terça-feira, 26 de julho de 2011

Jogo do bicho continua funcionando na Capital

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Centro da cidade: bancas estão instaladas nas principais ruas e avenidas e a jogatina é realizada livremente
FOTO: KIKO SILVA
 Alguns bicheiros "disfarçam" as bancas para evitar repressão, enquanto outros atuam sem qualquer discrição
Embora classificado como contravenção penal, o jogo do bicho, quer disfarçado, quer totalmente exposto, continua presente na Capital. Ignorando a ilegalidade da prática, bicheiros atuam livremente sem demonstrar receio quanto a possíveis repressões. Entre aqueles que observam diariamente a irregularidade, grande parte, ainda que não participe do jogo, ignora os infratores e se posiciona a favor da legalização do jogo.
No Centro, a situação é evidente. Muitas das bancas que oferecem apostas possuem ainda a palavra "Paratodos", em referência à principal bancadora cearense do jogo do bicho, a qual funcionou até 2008, quando seus dirigentes foram presos em operação da Polícia Federal. Todavia, mesmo naquelas em que não há nenhum indicativo da Paratodos, as poules que registram o palpite podem ser encontradas com facilidade.

Na tarde de ontem, em ruas como 24 de Maio, Pedro I, Assunção e Castro e Silva, apostas irregulares eram feitas sem qualquer discrição. Nas quatro vias, cinco estabelecimentos foram flagrados realizando o jogo ilegal. Em um dos casos, o apostador, de dentro do carro, gritou o palpite para o bicheiro, que assinou a poule e foi até o veículo entregar o recibo.

Para quem costuma transitar pelo Centro, a venda irregular, de tão comum, não provoca qualquer surpresa. Ao contrário, muitos apoiam a legalização das apostas.

De acordo com o músico Márcio Barbosa, o fato de o jogo do bicho ser proibido, somado à repressão insuficiente, serve de estímulo para que novos apostadores participem da jogatina. "Quando uma coisa é proibida, estimula muita gente a querer fazer. Acho que, se liberassem o jogo do bicho, talvez até menos pessoas jogassem", diz.

Por sua vez, o vendedor Valdenir Barbosa, embora também não concorde com a proibição do jogo do bicho, diz acreditar que a prática, assim como outros tipos de jogos, merecia mais atenção por parte das autoridades. A opinião advém de experiência própria. Há cerca de 15 anos, o vendedor, ex- jogador compulsivo, perdeu dinheiro e bens materiais para o vício. "Mesmo não proibindo, era para ter uma conscientização".

Segundo o diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE), delegado Jairo Pequeno, o enfrentamento ao jogo ilegal é exercido diariamente. "Já enviei vários ofícios para as delegacias para que isso fosse combatido". De acordo com o delegado, porém, poucas são as denúncias recebidas pelas delegacias. "Quem é que denuncia jogo do bicho", questiona.

Conforme o diretor, cabe a cada delegacia realizar a fiscalização em sua respectiva área. Na tentativa de evitar serem flagrados, disse, infratores disfarçam as bancas com adesivos de lotéricas que funcionam legalmente. Casos nos quais policiais forem observados agindo de forma conivente com a prática ou aceitando suborno de bicheiros, complementou, as denúncias devem ser feitas no DPE.

Quando um bicheiro é flagrado atuando ilegalmente, é feito um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). Após a realização dos TCOs, os infratores são liberados e respondem em juizados especiais cíveis e criminais. O diretor disse não poder informar, até o fechamento da matéria, quantos TCOs foram realizados, neste ano, por conta do jogo do bicho.

SAIBA MAIS
Em 2001 - 0 jogo do bicho no Ceará começa a ser investigado. Os trabalhos param devido à urgência em outras operações. É retomado em2007. A delegada Federal do Ceará, Ana Cláudia Santana Diniz, apresenta relatório e indicia oito bicheiros, policiais civis e militares.

9/10/2008 - O juiz Danilo Fontenelle, da 11ª Vara Federal, determina a operação “Arca de Noé”, ação que resultou na prisão de Francisco Mororó, presidente da Organização Paratodos Ltda, além de seis sócios e uma gerente do jogo do bicho e o fechamento da sede da Paratodos.

10/10/2008 - Sete dos dez presos são liberados pela Justiça Federal e os bicheiros que se encontravam foragidos se apresentam.

13/11/2009 - A Justiça Federal no Ceará determina o leilão da sede da Organização Paratodos nos dias 26 de novembro e 3 de dezembro do mesmo ano.

3/12/2009 - A Superintendência Regional do Trabalho no Ceará foi nomeada pela Justiça Federal como a Fiel Depositária do Edifício Mororó, prédio do Banco Paratodos.

31/03/2010 - A antiga sede da Organização Paratodos é entregue pela Justiça Federal no Estado para a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Estado do Ceará.

JOÃO MOURAREPÓRTER

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