sábado, 21 de maio de 2011

Insegurança na escola e greves prejudicam alunos de Belém do Pará

 A última parada da equipe da blitz da educação foi em Belém, que tem quase 1,4 milhão de habitantes.
A reportagem da blitz do JN no Ar desta sexta-feira (20) vai falar de uma realidade que, infelizmente, muitos estudantes brasileiros já conhecem: a insegurança na escola e a falta de aula por causa de greves dos professores. Qual a consequência de tudo isso? O resultado do Ideb diz. É uma consequência triste.
A equipe do JN no Ar saiu na quinta-feira (19) à noite de Goiânia em direção ao Norte. Foram mais 1.734 quilômetros em duas horas e dezoito minutos até Belém, no Pará. No roteiro estavam duas escolas: a primeira com nota 1,4 e a outra com 6,2 na avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb. Uma delas está em greve. Com o sol nascendo, a equipe seguiu em direção à periferia. As crianças seguem a rotina diária. É um bairro com problemas de violência e a polícia faz rondas.  A escola de nota 1,4, percebe-se pelo policiamento e pelo que as pessoas dizem, que fica em uma região de insegurança. “Aparentemente o problema da insegurança é tão sério que faz com que professores, provavelmente, queiram evitar de dar aula nesse local, talvez até os pais de virem às reuniões com as suas crianças. Quando o problema da violência chega nesse nível de seriedade pode sim ser um impeditivo muito importante a um aprendizado de qualidade”, destacou o especialista em educação Gustavo Ioschpe. A diretora Marluce Matos, nesta sexta-feira, enfrentava um problema diferente. As aulas começavam às 7h30 e, às 8h, os professores ainda não haviam chegado. “Acredito que eles não vão vir”, contou ela. Os alunos não sabiam da paralisação. Muitas mães também foram à escola. “Eles falaram que ia ter paralisação hoje, mas não tinha certeza”, disse uma delas.
As crianças ficam sem ter o que fazer. A escola era de uma antiga organização não governamental e há três anos passou para a administração do estado. O ambiente recria a estrutura de uma aldeia de índios.
Mesmo sem aula, o especialista Gustavo Ioschpe buscou informações para saber por que a escola recebeu uma nota tão baixa no Ideb. “Praticamente as crianças do primeiro grau trocando de professores a cada três meses”, relatou a diretora. “A gente chegou aqui preocupado com a questão da violência contra a escola, mas acabou descobrindo que talvez a violência mais preocupante seja da escola para com seu próprio aluno. O aluno aqui é um pouco abandonado, tem greve todos os anos, tem tanta greve aqui que a professora disse que o aluno chega para ela e diz: ‘professora, vai grevar de novo?’. Greve já virou verbo. O diretor da escola é o terceiro diretor em menos de dois anos. Então é uma situação de tanto abandono, de tanta falta de aula, de tanta confusão, que é muito difícil realmente os alunos aprenderem dessa maneira”, explicou Ioschpe. Os professores das redes municipal e estadual de educação de Belém pararam nesta sexta-feira (20). Muitos foram a uma assembleia que discutiu uma proposta de aumento salarial para a categoria. A equipe tentou conversar com os professores da escola que visitou. Sem sucesso, partiu para a instituição com a melhor avaliação da cidade. É um colégio restrito aos filhos de militares e funcionários civis da Aeronáutica. A equipe do JN no Ar passou pelos bloqueios e chegou bem na hora do recreio, com muita festa e brincadeira da criançada. Lá estudam alunos do primeiro ano do ensino fundamental ao último do ensino médio. É uma escola federal, mas que se assemelha a uma particular, porque os alunos pagam mensalidades, de R$ 60 a R$ 221. É um lugar de disciplina e a organização, com boas instalações. A professora Elen Rosa dá aula de alfabetização. É formada em pedagogia e tem salário de R$ 2.470. Alguns colegas dela chegam a receber R$ 7 mil por mês. “Você tem uma faixa salarial alta, você vai ter as pessoas bem mais qualificadas procurando esse salário”, destacou ela. Na escola de pior nota, fechada, Luane sonha com um ensino melhor e com um futuro melhor. “Quero ser juíza. Sei que tem que estudar muito”, contou ela.
Em um colégio fraco e com pouco suporte em casa, ela tem uma luta grande pela frente. “Minha mãe fala: ‘Luane, você não vai conseguir ser isso’. Eu falo assim mesmo com a minha mãe: ‘Mãe, nunca há tempo, sempre tem tempo para gente ser alguma coisa na vida’”, ensinou a menina.

Luane merece uma escola digna. Como tantos brasileirinhos, ela só quer aprender e crescer. Mesmo sem aula e sem ninguém pedir, Luane fez uma redação para a equipe.
“Se a gente puder deixar um recado para o pai para a mãe que estão nos ouvindo é: sempre apoie o seu filho. Porque algumas escolas, infelizmente, desistem dos seus alunos. E se os pais também desistirem, se chamarem o filho de burro, de preguiçoso, aí é que esse filho está perdido. O pai e a mãe sempre têm que achar que seu filho poder ser o primeiro brasileiro a ganhar um Prêmio Nobel”, afirmou o especialista.

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