A eleição da primeira mulher para presidente do Brasil e a ocupação de importantes espaços no governo é apenas uma etapa na luta pela igualdade de gênero (FABIO RODRIGUES POZZEBOM/ABR) |
Com dois meses de trabalho no Palácio do Planalto e a 48 horas do Dia Internacional da Mulher – comemorado no próximo 8 de março –, a presidente Dilma Rousseff (PT) entra para a história da República não apenas como a primeira do gênero a comandar o País. Desde 1º de janeiro de 2011 – data da cerimônia de sua posse, quando ela resolveu substituir a tradicional escolta masculina por jovens mulheres em motos, a cavalo e a pé –, a petista tem reservado a elas um espaço que nenhum outro chefe do Executivo brasileiro se propôs a dar.
Nunca se viu tantas mulheres em postos importantes do governo. São nove com status de ministra, de um total de 37 pastas. No segundo escalão, já são 68 – um aumento de 75% em relação à gestão de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Aumentando a cota feminina, Dilma cumpriu o que prometeu na campanha eleitoral: incluí-las na arena do poder, uma tentativa de reconhecer a capacidade administrativa das mulheres. Mas a petista sabe que não só de cargos vive a plataforma feminista.
Dilma será cobrada por melhorias nos indicadores sociais que ainda impedem as mulheres de alcançar autonomia, seja na política, no mercado de trabalho ou mesmo no ambiente doméstico. Atualmente, 80% das crianças brasileiras de 0 a 3 anos estão fora das creches, por exemplo – como mostrou levantamento da Fundação Abrinq, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2009. Sem ter com quem deixar os filhos, muitas deixam de trabalhar – ou aceitam empregos com carga horária menor, cujo salário também é reduzido.
Outra dificuldade: embora nem sempre receba remuneração equivalente, as mulheres também passam mais tempo trabalhando que os homens, conforme apontou a Pnad 2009. Tudo por causa dos afazeres domésticos, aos quais elas dedicam 25,9 horas por semana. Eles, quando resolvem dividir as tarefas, gastam 15,5 horas.
É por isso que, de acordo com as mulheres ouvidas pelo O POVO, não basta enchê-las de cargos ou presenteá-las com longas menções a cada discurso público proferido. “Claro que isso ajuda a diminuir um preconceito histórico, mas o que define se o governo está preocupado ou não com as mazelas que afetam a mulher, como a violência doméstica e sexual, é a política econômica, a visão de mundo dos ministérios”, alertou a senadora Marinor Brito (PSOL-PA) – uma das 12 que hoje ocupam uma cadeira no Senado.
Nas próximas páginas, O POVO discute se a presença de uma mulher na chefia do País já trouxe consequências concretas para o gênero, além de verificar como anda a representação política de outros grupos que, apesar de às vezes serem maioria na sociedade, ainda são alijados dos espaços institucionais de poder. Além da mulher, também homossexuais, negros e pessoas com deficiência encontram-se nessa situação.
Por quê
ENTENDA A NOTÍCIA
A eleição de Dilma representou um marco para a história do país e para o papel desempenhado pelas mulheres. Entretanto, novos avanços se fazem necessários rumo à diminuição das desigualdades de gênero
NÚMEROS
9
MULHERES
Compõe a equipe ministerial da presidente Dilma . Lula chegou a colocar cinco
68
MULHERES
Já ocupam o 2º escalão no governo Dilma. Aumento de 75% comparado ao anterior
80%
DAS CRIANÇAS BRASILEIRAS
Entre 0 e 3 anos estão fora das creches, segundo levantamento da Abrinq
25,9
HORAS POR SEMANA
É o tempo que as mulheres dedicam por semana aos afazeres domésticos
Hébely Rebouças
hebely@opovo.com.br
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