Apesar dos bons índices, a recusa na doação ainda chega a 45% no Ceará, e fila de espera acumula 615 pacientes
Na certidão, já são 54 anos. Mas, para o advogado Divanilson Luiz de Melo, a vida renasceu há apenas dez dias, quando ele recebeu um fígado novo. Entretanto, a alegria dele não é única: foram 31 procedimentos desse tipo só no primeiro trimestre deste ano; índice de 20,4 transplantes por milhão de habitante, deixando, então, para trás Distrito Federal (17,1) e São Paulo (15,1). O Estado também é recorde nas cirurgias de pâncreas, índice de 3,3, conforme ranking divulgado pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).Entre janeiro e março, já foram contabilizados 43 doadores efetivos de um total de 125 notificações. Ceará é hoje o terceiro Estado com maior número de doações de órgãos por milhão da população (20,04), perdendo apenas para Santa Catarina (21,1) e Distrito Federal (28,0). Apesar das boas notícias, as doações poderiam, sim, ser maiores; a taxa de recusa, hoje, ainda é bem alta, de 45% (38 pessoas). Atualmente, a lista de espera para quem precisa de um órgão é de 615 pacientes, 145 aguardando fígado e um por pâncreas.
Milagre
"Eu podia estar morto se não tivesse aparecido alguém para me ajudar, para me doar um órgão. Agradeço muito pela nova vida que tenho. Agora, quero só curtir e torcer para que mais gente vire doador", afirma, emocionado, o advogado Luiz de Melo.
Morador de Natal, viveu por dois anos a sina de espera por um fígado bom. Uma hepatite C lhe trouxe dor, aflição. Agora, se recupera, espera voltar à rotina.
A cirurgia de Luiz Melo ocorreu no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), em Fortaleza. A unidade tem muito o que comemorar: realizou o maior número de transplantes de fígado no Brasil neste primeiro trimestre, com 31 procedimentos. Ficando à frente, pela primeira vez, por exemplo, de hospitais grandes e também tradicionais, como o Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Até ontem, o HUWC tinha fechado a marca de 50 cirurgias exitosas. O Walter Cantídio já liderava o ranking entre centros públicos.
E a vitória é sentida por todos, inclusive pelo atual chefe do Serviço de Transplante Hepático do HUWC, Huygens Garcia. "Essa é a primeira vez em que um hospital do Norte-Nordeste assume a liderança nacional, ultrapassando inclusive as instituições privadas importantes. Isso se deve a uma série de fatores, entre eles, compromisso da população em doar, dedicação das equipes técnicas e da Central de Transplantes", detalha Huygens Garcia.
Para ele, a transparência nos processos, as campanhas publicitárias ajudaram muito a derrubar antigos tabus e desconfianças. "Todo esse trabalho está se revertendo em números, nessas lideranças de ranking e nas vidas salvas", celebra o médico.
No entanto, a quantidade de transplantes podia ser maior. Segundo ele, cerca de 30% ainda barram o procedimento. "Seria, então, um terço a mais de cirurgias que podíamos realizar. Nosso desafio agora é crescer".
A coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, concorda com o médico Garcia. Há um entrave ainda muito grande, segundo ela, nas subnotificações. "Podemos melhorar mais essa taxa de identificação, de potenciais doadores. A negativa familiar ainda é bem alta, mas a taxa vem caindo, sim", relata Eliana.
Até a primeira quinzena de maio, já são 99 transplantes de rim, oito de rim/pâncreas, 10 de coração, 66 de fígado, dois de pulmão, 14 de medula óssea, 208 de córnea, sete de esclera e um de osso, totalizando 415.
Doe de Coração
Os números do Ceará decorrem também da ação da Campanha Doe de Coração, da Fundação Edson Queiroz com apoio do Sistema Verdes Mares e parceria da Universidade de Fortaleza (Unifor). Em 2008, o movimento foi reconhecido nacionalmente pela ABTO, recebendo o Prêmio Amigo do Doador concedido à Fundação Edson Queiroz.
