quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Clube Náutico publica edital de arrendamento

A ideia é vista como a única saída para sanar dívida milionária. O valor da oferta mínima é de R$ 790 milhões
Fundado em julho de 1929, o Náutico Atlético Cearense foi e ainda é palco de festas da sociedade fortalezense, além de abrigar e contribuir para a formação de centenas de atletas locais. Porém, apesar do glamour e da estrutura imponente que serve, muitas vezes, como referência na cidade, o clube publicou, ontem, um edital de licitação para arrendamento de até 10.361 metros quadrados de uma área total de 21 mil metros quadrados. O motivo: uma dívida tributária de R$ 19 milhões.
A licitação é para o arrendamento de até 10.361 metros
 quadrados de uma área total de 21 mil metros quadrados
 do Clube Náutico Foto: Natinho Rodrigues



O valor da oferta mínima é de R$ 790 milhões, a ser paga em um prazo de 80 anos. A data de entrega dos envelopes é até o dia 16 de abril e podem participar pessoas físicas e jurídicas que se enquadrem nos requisitos do edital. O dia da decisão ainda deve ser marcado. A ideia de arrendar o local, segundo o presidente do Conselho Deliberativo do clube, Meton Vasconcelos, se deu porque é “a única saída para sanar as finanças e evitar que o clube fosse a leilão”.

No local deve ser erguido um empreendimento que possa gerar receita para o Náutico, como um shopping center, restaurante, hotel, por exemplo. Porém, estão descartadas opções como hospital ou condomínio.

Débito
Segundo Meton Vasconcelos, o clube, hoje, acumula dívidas com três tributos. Um é com a taxa de ocupação de terreno da Marinha, outro débito é com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), relacionado ao não pagamento da taxa patronal devida à Previdência e de Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU).
A área disponível para arrendamento limita-se à parte do ginásio e estacionamento, localizada ao lado da Avenida Abolição. Dentro do clube ficarão disponíveis até duas quadras de tênis, uma de basquete e uma área do parque aquático.

Ele ressalta que um dos motivos para o acúmulo da dívida foi a diminuição no número de sócios e a inadimplência dos mesmos. “Comecei a frequentar o Náutico ainda jovem. Lá, foi uma universidade da vida, por onde passaram grande personalidades cearenses. Fui presidente por duas vezes. Agora, os tempos mudaram e os costumes também. Portanto, para não deixar essa história se perder decidimos arrendar parte do clube”.

Conforme Meton, há três anos, o clube estabeleceu acordo de refinanciamento. Mas, as parcelas que giravam em torno de R$150 mil, por mês, estavam acima das condições financeiras do clube. Segundo ele, o arrendamento também impõe certas exigências. “Nós faremos isso desde que não haja supressão de nossos equipamentos, como piscina, ginásio, quadra de tênis. Eles podem tirar, mas terão que realocá-los na área do clube”, explica.

O Náutico fez parte da vida de vários empresários e atletas. Jorge Otoch, conselheiro do clube há mais de 30 anos, lembra ter vivido momentos inesquecíveis no clube. “Frequentava todas as festas. Fui diretor geral, diretor financeiro e vice-presidente do clube por duas vezes. O Náutico foi uma escola para mim e para os meus filhos”, diz.

Ele reconhece que, com o passar dos anos, a população de Fortaleza passou a frequentar menos os clubes e, por isso, muitos foram extintos. Para que isso não aconteça, Otoch é a favor de uma nova legislação para os clubes e que esses equipamentos sejam isentos de alguns impostos. “Os clubes vão se esvaziando e as histórias deles também. Acho que alguns impostos não deveriam ser cobrados”, diz.

Luiz Teixeira de Pádua, conselheiro do Clube partilha da mesma opinião de Jorge Otoch. De acordo com ele, sem uma nova legislação, o destino é a falência de todos os clubes como esse. “Eu lamento profundamente o que está acontecendo, mas não havia outra opção e, infelizmente, temos que aceitar. Gostaria que os políticos sugerissem outra solução, pois não podemos aceitar que permaneça em nosso país uma legislação que só pune”, ressaltou.

FIQUE POR DENTRO
Acordo negociou tombamento de parte do clube
Há três anos, o clube estabeleceu acordo de refinanciamento com a Advocacia Geral da União (AGU), que implicou a venda de um terreno do clube na Avenida Abolição, que não fazia parte do corpo do Náutico e de uma outra propriedade na Avenida Desembargador Moreira, ainda em processo de negociação. O produto da venda destes terrenos está sendo destinado ao programa de refinanciamento dos valores inadimplentes com a União.

Em 2006, o Fundo Estadual de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcet) realizou um trabalho para tombar o clube e ficou definido que seria tombada somente a frente do clube, prédio na esquina entre as avenidas Abolição e a Desembargador Moreira, projetado pelo arquiteto Emilio Hinko. Depois, a Prefeitura quis tombar todo o clube, o Náutico entrou com uma ação ordinária para anulação do tombamento e, em 2012, foi feito um acordo que só a parte da frente seria tombada.

Karla Camila
Repórter

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