terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Carnaubeira é fonte de renda para produtores no Vale do Jaguaribe

Por sua importância, a carnaúba ganha reconhecimento, inclusive, com um dia em sua homenagem
O Memorial da Carnaúba carrega os traços do costume do povo jaguaribano e aos poucos vem revitalizando sua cadeia produtiva. O objetivo é preservar e incentivar nas comunidades a manutenção da atividade FOTO: ELLEN FREITAS

Jaguaruana. A árvore que resiste à seca é fonte de renda para famílias de agricultores em boa parte do interior do Estado. Ela é de fácil plantio, resistente às mais diferentes condições do solo e clima. Sua colheita não agride o meio ambiente, uma vez que as folhas que são derrubadas nascem na safra seguinte. Aos poucos, a carnaubeira vem retomando destaque na economia de pequenos produtores e artesãos, que retiram dela seu principal meio de sobrevivência.No Ceará, existem hoje sete polos produtivos da carnaúba. Na região do Vale do Jaguaribe a árvore é cultivada em 15 municípios. Em boa parte dos polos produtivos, ainda é utilizado o método tradicional de derrubada e colheita da palha, o que requer conhecimento e muita mão-de-obra. O "vareiro" é o personagem principal do ciclo produtivo. Ele é o responsável pela derrubada da palha. Com uma vara comprida e uma foice afiada na ponta, o mestre precisa ser habilidoso para que a palha não o machuque, nem aos seus companheiros. O vareiro precisa conhecer a carnaúba para que não prejudique a safra seguinte.

O trabalho é árduo, sol a sol. Ele derruba, em média, 40 palhas por árvore, chegando a cortar cerca de 10 a 12 milheiros de palha por dia, ou seja, 300 carnaubeiras. Após a colheita, o "junteiro" transporta a palha para que ela seja estendida no chão batido para secar ao sol. Ao relento, as palhas são secas de oito a dez dias. A "derriçadeira" é usada para extrair a matéria-prima (pó), que se transforma em cera e é comercializada em várias partes do mundo.

Extrativismo
O extrativismo da cera da carnaúba tinha papel importante para a economia cearense décadas atrás. Na época, o algodão era a principal cultura agrícola do Estado, mas foi na região jaguaribana que a árvore nativa impulsionou o desenvolvimento de algumas cidades. Nas primeiras décadas do século XX, a cera correspondia a 41,3% das exportações cearenses. As cidades de Limoeiro e de Russas, bem como as Vilas de Tabuleiro, Quixeré e São João tiveram grande benefício com os investimentos nos estabelecimentos comerciais, muitos deles oriundos dos lucros da produção cerífera na região.

Segundo o historiador Hider Albuquerque, a indústria fonográfica era grande consumidora do produto nos anos de 1950, período de auge da produção da cera. O município de Russas se destacou nesse período na produção da matéria-prima e foi condecorado com o título de maior cidade exportadora da cera da carnaúba.

Foi a partir da utilização de outras matérias-primas na produção dos vinis que iniciou o declínio da produção. "A utilização do petróleo como matéria-prima de plásticos e derivados foi substituindo a cera de carnaúba, por volta dos anos de 1980 mal se tinha conhecimento da utilização da cera principalmente na produção de discos", explica Hider.

A queda, aos poucos, desvalorizou economicamente o produto, e a cultura basicamente foi restrita aos pequenos produtores. "Dos anos 2000 pra cá, tem havido uma tentativa de revitalização da produção de cera, devido à sua utilização em vários outros produtos", observa o historiador.

Dia estadual
A carnaúba tem recebido, na última década, reconhecimento de sua importância histórica e econômica para o Estado. Em setembro deste ano, a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (AL-CE), aprovou o projeto de Lei Nº 68/12, de autoria do deputado Sérgio Aguiar (PSB), que institui o Dia Estadual da Carnaúba. O decreto Nº 27.413, de 30 de março de 2004, institui a carnaubeira como árvore símbolo do Estado do Ceará.

Aos poucos, a árvore nativa, genuinamente brasileira, que escolheu principalmente o Ceará para crescer, ganha o reconhecimento e o incentivo da comunidade para preservação de sua cultura.

ELLEN FREITASCOLABORADOR

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