtos de qualidade e nós temos uma excelente oportunidade para valorizar a agricultura familiar", afirmou Amorim. Os produtores que já possuem certificação terão acesso às linhas de crédito.

Os produtos orgânicos são mais saudáveis e livres de agrotóxicos e demais produtos químicos. A atividade produtiva é em equilíbrio com o meio ambiente, evitando a contaminação do solo, água e vegetação. Os adubos e inseticidas usados nas plantações também são orgânicos e os custos para a produção são baixos. Moura complementa que tudo é retirado da própria natureza, e em outros casos reaproveitando materiais orgânicos descartados.

"Nós utilizamos na nossa produção muito do que é jogado fora então isso deixa nossa produção barata e diante do aumento da procura o produto fica mais valorizado", comemora.

A SDA vem se reunindo com produtores para estimular a produção em larga escala de produtos orgânicos. O intuito é incentivar a produção não somente para os eventos esportivos, mas para fortalecer a cultura no estado. Atualmente o número de produtores orgânicos com registro e cultivo protegido ainda é pequeno. Há cerca de 150 no Estado.

Parcerias
Amorim explica que a grande dificuldade para os produtores são os custos para a certificação orgânica, onde muitos não conseguem custear.

"A SDA possui uma política de fazer a certificação orgânica coletiva, mas ela não serve para exportação. Essa certificação só é utilizada para o mercado interno. Então a dificuldade dos custos faz com que não tenhamos um número maior de produtores de orgânicos com certificação", explica.

Para a Copa das Confederações, Amorim afirma que haverá a limitação com relação a alguns produtos, mas para a Copa do Mundo a situação será diferente. "Nós temos que ter uma programação de no mínimo um ano pra checar determinados produtos. Na parte de fruticultura nós já conseguimos formar as parcerias", disse.

ELLEN FREITASCOLABORADORA

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