Crianças que sofrem agressões têm mais chances de adotar a violência para resolver conflitos quando adulto
São Paulo Você apanhou quando criança? De que forma essa forma de punição o marcou? E hoje, você costuma bater em seus filhos? É preciso estar atento aos excessos, pois a exposição à violência durante a infância pode trazer consequências para a vida adulta. É o que aponta estudo realizado pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com a pesquisa, quem sofre agressões quando criança tem mais chances de adotar a violência como principal mecanismo de solução de conflitos quando adulto.
"A criança entende que a violência é uma opção legítima e vai usá-la quando tiver um conflito com colegas da escola, por exemplo. Entretanto, ao agredir, ela também pode sofrer agressão e se tornar vítima. E isso cresce de forma exponencial ao longo da vida", destaca Nancy Cardia, vice-coordenadora do NEV. Os pesquisadores entrevistaram quatro mil pessoas maiores de 16 anos de idade, moradoras de 11 capitais brasileiras - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife, Belém, Manaus, Porto Velho, Fortaleza e Goiânia.A pesquisa foi realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), em 2010. Conforme os resultados, mais de 70% dos entrevistados apanharam na infância, sendo que 20% eram agredidos uma vez por semana ou mais.
Educação
O estudo aponta também o aumento das chances de a pessoa reproduzir a violência sofrida no passado contra os próprios filhos, como método de educação. "Isso tem a ver com o tipo de aprendizagem social. Você aprende que educar por meio da agressão física é um instrumento legítimo de educação", disse Renato Alves, pesquisador do NEV. Assim, fecha-se "um ciclo perverso do uso da força física", como definem os pesquisadores.
Os resultados mostraram que os objetos usados com frequência nas punições físicas foram: vara, cinto e pedaço de pau, ítens mais comuns que a palmada. Embora o estudo não tenha tido o objetivo de orientar as famílias sobre a criação dos filhos, o pesquisador não acredita que aplicar castigos físicos nas crianças seja o melhor método para educá-las. "Usar a punição física na educação dos filhos apresenta mais prejuízos que benefícios, tanto para a pessoa que sofre a punição quanto para a sociedade", destaca.
Renato Alves salienta, no entanto, que o fato da pessoa ter apanhado na infância não significa que será um adulto violento. "Tudo tem que ser olhado com muito cuidado, porque também tem muita influência do contexto em que a pessoa vive", pondera. De acordo com o pesquisador, o indivíduo que conhece, ao longo da vida, outros modelos de referência para lidar com conflitos pode aprender a enfrentar melhor essas situações.
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