segunda-feira, 16 de julho de 2012

Mulheres têm dificuldade para ingressar na vida pública

Após dois mandatos de Luizianne Lins, não foi apresentada nenhuma candidatura feminina à Prefeitura da Capital
Há quase oito anos, Fortaleza é administrada por uma mulher. O mandato da prefeita Luizianne Lins (PT) termina no final deste ano e, para os próximos quatro anos, a cidade não terá uma mulher no seu comando. Isso porque, das dez candidaturas postas nesta eleição, nenhuma é do gênero feminino. Falta à mulher mais poder de decisão na política cearense?

Para a pós-doutora em Sociologia e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Celecina Veras, não adianta analisar a atual participação feminina na política sem levar em consideração o passado. É bastante recente a entrada da mulher na vida política do País. Celecina Veras lembra que foi apenas em 1932 que as mulheres tiveram direito de depositar seu voto nas urnas e também de colocar seus nomes à disposição dos partidos para serem candidatas.
Entretanto, somente em 1995, o Brasil teve sua primeira governadora, Roseane Sarney (PMDB), eleita no Maranhão. Além disso, somente agora, em 2010, o povo brasileiro elegeu a primeira presidenta do País, Dilma Rousseff (PT). Celecina Veras observa que o papel da mulher na política cresceu, mas não alcançou muitos patamares.

Apesar de termos uma figura feminina à frente do País, no Legislativo, por exemplo, a quantidade de mulheres eleitas é bem inferior ao número de homens. No Ceará, dos 46 deputados estaduais eleitos, seis são mulheres, enquanto que na Câmara Municipal de Fortaleza, dos 41 vereadores, apenas três são do sexo feminino.

Motivos
Uma pesquisa realizada em 2010, pela Fundação Perseu Abramo, por meio de seu Núcleo de Opinião Pública, e em parceria com o SESC, apontou que os três principais motivos de se ter menos mulheres que homens na política são: machismo, falta de interesse das mulheres em participar da política e preconceito ou discriminação.

Celecina Veras acredita que a estrutura dos partidos ainda é muito machista. De novo ela chama para o passado, analisando que sempre foi ensinado que a política era um espaço de homens e as mulheres nunca foram educadas para a disputa. À elas, observa a professora, sempre coube o ambiente privado e nunca o público. "Temos uma luta grande dentro de casa. Fomos educadas para o casamento, por isso a dificuldade de conciliar política e casamento, política e filhos", considera.

Mas a pesquisa revela outros dados curiosos, de que 70% das mulheres e 49% dos homens concordam que a política seria melhor se tivessem mais mulheres em postos importantes. Também aponta que para 78% das mulheres e 76% dos homens, as mulheres estão preparadas para governar o País, os estados e as cidades.

Conforme a professora, a pesquisa mostra que houve um crescimento da importância da participação feminina na política e a importância da política na vida das mulheres. Um dado positivo da pesquisa, atesta, é o fato de estar aumentando o número de mulheres que estão passando a confiar na capacidade feminina para a política, pois antes, esclarece Celecina Veras, era grande o índice de rejeição das mulheres em relação às candidaturas femininas.

No início da matéria, a professora informou que a primeira governadora do País só foi eleita em 1995. Sem dúvida é um marco para as mulheres, mas há de se perceber que o vínculo político entre a imagem de Roseana Sarney e do pai, José Sarney (PMDB), era e ainda é bem forte, atenta Celecina Veras.

Não que isso seja uma regra, de que as mulheres que conquistam espaços importantes na política só conseguiram porque tiveram ao lado a figura masculina seja do pai, do marido ou do filho. Luizianne Lins, destaca a professora, é uma prova de que as mulheres podem, sozinhas, obter sucesso no meio político.

A deputada Eliane Novais (PSB) garante, mesmo que não tivesse ao lado do irmão, Sérgio Novais (PMDB), teria conseguido chegar onde chegou. Ela reconhece que o respeito e a confiança que os eleitores têm pelo irmão são transferidos para ela, mas deixa claro que sua vitória nas urnas só foi possível porque ela nunca mudou o discurso e continua a defender os mesmos princípios desde quando participava dos movimentos sindicais e integrava a diretoria colegiada do Mova-se, o sindicato dos servidores do Estado.

Cultural
Para a parlamentar, o fato da política brasileira ainda ter uma participação muito tímida da mulher é uma questão cultural. "Ao longo da história, nunca tivemos oportunidades", salienta. Um exemplo disso, aponta a parlamentar, é o fato do Legislativo cearense não ter, em sua Mesa Diretora, uma figura feminina. Se depender da deputada, isso vai mudar.

Além das Mesas Diretoras dos Legislativos, há outros espaços na política que as mulheres ainda tem de lutar para garantir vez e voz. É o caso das executivas e diretórios partidários. Por enquanto, alguns partidos colocam como obrigatória a participação da mulher em suas diretorias, enquanto isso deveria ocorrer de maneira natural.

No entendimento da deputada Rachel Marques (PT), isso já é um avanço. Ela acredita que, por hora, os partidos devam sim obrigar um percentual de mulheres em suas executivas e diretórios, para no futuro essa organização de poder nas legendas, entre homens e mulheres, ocorrer de forma natural.

A vereadora Eliana Gomes (PCdoB) entrou na política a partir de sua participação na presidência da Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza e já tem 25 anos de filiação ao PCdoB. Está em seu primeiro mandato de vereadora e vai tentar a reeleição, com dificuldade, afirma.

Para a mulher, admite, é bem mais delicado garantir financiamento para a campanha além de outro detalhe, a dupla jornada da mulher que, ao chegar em casa, ainda tem de se dedicar aos filhos e ao marido.

A deputada Patrícia Saboya (PDT), eleita a primeira senadora do Ceará, em 2002, concorda que a política ainda é um espaço majoritariamente masculino e acrescenta que a sociedade ainda é bastante machista. Mas, para ela, isso não impede das mulheres participarem da política.

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