sexta-feira, 29 de junho de 2012

CASO ZÉ MARIA: MPE apresenta denúncia contra acusados em Limoeiro


No local da morte de José Maria Filho, há uma cruz que é visitada a cada ano
 por integrantes do Movimento 21, em alusão à data do assassinato
FOTO: MELQUÍADES JR.
Ministério Público remete pedido de prisão cautelar ao Tribunal de Justiça, apontando mandantes do crime
Limoeiro do Norte Mais de dois anos após o crime e alguns meses desde que o inquérito policial foi despachado, o Ministério Público Estadual entregou denúncia à 1ªVara de Justiça acusando mandantes do crime de pistolagem contra José Maria Filho, o Zé Maria do Tomé: o empresário João Teixeira Júnior, dono da empresa agrícola Frutacor e o atual presidente da Câmara Setorial de Fruticultura do Estado do Ceará, e seu funcionário José Aldair Gomes Costa. Ambos negam qualquer envolvimento no crime e já estão acionando os meios legais para contrapor à denúncia do MP. Mais de 20 pessoas foram ouvidas no inquérito policial, que precisou de dois anos para ser entregue sem a prisão dos executores.

Por ter sido negada na Justiça prisão cautelar, o Ministério Público agora remete o pedido ao Tribunal de Justiça. José Maria Filho foi morto no dia 21 de abril de 2010, um crime com características de pistolagem e execução sumária - 25 perfurações do tórax à cabeça provocadas por ao menos 19 tiros de pistola de uso exclusivo das forças armadas e da Polícia. José Maria estava a caminho de casa quando foi surpreendido por homens em uma moto e um carro que teria dado apoio. Mesmo caído no chão, ele sofreu vários tiros à queima-roupa.


O dono da arma, Westilly Hitler Raulino Maria, 20, o "Boião", de Morada Nova, foi morto em julho de 2010 numa tentativa de homicídio de um policial militar. A pistola 40 milímetros foi recolhida pela Polícia, que até então não sabia que se tratava da mesma arma que vitimou o líder comunitário de Limoeiro. Passados mais de oito meses, o exame de balística comprovou a relação arma e munição usada no crime. Mas o possível assassino de Zé Maria estava morto. "Um atraso inadmissível e que com certeza prejudicou as investigações", afirmou o advogado, professor e vereador João Alfredo Telles, após ter ouvido do primeiro delegado do caso, Jocel Dantas, que o equipamento para o exame estava quebrado. Além de João Teixeira e Aldair Gomes, foram acusados Antônio Wellington Ferreira Lima e Francisco Lima Barros, que teriam apoiado a execução do crime conta o ambientalista.

Prioridade
O governador Cid Gomes chegou a dizer que elucidar o caso Zé Maria é uma das prioridades da polícia do Ceará. Sindicatos, ONGs, estudantes e pesquisadores reuniram-se, após a morte de Zé Maria, no Movimento 21, na tentativa de pressionar para que fosse elucidado o crime que vitimou o ambientalista. A pedido do Ministério da Justiça, a Polícia Federal no Ceará chegou a preparar um relatório sobre o caso. E a Ouvidoria Agrária Nacional acompanha os andamentos da investigação desde o ano passado, por meio do desembargador Gercino José, que ouviu pessoalmente depoimento de populares. O caso ganhou repercussão internacional. Na Europa, ONGs de seis países divulgaram moção de repúdio à impunidade no crime de pistolagem e contra a pulverização aérea e o abuso de agrotóxicos no Ceará. Para os movimentos sociais, e pessoas ouvidas na investigação policial, a pulverização aérea é um dos principais pontos que colocavam em lados opostos José Maria e João Teixeira.

Um mês após a morte do comerciante e líder comunitário, a Câmara Municipal de Limoeiro revogou uma lei proposta pela própria casa legislativa, que proibia a pulverização aérea. De acordo com depoimentos relatados nas investigações, existiria um movimento de pressão de produtores agrícolas para encerrar os discursos contrários à pulverização aérea na Chapada do Apodi.

João Teixeira Júnior é empresário do ramo agrícola. Dono da Frutacor, tendo a banana como um dos principais produtos de exportação. Sua empresa atua nos dois perímetros irrigados mais importantes do Ceará, o Jaguaribe-Apodi e o Tabuleiros de Russas, ambos na região jaguaribana. Além disso, tem boa relação com o meio político no Estado, tanto em Fortaleza como lideranças em Limoeiro. A denúncia de seu nome intrigou populares, de um lado, e foi comemorada por pessoas que aguardavam algum apontamento concreto resultante da investigação policial.

Na manhã desta sexta-feira, representantes da Rede Nacional de Advogados Populares, que representam a família de José Maria no processo judicial, estarão em Limoeiro para acompanhar o andamento da denúncia do Ministério Público na 1ªVara de Justiça.

A reportagem tentou, por cinco números telefônicos, contato com o empresário João Teixeira Júnior desde o início da manhã de ontem. Foram feitas ligações para escritórios em Russas, Limoeiro do Norte, e para o próprio celular do empresário, em que foi deixada uma mensagem em caixa postal. O retorno do empresário não ocorreu até o fechamento desta edição.

Depoimentos

20 pessoas, aproximadamente, já foram ouvidas pela Justiça como forma de depoimento no inquérito que busca identificar os mandantes do crime

Mais informações:

Mistério Público Estadual em Limoeiro do Norte
(88) 3423.6245
1ª Vara de Justiça em Limoeiro do Norte: (88)3423.1281

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