O quadrinista Ziraldo: Tudo o que eu virei na vida, devo às histórias em quadrinhos FOTO: MARÍLIA CAMELO |
O quadrinista e escritor Ziraldo está de passagem por Fortaleza para participar hoje da Campanha Nacional "Crianças e Adolescentes - Primeiro! Defensores Públicos pelos direitos da criança e adolescente" e das comemorações do 120º aniversário da Secretaria da Justiça do Estado e dos 101 anos do Theatro José de Alencar. Em entrevista ao Caderno 3, ele falou de literatura, mercado de quadrinhos e planos
Por muito tempo, as histórias em quadrinhos foram tomadas por "subliteratura", capaz de desviar os jovens dos "bons hábitos". Esta mesma linguagem está presente na cartilha que você lança em Fortaleza. Como você vê esta abertura para que os quadrinhos possam demonstrar seu potencial?
Quando as histórias em quadrinhos surgiram no Brasil, éramos, nitidamente, um país de analfabetos. Sua rápida propagação foi um susto para os nossos conservadores pensantes que sonhavam com um Brasil leitor. E, então, pareceu a este grupo muito atuante que a HQ facilitava demais a vida de quem tinha que virar leitor; que ela era um, digamos, deviacionismo; queria afastar as crianças da leitura propriamente dita. Não ocorria a este pessoal que cada quadrinho de uma HQ é uma janela para o mundo; que ela estimula a imaginação e, principalmente, a curiosidade infantil E que estas são qualidades fundamentais para conduzir a criança ao fascínio da leitura. Ainda bem que este preconceito terminou entre nós. Tudo o que eu virei na vida, devo às HQs. Você é um autor, de literatura e de quadrinhos, que dialoga bem o público infantil e adolescente, sem apelar para modismos. No entanto, sua obra também tem uma forte carga política, caso de sua atuação no Pasquim e na Bundas. Estes universos têm pontos em comum?
Claro que têm. Quando a descoberta de que éramos um país injusto, de que o cidadão tem deveres a cumprir com seu país, etc., etc. e etc., chegou a mim, na minha adolescência, estava pronto para entender o mundo. Ou para achar que tinha potencial para entendê-lo (mais do que entendê-lo, é claro). Aí, era chegada a hora de fazer minhas opções. Fazer cadernos e cadernos de HQ; fazer cartuns, depois charges políticas, depois participação política, depois livros para crianças, foram coisas que aconteceram com naturalidade.
O senhor é um dos maiores nomes dos quadrinhos no País. Que avaliação faz do que é produzido e publicado hoje nesta área? O quadrinho brasileiro tem mais espaço do que já teve?
O quadrinho brasileiro, hoje, não faz parte da cultura de massa. Ele chegou, ao seu melhor estágio, entre nós, quando o gênero virou uma forma de literatura cult. O time de criadores de HQ no Brasil, hoje, é de primeiríssima linha. O que acontece é que não é mais uma leitura popular. As adaptações de clássicos brasileiros para os quadrinhos que têm aparecido no mercado, ultimamente, serão uma grande contribuição para a gente alcançar o sonho de sermos um país de leitores. Está na hora das editoras começarem a botar na praça mais literatura em quadrinhos, como as graphic novels americanas. Nos EUA, elas já são chamadas de a "nova dramaturgia americana". Pode acontecer aqui no Brasil.
Em quais projetos você está trabalhando atualmente? Alguma chance de vermos o Maluquinho, de novo, nos cinemas?
Sabe o que é? Nunca me vejo envolvido com qualquer tipo de projeto. Trabalho tanto que o meu projeto é este aí, não parar de trabalhar. Estou comprometido - comigo mesmo - com a série dos meninos dos planetas que se completará com dez, onze ou doze livros (pois inclui neles a "Menina das Estrelas" e acho que vou ter que terminá-lo com o "Menino do Sol", que não estava previsto e apareceu de repente). Estou ainda no quarto livro. É muito trabalho pela frente. Além desta série há mais três ou quatro livros em preparação nas minhas gavetas. E todo o resto que vem por conta do volume da minha produção anterior, que são as HQs - que faço com a direção de arte do Mig (Miguel Mendes) - os filmes, que não sou eu que faço, as peças de teatro, os programas de televisão, as marcas, símbolos, camisetas, etc. etc. e etc., que aparecem e as palestras, as viagens. Você vê: o projeto sou eu, né, não?!...
