terça-feira, 26 de julho de 2011

Musical, sobretudo com João Carlos Martins

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João Carlos Martins: boa música e superação
Exemplo de superação, o pianista João Carlos Martins vem a Fortaleza, onde rege concerto solidário da Orquestra Bachiana Filarmônica, em prol da Fundação do Rim
Dos 26 aos 62 anos de idade, o pianista João Carlos Martins teve pelo menos quatro problemas graves de saúde, que afetaram seriamente suas mãos, passou por 19 operações e foi forçado a abandonar o piano três vezes - a última delas em definitivo. Atuando desde então como maestro, aos 71 anos, ele vem a Fortaleza, à frente de sua Orquestra Bachiana Filarmônica. João Carlos Martins apresenta-se amanhã e na quinta-feira, em dois concertos solidários, em prol da Fundação do Rim. As performances acontecem no Theatro José de Alencar. Apenas o concerto da quinta é aberto ao público.
A trajetória do músico é de deixar qualquer um impressionado com sua paixão e disciplina para seguir em sua atribulada, mas vitoriosa, dedicação à música. Prodígio, ele começou no piano aos 8 anos, incentivado pelo pai, que teve o sonho de tocar piano interrompido ao perder parte da mão em um acidente. Com seis meses de prática, João Carlos Martins ganhou o primeiro concurso, tocando obras de Johan Sebastian Bach (1685 - 1750). Aos 13 anos, deu início a sua carreira, realizando concertos pelo País, e, aos 18, fez sua primeira apresentação nos Estados Unidos.

"Logo de início, em um recital que fiz em Washington (1958), a esposa do então presidente (Franklin Delano) Roosevelt (Eleanor Roosevelt), ouviu e decidiu fazer minha estreia no Carnegie Hall. É o fator sorte, de estar no lugar certo na hora certa", lembra João Carlos. Daí em diante, foram oito anos de produção intensa, entre gravações e concertos em grandes palcos dos EUA. O rompimento de um nervo do cotovelo direito comprometeu os movimentos da mão, interrompendo esta trajetória. "A partir daí começa minha luta contra o destino", narra.

Voltando a tocar após alguns tratamentos, sete anos depois ele adquiriu uma Lesão por Esforço Repetitivo (LER), que o afastou novamente da música. João Carlos voltou ao piano tocando apenas com a mão esquerda e novamente se destacando. Não bastando, durante uma passagem pela Bulgária, sofreu um golpe na cabeça em uma tentativa de assalto que o fez perder parte dos movimentos das mãos, novamente.

Ele seguiu tocando, utilizando apenas alguns dedos de cada mão até que, dez anos depois, veio o quarto e derradeiro golpe: um câncer que afetou ainda mais seus movimentos o forçou a abandonar o piano. "Durante todo esse período, assim mesmo consegui realizar mais de mil concertos, no exterior e no Brasil, e consegui gravar a obra completa de Bach para teclado. Só eu e Deus sabemos qual foi minha luta para conseguir deixar essa mensagem", orgulha-se o maestro.

De todas essas intempéries e reviravoltas, João Carlos diz ter vivido o pior e o melhor que a vida poderia lhe oferecer. "Tem barreiras que poderia chamar quase intransponíveis. Para essa, tem que ter força de vontade, determinação e coragem. Existem outras que são intransponíveis. Para essas, você tem que ter a humildade para reconhecer que não dá para ultrapassar", ensina o artista.

Durante um dos períodos em que esteve afastado do piano, em 1973, o maestro lembra ter se dedicado ao boxe, empresariando Éder Jofre, que retomava sua carreira após ter abandonado o boxe por alguns anos, e se sai campeão mundial daquele ano, na categoria peso pena. "Aquilo me deu muito prazer e aprendi, quando ele recuperou o título, que tinha que voltar ao piano. Era a tal barreira quase que impossível", lembra.

Concerto
Na apresentação do Theatro José de Alencar, João Carlos Martins rege sua Filarmônica, composta por cerca de 40 músicos. Ele explica que o grupo foi formado com a evolução técnica dos alunos que tocavam em seu primeiro trabalho como maestro, a Orquestra Bachiana Jovem, e alguns músicos profissionais que agregou ao grupo. "Hoje, a Bachiana é sem duvida uma das melhores Orquestra do Brasil", garante.

O repertório traz peças de Mozart, Bethoven, Brahms, Villa Lobos e Astor Piazzolla. Em dois momentos especiais, a Orquestra abre espaço para uma breve apresentação ao piano do próprio João Carlos e, para encerrar o espetáculo, recebe no palco 10 ritmistas da Escola de Samba Vai Vai, para uma dinâmica junto ao maestro e o público. "Eu mostro como negros africanos influenciaram o ritmo brasileiro, revelando o que deu origem ao samba atual. Ao final faço essa demonstração e é mágico", adianta.

Fundação
Toda a renda do concerto será revertida para a Fundação do Rim, que trabalha com assistência a pacientes portadores de deficiência renal. O presidente da associação, Paulo Rossas Mota, conta que hoje são mais de 10 milhões de pessoas com deficiência renal e que, em 50% a 70% dos casos, o doente não sabe que tem a deficiência. Os casos mais graves, em que o paciente precisa passar por hemodiálise (filtragem do sangue, para suprir a deficiência dos rins), somam mais de 80 mil em todo o País.

"A fundação trabalha a prevenção da doença, com ações em parcerias com os órgãos de saúde e para os pacientes em estágios graves, oferecem serviços de reinserção social". A grande maioria é carente, não tem educação formal, nem profissional. Fornecemos educação formal, educação profissionalizante e fazemos doações", explica Paulo Rossas.

MAIS INFORMAÇÕES
Concerto do Maestro João Carlos Martins e Orquestra Bachiana Filarmônica - dias 27 (somente para convidados) e 28 de julho, às 20 horas, no TJA. Ingresso: R$ 100 (à venda nas lojas Ibyte da Av. Dom Luís e Av. 13 de Maio). Contato: (85) 3261.6122 http://www.fundacaodorimce.org.br/

FÁBIO MARQUESESPECIAL PARA O CADERNO 3

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