Neste ano, 66% dos casos de câncer no Ceará foram diagnosticados no Interior, mas falta tratamento
O Crio atende a uma demanda de 9.500 pacientes por mês Foto: Natasha Mota |
De
repente, você descobre que pode estar com uma doença grave, mas o seu
município não oferece nem os exames para o diagnóstico oficial, muito
menos os tratamentos. Esse drama é vivido por milhares de cearenses,
dependentes do Sistema Único de Saúde (SUS) que moram no Interior do
Estado.
As sessões de radioterapia, por exemplo, segundo o
Comitê Estadual de Controle do Câncer são ofertadas, em Fortaleza,
apenas no Instituto do Câncer do Ceará (ICC), no Centro Regional
Integrado de Oncologia (Crio). No Interior, a modalidade terapêutica é
oferecida no Hospital Santa Casa de Misericórdia, em Sobral, e Hospital
São Vicente de Paulo, em Barbalha.
Diante dessa realidade,
muitos pacientes saem dos municípios de origem para realizar o
tratamento na Capital e enfrentam a falta de acolhimento, fila de
espera para biópsia, dias em corredores de hospitais, além do desgate
físico e emocional.
E, segundo o oncologista Luiz Porto,
presidente da Sociedade Cearense de Oncologia e coordenador do Comitê
Estadual de Controle do Câncer, a demanda de pacientes com câncer só
aumenta no Ceará. Neste ano, a expectativa do Instituto Nacional do
Câncer (Inca) foi de 8.330 novos casos de câncer no Estado. Destes,
5.530 no Interior o que corresponde a 66% do total dos casos.
Diagnóstico
O
resultado da grande quantidade de pacientes com câncer na Capital é a
superlotação das unidades de tratamento e a dificuldade na realização
dos exames. Suely Kubrusly, coordenadora do Crio, afirma que entre
vários desafios o mais difícil de enfrentar é a fila por uma biópsia.
Segundo
ela, a carência de centros de diagnóstico e a o baixo valor pago pelo
SUS para unidades credenciadas obriga, muitas vezes, que o Crio chegue
a pagar a biópsia particular do paciente que chega do Interior.
A
falta de organização e direcionamento desses municípios gera desespero
em alguns pacientes que preferem burlar a burocracia e se cadastram na
casa de parentes em Fortaleza como moradores da Capital. A afirmação é
do superintendente clínico do ICC, Reginaldo Costa.
Para sanar
essa situação o titular da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Arruda
Bastos, promete que a partir do próximo ano as oito policlínicas
instaladas no Interior do Estado irão realizar exames e biópsias
complexas da doença. OPINIÃO DO ESPECIALISTA
As falhas do sistema de saúde
Aline Mayra
Enfermeira
Enfermeira
Não
há dúvidas de que nas últimas décadas, o câncer ganhou uma grande
dimensão, transformando-se em um evidente problema de saúde pública no
Brasil e no mundo. Infelizmente, a rede de atenção oncológica não está
suficientemente estruturada para possibilitar aos pacientes oncológicos
acesso tempestivo e equitativo ao diagnóstico ´e ao tratamento de
câncer, isso se confirma ao observarmos o tempo médio de espera entre a
data do diagnóstico e o início dos tratamentos de quimioterapia e
radioterapia, que é de cerca de 76,3 e 113,4 dias, respectivamente, de
acordo com a Política Nacional de Atenção Oncológica (2011).
O
grande entrave desta questão é que a atual rede para atenção ao
paciente com câncer está localizada nos grandes centros, o que
dificulta muito o acesso de pessoas que residem em regiões mais
afastadas, tornando as consultas, exames e, principalmente, o
diagnóstico precoce muito mais difícil e fazendo com que grande parte
destes pacientes já chegue ao serviço em estágios avançados da doença.
Diante
desta realidade, muitos pacientes necessitam sair de seus municípios em
busca do tratamento especializado, o que agrava ainda mais o
enfrentamento da doença, além do desgaste físico, financeiro e
emocional.
Nesse contexto, para que esses pacientes possam
realizar o tratamento com tranquilidade e dignidade, as casas de apoio
são equipamentos de fundamentais para acolher essas pessoas que vivem
uma situação de grande vulnerabilidade emocional e física.
KARLA CAMILAREPÓRTER
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