DELLANO RIOSEDITOR
MAIS INFORMAÇÕES
Ziraldo em Fortaleza - Hoje, o escritor e quadrinista participa do "Conversando com Ziraldo", a partir das 9h, no Theatro José de Alencar. Na ocasião, estarão presentes alunos de escolas da rede pública de ensino, que discutirão os direitos das crianças e adolescentes. A mediação ficará a cargo do escritor Raimundo Netto. Durante todo o dia, o TJA abre as portas para a programação especial de aniversário. Contato: (85) 3101.2583
Por muito tempo, as histórias em quadrinhos foram tomadas por "subliteratura", capaz de desviar os jovens dos "bons hábitos". Esta mesma linguagem está presente na cartilha que você lança em Fortaleza. Como você vê esta abertura para que os quadrinhos possam demonstrar seu potencial?
Quando as histórias em quadrinhos surgiram no Brasil, éramos, nitidamente, um país de analfabetos. Sua rápida propagação foi um susto para os nossos conservadores pensantes que sonhavam com um Brasil leitor. E, então, pareceu a este grupo muito atuante que a HQ facilitava demais a vida de quem tinha que virar leitor; que ela era um, digamos, deviacionismo; queria afastar as crianças da leitura propriamente dita. Não ocorria a este pessoal que cada quadrinho de uma HQ é uma janela para o mundo; que ela estimula a imaginação e, principalmente, a curiosidade infantil E que estas são qualidades fundamentais para conduzir a criança ao fascínio da leitura. Ainda bem que este preconceito terminou entre nós. Tudo o que eu virei na vida, devo às HQs. Você é um autor, de literatura e de quadrinhos, que dialoga bem o público infantil e adolescente, sem apelar para modismos. No entanto, sua obra também tem uma forte carga política, caso de sua atuação no Pasquim e na Bundas. Estes universos têm pontos em comum?
Claro que têm. Quando a descoberta de que éramos um país injusto, de que o cidadão tem deveres a cumprir com seu país, etc., etc. e etc., chegou a mim, na minha adolescência, estava pronto para entender o mundo. Ou para achar que tinha potencial para entendê-lo (mais do que entendê-lo, é claro). Aí, era chegada a hora de fazer minhas opções. Fazer cadernos e cadernos de HQ; fazer cartuns, depois charges políticas, depois participação política, depois livros para crianças, foram coisas que aconteceram com naturalidade.
O senhor é um dos maiores nomes dos quadrinhos no País. Que avaliação faz do que é produzido e publicado hoje nesta área? O quadrinho brasileiro tem mais espaço do que já teve?
O quadrinho brasileiro, hoje, não faz parte da cultura de massa. Ele chegou, ao seu melhor estágio, entre nós, quando o gênero virou uma forma de literatura cult. O time de criadores de HQ no Brasil, hoje, é de primeiríssima linha. O que acontece é que não é mais uma leitura popular. As adaptações de clássicos brasileiros para os quadrinhos que têm aparecido no mercado, ultimamente, serão uma grande contribuição para a gente alcançar o sonho de sermos um país de leitores. Está na hora das editoras começarem a botar na praça mais literatura em quadrinhos, como as graphic novels americanas. Nos EUA, elas já são chamadas de a "nova dramaturgia americana". Pode acontecer aqui no Brasil.
Em quais projetos você está trabalhando atualmente? Alguma chance de vermos o Maluquinho, de novo, nos cinemas?
Sabe o que é? Nunca me vejo envolvido com qualquer tipo de projeto. Trabalho tanto que o meu projeto é este aí, não parar de trabalhar. Estou comprometido - comigo mesmo - com a série dos meninos dos planetas que se completará com dez, onze ou doze livros (pois inclui neles a "Menina das Estrelas" e acho que vou ter que terminá-lo com o "Menino do Sol", que não estava previsto e apareceu de repente). Estou ainda no quarto livro. É muito trabalho pela frente. Além desta série há mais três ou quatro livros em preparação nas minhas gavetas. E todo o resto que vem por conta do volume da minha produção anterior, que são as HQs - que faço com a direção de arte do Mig (Miguel Mendes) - os filmes, que não sou eu que faço, as peças de teatro, os programas de televisão, as marcas, símbolos, camisetas, etc. etc. e etc., que aparecem e as palestras, as viagens. Você vê: o projeto sou eu, né, não?!...
DELLANO RIOSEDITOR
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Ziraldo em Fortaleza - Hoje, o escritor e quadrinista participa do "Conversando com Ziraldo", a partir das 9h, no Theatro José de Alencar. Na ocasião, estarão presentes alunos de escolas da rede pública de ensino, que discutirão os direitos das crianças e adolescentes. A mediação ficará a cargo do escritor Raimundo Netto. Durante todo o dia, o TJA abre as portas para a programação especial de aniversário. Contato: (85) 3101.2583
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