sexta-feira, 15 de julho de 2011

Ceará é quinto no número de jovens em situação de rua

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Censo revela que 6,6% das crianças e adolescentes em situação de rua no Brasil, entre maio e junho de 2010, encontram-se no Ceará. O dado é questionado por instituições JOSÉ LEOMAR
Estudo identificou 1.575 crianças e adolescentes nas ruas, mas discrepâncias são apontadas por entidades
O Ceará é o quinto Estado no Brasil e o segundo no Nordeste com crianças e adolescentes vivendo nas ruas. O dado é da I Pesquisa Censitária Nacional sobre Crianças e Adolescentes em Situação de Rua, publicada em março deste ano. A pesquisa, feita por amostragem, identificou 23.973 crianças e adolescentes em situação de rua no Brasil, sendo 1.575 deles (6,6%) no Ceará. Porém, entidades não-governamentais questionam a metodologia e o universo pesquisado, que não corresponderiam à realidade nacional. A pesquisa foi realizada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH) e pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável (Idest). Em primeiro lugar no ranking ficou o Rio de Janeiro, com 5.091 crianças e adolescentes em situação de rua, e no último o Maranhão, com 23.
Mas a Campanha Nacional Criança não é de Rua, que congrega organizações da sociedade civil e do poder público, publicou uma carta em seu site questionando alguns pontos da pesquisa, como a discrepância do número desse público em estados com realidades sócio-econômicas muito próximas.
"Como o Ceará pode ter 1.575 crianças e adolescentes em situação de rua, enquanto Pernambuco teria 627 e o Maranhão apenas 23? Outro problema é que eles colocam na mesma categoria tanto aqueles que trabalham na rua e voltam para a casa dos pais ou de parentes como os que dormem na rua ou em abrigos. Nós, por exemplo, entendemos que a criança em situação de trabalho na rua é diferente da criança em situação de moradia na rua. Temos aí uma confusão quantitativa e conceitual que precisa ser discutida", avalia Adriano Ribeiro, secretário nacional adjunto da campanha.

Abordagem
O levantamento foi realizado em 75 cidades brasileiras, abrangendo todas as capitais e cidades com população superior a 300 mil habitantes. A ideia é que as informações colhidas entre maio e junho de 2010 sirvam de suporte para a formulação de políticas públicas voltadas para este público.

O secretário também lamenta a falta de diálogo com as entidades e educadores sociais, que têm mais experiência e subsídios na abordagem com esse público. "Desde 2005 fazemos pesquisas sobre a situação dessas crianças e adolescentes, e teríamos muito a contribuir para tentar chegar próximo da realidade", acrescenta.

A pesquisa aponta que, durante a coleta de dados, 1.497 crianças e adolescentes se recusaram a responder as perguntas do censo, por motivos que vão desde a simples negativa, influência de álcool ou drogas, deficiência auditiva e até fuga ao ser abordado.

"Em geral, a criança e adolescente nesta situação é arredia, desconfiada, não é fácil se aproximar dela. E muitas podem mentir ou omitir informações como uma forma de defesa. Sabemos que é impossível ter um número exato de quantas crianças e adolescentes estão nesta situação, mas a metodologia precisa ser aperfeiçoada".

Apesar das discrepâncias, Adriano Ribeiro considera importante a busca de dados para implementar políticas para aqueles que considera os excluídos dos excluídos, por não manter sequer vínculos familiares e ter na rua seu lugar de moradia.

"Aqui no Ceará, temos diversas entidades que procuram dar abrigo e reinserir estas crianças e jovens na família e na comunidade. Em Fortaleza, muitas iniciativas são lideradas por estrangeiros, como a Associação O Pequeno Nazareno, mas ainda precisamos de maior presença do poder público".

KAROLINE VIANAREPÓRTER
FRAGILIDADE
Fuga de casa para uma vida de pedinte no terminal
O jovem Ricardo (nome fictício), 16 anos, mora há quase sete anos nas ruas de Fortaleza. Ele fugiu de casa após ser surrado pelo padrasto "pela vigésima vez", conta. Franzino e consumidor de crack, o adolescente, que pede esmolas no Terminal da Lagoa, diz que sente saudades da mãe e dos irmãos caçulas.

"Mas não quero voltar pra casa, não. Lá só tem tristeza e sofrimento. Meu padrasto é um monstro e minha mãe, uma mulher fraca, que tem muito medo do marido", desabafa Ricardo, que passa boa tarde do tempo no terminal.

Ele faz parte da estatística da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, da Presidência da República. Não tem expectativas de sair das ruas, conseguir emprego ou voltar aos estudos. "Moça, sei ler e escrever. Faço algumas contas. Mas, só", diz, afirmando não ter saudades da escola ou dos amigos.

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