quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Chapada do Araripe revitaliza o abacaxi

Porteiras Uma alternativa de cultivo adequada ao clima e solo da Chapada do Araripe tem obtido a adesão dos pequenos produtores rurais. O fruto do abacaxi, quase banido das plantações na serra nos anos 70, por conta da praga da fusariose, volta com força, por meio do Programa de Revitalização.

O município de Porteiras abre um novo caminho para os agricultores que sobreviviam apenas do incipiente cultivo da mandioca, milho e feijão, nos tempos mais chuvosos. Pelo menos 16 produtores inauguram uma nova realidade e investem no cultivo orientado do fruto. Os resultados têm sido a boa lucratividade e a crescente adesão dos produtores. São mais de 200 hectares de cultivo na região, área liderada por Santana do Cariri, que chegou a ter a maior produção do Estado, décadas atrás.

Pioneiro
O gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Sérgio Linhares, atuou de forma pioneira na reintrodução do cultivo, na área marcada pela grande produtividade no passado. E a vantagem é que o fruto do Cariri possui maior qualidade. Em Porteiras, onde os produtores estão colhendo desde agosto, com período que se estende até o mês de janeiro, há frutos que chegam a mais de três quilos, além do sabor adocicado, o que caracteriza o fruto da Chapada. Em pouco mais de cinco anos, são 22 hectares de área plantada. Em Santana, são 180ha, mas o cultivo na localidade começou bem antes, no ano 2000.

São mais de 200 hectares de cultivo na Chapada do Araripe, trazendo resultados positivos para os produtores, que aderem à modalidade fotos: Elizângela Santos
A oportunidade de cultivar o produto, que exige pouca água, com financiamentos por meio Programa Nacional de Fortalecimentos da Agricultura Familiar (Pronaf), através do Banco do Nordeste e Banco do Brasil, tem sido um incentivo a mais nesse processo, além do acompanhamento técnico. As primeiras mudas cultivadas em Porteiras foram adquiridas em Santana do Cariri. Os produtores visitaram às áreas de cultivo no município pioneiro para conhecer o que para eles hoje é uma nova realidade. Alguns desses já pensam em novos investimentos de mecanização e transporte.

Ampliação
Um dos maiores produtores de Porteiras é agricultor Cícero Antônio dos Santos, conhecido por Tita. Ele decidiu investir numa pequena área na localidade do Sítio Malhada Redonda. O pequeno plantio inicial foi o grande estímulo para abrir espaço, junto com o pai e o irmão, e ampliar a plantação, que chega a 6ha e 80 mil pés de abacaxi. Hoje, ele pensa em adquirir um veículo para a venda do fruto nos supermercados e na própria Central de Abastecimento do Cariri (Ceasa). "Antes cultivava a mandioca, mas não dava lucro e acabava acomodando", diz ele. O agricultor destaca até as vantagens econômicas que envolve uma técnica simples, sem necessitar realizar queimadas de área, além de contar com poucas pessoas trabalhando.

A venda ocorre para várias cidades da Região, a exemplo da própria Porteiras, Barbalha, Jardim, Crato, Juazeiro do Norte, entre outras cidades. "Não dá para quem quer. A gente vende dentro da roça", diz Cícero. Ano passado, durante a Festa do Abacaxi, realizada à sombra de um pequizeiro na própria área de cultivo, foram vendidos 1.200 frutos. O agricultor tem obtido lucro também com a venda de mudas. Em 2011, chegou a vender cerca de R$ 8 mil, facilitando o cultivo para outros pequenos produtores da cidade.

O sucesso das primeiras experiências, segundo Sérgio Linhares, tem sido importante e chama a atenção da viabilidade do cultivo para os outros produtores. Ele acredita que, em poucos anos, a realidade da cidade possa mudar e o fruto passe a se reverter em importante fonte da economia local, chegando a ter um dos maiores cultivos da região. Outras cidades, conforme o gerente, despontam com grande potencial, como é o caso de Jardim, Barbalha, Caririaçu, Araripe e Missão Velha.

A gerente local da Ematerce, em Porteiras, Fátima Benício, afirma que dez produtores conheceram inicialmente as técnicas de cultivo de abacaxi em Santana do Cariri. Eles visitaram uma das áreas mais desenvolvidas em 2007. O incentivo para iniciar a nova cultura começou em seguida, mas alguns produtores tiveram dificuldade de se adaptar ao cultivo, por conta do solo, como foi o caso de José Roberto Araújo, do Sítio Malhada Redonda. Depois de duas tentativas fracassadas, conta atualmente com uma área de 2ha, com 30 mil pés e uma lucratividade líquida anual de R$ 21.500,00.

Uma experiência irrigada está sendo iniciada numa área de menos de 1ha. O cultivo acontece no Sítio Moreira, pelo agricultor Raimundo Cícero da Silva. A técnica da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente da cidade, Edna Cleide da Silva, comemora a nova realidade de vida dos agricultores. O que no início dependeu de uma grande dificuldade, inclusive para que as pessoas acreditassem na viabilidade, hoje ganha mercado e desponta como um novo momento da agricultura da pequena cidade.

Com o trabalho orientado, o controle da fusariose, doença que danifica a polpa do fruto, passa a ser feito com mudas sadias e a eliminação das plantas doentes. Com a técnica e os cuidados devidos, o cultivo do fruto da família das bromeliáceas resiste com mais vigor que a cultura de sequeiro na serra, dando sinal de uma nova realidade ao pequeno agricultor.

ELIZÂNGELA SANTOSREPÓRTER

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