segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Pacientes do Interior buscam a Capital para lutar contra o câncer

Neste ano, 66% dos casos de câncer no Ceará foram diagnosticados no Interior, mas falta tratamento
O Crio atende a uma demanda de 9.500 pacientes por mês Foto: Natasha Mota
De repente, você descobre que pode estar com uma doença grave, mas o seu município não oferece nem os exames para o diagnóstico oficial, muito menos os tratamentos. Esse drama é vivido por milhares de cearenses, dependentes do Sistema Único de Saúde (SUS) que moram no Interior do Estado.

As sessões de radioterapia, por exemplo, segundo o Comitê Estadual de Controle do Câncer são ofertadas, em Fortaleza, apenas no Instituto do Câncer do Ceará (ICC), no Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio). No Interior, a modalidade terapêutica é oferecida no Hospital Santa Casa de Misericórdia, em Sobral, e Hospital São Vicente de Paulo, em Barbalha.
Diante dessa realidade, muitos pacientes saem dos municípios de origem para realizar o tratamento na Capital e enfrentam a falta de acolhimento, fila de espera para biópsia, dias em corredores de hospitais, além do desgate físico e emocional.

E, segundo o oncologista Luiz Porto, presidente da Sociedade Cearense de Oncologia e coordenador do Comitê Estadual de Controle do Câncer, a demanda de pacientes com câncer só aumenta no Ceará. Neste ano, a expectativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) foi de 8.330 novos casos de câncer no Estado. Destes, 5.530 no Interior o que corresponde a 66% do total dos casos.

Diagnóstico

O resultado da grande quantidade de pacientes com câncer na Capital é a superlotação das unidades de tratamento e a dificuldade na realização dos exames. Suely Kubrusly, coordenadora do Crio, afirma que entre vários desafios o mais difícil de enfrentar é a fila por uma biópsia.

Segundo ela, a carência de centros de diagnóstico e a o baixo valor pago pelo SUS para unidades credenciadas obriga, muitas vezes, que o Crio chegue a pagar a biópsia particular do paciente que chega do Interior.

A falta de organização e direcionamento desses municípios gera desespero em alguns pacientes que preferem burlar a burocracia e se cadastram na casa de parentes em Fortaleza como moradores da Capital. A afirmação é do superintendente clínico do ICC, Reginaldo Costa.

Para sanar essa situação o titular da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Arruda Bastos, promete que a partir do próximo ano as oito policlínicas instaladas no Interior do Estado irão realizar exames e biópsias complexas da doença. OPINIÃO DO ESPECIALISTA
As falhas do sistema de saúde
Aline Mayra
Enfermeira
Não há dúvidas de que nas últimas décadas, o câncer ganhou uma grande dimensão, transformando-se em um evidente problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Infelizmente, a rede de atenção oncológica não está suficientemente estruturada para possibilitar aos pacientes oncológicos acesso tempestivo e equitativo ao diagnóstico ´e ao tratamento de câncer, isso se confirma ao observarmos o tempo médio de espera entre a data do diagnóstico e o início dos tratamentos de quimioterapia e radioterapia, que é de cerca de 76,3 e 113,4 dias, respectivamente, de acordo com a Política Nacional de Atenção Oncológica (2011).

O grande entrave desta questão é que a atual rede para atenção ao paciente com câncer está localizada nos grandes centros, o que dificulta muito o acesso de pessoas que residem em regiões mais afastadas, tornando as consultas, exames e, principalmente, o diagnóstico precoce muito mais difícil e fazendo com que grande parte destes pacientes já chegue ao serviço em estágios avançados da doença.

Diante desta realidade, muitos pacientes necessitam sair de seus municípios em busca do tratamento especializado, o que agrava ainda mais o enfrentamento da doença, além do desgaste físico, financeiro e emocional.

Nesse contexto, para que esses pacientes possam realizar o tratamento com tranquilidade e dignidade, as casas de apoio são equipamentos de fundamentais para acolher essas pessoas que vivem uma situação de grande vulnerabilidade emocional e física.
KARLA CAMILAREPÓRTER

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