IVNA GIRÃO
REPÓRTER
Na certidão, já são 54 anos. Mas, para o advogado Divanilson Luiz de Melo, a vida renasceu há apenas dez dias, quando ele recebeu um fígado novo. Entretanto, a alegria dele não é única: foram 31 procedimentos desse tipo só no primeiro trimestre deste ano; índice de 20,4 transplantes por milhão de habitante, deixando, então, para trás Distrito Federal (17,1) e São Paulo (15,1). O Estado também é recorde nas cirurgias de pâncreas, índice de 3,3, conforme ranking divulgado pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).Entre janeiro e março, já foram contabilizados 43 doadores efetivos de um total de 125 notificações. Ceará é hoje o terceiro Estado com maior número de doações de órgãos por milhão da população (20,04), perdendo apenas para Santa Catarina (21,1) e Distrito Federal (28,0). Apesar das boas notícias, as doações poderiam, sim, ser maiores; a taxa de recusa, hoje, ainda é bem alta, de 45% (38 pessoas). Atualmente, a lista de espera para quem precisa de um órgão é de 615 pacientes, 145 aguardando fígado e um por pâncreas.
Milagre
"Eu podia estar morto se não tivesse aparecido alguém para me ajudar, para me doar um órgão. Agradeço muito pela nova vida que tenho. Agora, quero só curtir e torcer para que mais gente vire doador", afirma, emocionado, o advogado Luiz de Melo.
Morador de Natal, viveu por dois anos a sina de espera por um fígado bom. Uma hepatite C lhe trouxe dor, aflição. Agora, se recupera, espera voltar à rotina.
A cirurgia de Luiz Melo ocorreu no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), em Fortaleza. A unidade tem muito o que comemorar: realizou o maior número de transplantes de fígado no Brasil neste primeiro trimestre, com 31 procedimentos. Ficando à frente, pela primeira vez, por exemplo, de hospitais grandes e também tradicionais, como o Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Até ontem, o HUWC tinha fechado a marca de 50 cirurgias exitosas. O Walter Cantídio já liderava o ranking entre centros públicos.
E a vitória é sentida por todos, inclusive pelo atual chefe do Serviço de Transplante Hepático do HUWC, Huygens Garcia. "Essa é a primeira vez em que um hospital do Norte-Nordeste assume a liderança nacional, ultrapassando inclusive as instituições privadas importantes. Isso se deve a uma série de fatores, entre eles, compromisso da população em doar, dedicação das equipes técnicas e da Central de Transplantes", detalha Huygens Garcia.
Para ele, a transparência nos processos, as campanhas publicitárias ajudaram muito a derrubar antigos tabus e desconfianças. "Todo esse trabalho está se revertendo em números, nessas lideranças de ranking e nas vidas salvas", celebra o médico.
No entanto, a quantidade de transplantes podia ser maior. Segundo ele, cerca de 30% ainda barram o procedimento. "Seria, então, um terço a mais de cirurgias que podíamos realizar. Nosso desafio agora é crescer".
A coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, concorda com o médico Garcia. Há um entrave ainda muito grande, segundo ela, nas subnotificações. "Podemos melhorar mais essa taxa de identificação, de potenciais doadores. A negativa familiar ainda é bem alta, mas a taxa vem caindo, sim", relata Eliana.
Até a primeira quinzena de maio, já são 99 transplantes de rim, oito de rim/pâncreas, 10 de coração, 66 de fígado, dois de pulmão, 14 de medula óssea, 208 de córnea, sete de esclera e um de osso, totalizando 415.
Doe de Coração
Os números do Ceará decorrem também da ação da Campanha Doe de Coração, da Fundação Edson Queiroz com apoio do Sistema Verdes Mares e parceria da Universidade de Fortaleza (Unifor). Em 2008, o movimento foi reconhecido nacionalmente pela ABTO, recebendo o Prêmio Amigo do Doador concedido à Fundação Edson Queiroz.
IVNA GIRÃO
REPÓRTER
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