SILVANIA CLAUDINO Para devotos, formação rochosa lembra a imagem de Nossa Senhora |
A "Pedra Santa" trata-se da união de várias rochas, localizadas na Serra do Pajeú, no Distrito de Jandrangoeira, em Independência, nos sertões dos Inhamuns. Nessa região árida, são comuns as formações rochosas, as quais se espalham por vários pontos da Serra, formando figuras e fendas. Uma delas lembra a imagem de uma santa. No caso, de Nossa Senhora.
De perto, parecem mesmo simples e grandes pedras acopladas naturalmente umas às outras. Um pouco mais distante e de ângulos específicos, as pedras tomam forma semelhante à de Nossa Senhora. Daí a designação de "Pedra Santa", dada pelos antigos moradores da região, incluindo a localidade de Antônio Bento, a mais próxima da "Pedra Santa", onde Fábio residiu até os 12 anos de idade. Atualmente, apenas duas famílias vivem em Antônio Bento.
Hoje aos 33 anos, o pecuarista conta que cresceu acreditando na graça alcançada por sua mãe e que viveu sua infância brincando e ajudando o pai a cuidar dos plantios e dos animais, nas proximidades da Pedra. Sua casa era a mais próxima do local, a três quilômetros da "Santa". Desse modo, a paisagem árida, que chama a atenção pela mata branca, solo pedregoso e muitas rochas, é comum para ele, assim como a crença de que a pedra é santa.
Pedidos
José Pereira, pai de Fábio Sampaio, compartilha a ideia de que o filho resulta de um milagre. Além disso, conta, ele mesmo também alcançou uma graça. Não quis contar os detalhes do pedido, alegando ser algo muito particular, mas garante que conseguiu com a ajuda da "santa".
Pereira diz que ainda vai pagar a promessa. "Uns 15 anos atrás, fiz uma promessa junto à Pedra e fui atendido, então vou cumprir o que prometi no momento do meu pedido, que foi pintar a Pedra, para ficar branca e bem bonita", diz.
Seu José conta várias outras histórias sobre a devoção e reverência à "Pedra Santa". Os mais antigos, segundo ele, faziam promessas e alcançavam muitos milagres. "Vi muitas vezes acenderem velas lá e também as pessoas soltando fogos, tudo para agradecer por pedidos atendidos", recorda.
Ele afirma ainda que um amigo seu, morador do outro lado da Serra, também recebeu um milagre da "santa" e os dois irão pagar juntos pela graça. "Ele conseguiu que um poço furado na sua propriedade provesse água nos tempos de necessidade de água", relata.
Já a dona de casa Zeneide Gomes, atual moradora da casa em que Fábio morou na infância, também acredita no poder da "Pedra Santa". Ela mora há dois anos no local, com o esposo e uma neta. Zeneide está com um problema de saúde e diz ter pedido à "santa" para ficar boa. "Agora, estou aguardando. Sei que vou ficar curada porque acredito que ela é milagrosa. Uma imagem perfeita como essa no meio desse sertão só pode ser mesmo coisa de Deus", comenta.
Chuvas
Os pedidos mais comuns, de acordo com José Pereira e seu filho Fábio, eram alusivos ao inverno, pedindo chuvas e água para a região. A escassez de água, os problemas climáticos e a falta de políticas públicas mais atuantes desfavoreceram o Município ao longo da história.
Os pedidos mais comuns, de acordo com José Pereira e seu filho Fábio, eram alusivos ao inverno, pedindo chuvas e água para a região. A escassez de água, os problemas climáticos e a falta de políticas públicas mais atuantes desfavoreceram o Município ao longo da história.
Independência se enquadra no polígono das secas e, por muitas vezes, sofreu por esse motivo. Segundo pesquisas científicas, é um dos Municípios mais áridos e com maior índice de desertificação do Estado.
Difícil acesso ao local limita prática da fé
Independência Tanto o pecuarista Fábio Sampaio quanto seu pai e as duas famílias que residem em Antônio Bento lamentam que a devoção à santa possa diminuir ao longo do tempo. O difícil acesso desencoraja devotos e a "falta de fé dos jovens", diz seu José. Há uma estrada mais próxima para a Serra, que reduz o trajeto pela metade, mas sem condições de tráfego.
Para chegar até a formação rochosa, é preciso percorrer 40 quilômetros de estrada de terra, com muitas pedras. Ao todo, é preciso abrir e fechar dez cancelas. Além disso, é necessário andar em torno de 400 metros em um trecho cheio de pedras. A vegetação é composta de chique-chique, favela, mandacaru e malva, resistentes à sequidão.
De acordo com Fábio Sampaio, há mais de dez anos fazendeiros que possuem propriedades na Serra teriam feito pedidos sucessivos aos gestores municipais para não recuperarem as estradas, com receio de roubos de animais. Assim, o local acabou ficando isolado. A devoção se perdeu. Hoje, segundo os moradores, poucos devotos visitam a "Pedra Santa".
Crença
Para o padre Manoel Machado, da Paróquia do Município, a crença é conhecida. "Não conheço o local, mas já ouvi as pessoas falarem. Não tenho conhecimento sobre milagres ou procissões. A região é meio mística até pela própria natureza, é a mais desertificada de Independência".
Manoel Machado conta que era uma região bem povoada e, de uns 20 anos para cá, as pessoas saíram do local. Segundo ele, o distrito é tão desabitado que apenas uma festa religiosa ocorre na região, na Vila de Jandrangoeira, na Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
O Vigário Geral da Diocese de Crateús, padre João Batista, desconhece o local e a crença. Diz que "em nível de Diocese, não há conhecimento sobre a pedra milagrosa, nem sobre a crença popular". Informa que são realizados anualmente diversos encontros diocesanos e o assunto sequer foi mencionado.
Cultura
A formação rochosa foi verificada e mapeada pela Organização Não Governamental (ONG) História Viva, situada no Município. Para o coordenador, Ricardo Assis, os comentários sobre milagres existem. "Há comentários sobre os milagres e a formação rochosa é curiosa, mas não há nenhuma comprovação. Achamos que é lenda e cultura popular da própria região, que é muito deserta", atribui.
A formação rochosa foi verificada e mapeada pela Organização Não Governamental (ONG) História Viva, situada no Município. Para o coordenador, Ricardo Assis, os comentários sobre milagres existem. "Há comentários sobre os milagres e a formação rochosa é curiosa, mas não há nenhuma comprovação. Achamos que é lenda e cultura popular da própria região, que é muito deserta", atribui.
A ONG realizou o mapeamento cultural da cidade e a "Pedra Santa" faz parte do calendário cultural de Independência. "No Município, há muitas formações rochosas e rupestres, então fizemos o mapeamento em função disso", destaca Assis. (SC)
SILVANIA CLAUDINO
REPÓRTER
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