O simpático Manoel Silvestre, de 73 anos, é pescador, agricultor e contador de história VIVIANE PINHEIRO |
Aquiraz. Café quente, macaxeira cozida e uma sombra, tudo bem próximo ao fogão à lenha. Ambiente e comida perfeitos para uma boa conversa e à moda do interior. É assim que o simpático Manoel Silvestre, de 73 anos, recebe os visitantes em sua casa, na Praia de Batoque. De vida simples, mas com muita fartura, o pescador e agricultor, como gosta de frisar, é reconhecido por lá como um grande contador de anedota e de "causos". De pescador ou agricultor, verdadeiras ou não, as histórias de seu Manoel, no entanto, retratam suas vivências com uma pitada generosa de fantasia. Fórmula que não tem como não encantar quem as escuta.
Algumas de suas histórias e este encantamento poderão ser conferidos na próxima sexta-feira (25), na Praça da Matriz deste Município, quando ele e outros contadores de história da região se apresentarão durante o evento cultural Lamparina de Histórias. "O pessoal de Aquiraz só tem que esperar uma excelente exibição", garantiu a criadora e coordenadora do projeto, Júlia Barros. Manoel Silvestre será o destaque do evento, com presenças confirmadas, também, da Cacique Pequena e de Auristela Câmara.
O evento, que já passou pelos Municípios de Saboeiro e Assaré, tem como objetivo "dar reconhecimento a esses contadores de história e que a comunidade passe a enxergá-los pela sua importância para a história local", ressaltou Júlia. É um momento de compartilhar os saberes que antes eram anônimos.
Entre um gole e outro de café, seu Manoel conta as histórias que irá apresentar no evento. Para não ter perigo de esquecer, ele diz como está preparando seu repertório: "Minha memória não ´tá´ tão boa. Eu vou lembrando e anotando. História disso assim, história de fulano".
Tradição
A arte ele diz que herdou do pai, que também era um contador nato. "Meu pai trabalhava numa casa de farinha, com um velho que também se chamava João. Um dia o velho ´tava´ puxando uma estaca. Puxava com força e não conseguia arrancar do chão. Aí meu pai olhou pra ele e perguntou o nome da mulher. A força foi tão grande que o velho arrancou a estaca do chão, dizendo: "não fale nessa mulher", contou seu Manoel seguindo com uma gargalhada. "Será que gostava da mulher?", completou o contador.
Quem também faz parte de suas histórias é dona Luzanira, com quem é casado há 56 anos. Ao contrário do dono da Casa de Farinha, onde o pai de seu Manoel trabalhava, que não gostava da esposa, ele faz questão de dizer: "engraçado que a mulher nasceu de mim antes de meus filhos", relembrando a história bíblica de Adão e Eva, onde ela foi feita da costela dele.
Lembranças
Contando as histórias de seu pai, ele brinca e se diverte. "Ele contava tanta história que morreu". E seu Manoel também é desses que contam muitas histórias, mas não tantas quanto gostaria. "Ainda conto, mas acabou-se. O menino chega da escola, corre e vai direto pra televisão", conta apontando para o neto.
A queixa dele deu origem ao cerne do projeto Lamparina de Histórias: resgatar as histórias de trancoso, os causos, as anedotas e a história oral dos lugares, por meio desses personagens, que apesar de não viverem da arte de contar histórias, perpetuam a cultura local.
Seu Manoel Silvestre, no entanto, busca alternativas para manter viva a tradição de narrador: mantém os encontros com os amigos e os familiares.
EXPECTATIVAEncontro é para partilhar memórias
Aquiraz. Na próxima sexta-feira, a Praça da Matriz, deste Município, será palco para homens e mulheres partilharem seus saberes por meio da contação de histórias. Manoel Silvestre, Cacique Pequena e Auristela Câmara são três personagens, dos muitos espalhados por todo o Estado, que mostrarão a arte de contar histórias aos moradores de Aquiraz. Causos, anedotas e lendas locais farão parte do repertório. "No Lamparina de Histórias, é o saber anônimo que vem ser o protagonista", explica a coordenadora do projeto, a também contadora de histórias, Júlia Barros.
A abertura está prevista para acontecer às 19 horas, com a banda de pífanos do Município. Em seguida, entra em cena os três personagens locais. Seu Manoel Silvestre está escolhendo a dedo suas histórias. Vai reunir àquelas que conhece desde meninote até as que criou a pouco tempo. Sobre o seu sucesso em criar e contar as histórias, ele diz que o segredo "é pensar, formar a história na cabeça e sair contando. Eu fazia a história e contava ´pra´ turma".
Participa, ainda, da noite festiva, a Cia. Catirina e o Côco da Prainha. O espetáculo "Os Bufões", da banda cearense Dona Zefinha, animará o encerramento. A peça conta a história do popular circo mambembe nordestino, a falta de recursos e a concorrência com o mundo midiático. A comédia musical infantil protagonizada pelos palhaços "Bufão", "Panfeto" e "Pafim", resgata a magia e a beleza do circo, para que não cheguem ao fim. O grupo utiliza, além de muitas palhaçadas, músicas, cirandas, trava-línguas, adivinhações, histórias e canções.
Sobre o projeto
O "Lamparina de História" nasceu a partir de uma experiência da autora. Em uma ida ao sertão, Júlia Barros conta que viu várias lamparinas indo na mesma direção, durante uma noite. Aquela imagem ficou na sua mente martelando e fazendo-a lembrar das noites de debulha, de lua cheia, em que famílias inteiras compartilhavam do momento com muitas histórias, principalmente, as de assombração. Após manter contato com um grupo de idosos, despertou para a necessidade que estes têm em contar o que viveram, partilharam ou inventaram. A partir daí, criou o projeto. "Nasceu justamente da necessidade de conhecer os contadores de histórias tradicionais em cidades cearenses", conta.
Primeira edição
A primeira edição foi de experimentar. "Em parceria com a Casa do Conto, realizamos três edição. Uma no Dias Macedo, no João XXIII e outra no Boqueirão dos Cunhas, em Caucaia. Com a aprovação no Edital de incentivo as artes, da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult), o projeto ganhou itens de mobilização e uma infraestrutura, com palco e som.
Além dos tradicionais contadores, artistas locais também se apresentam. O próximo Município a ser visitado será São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza, no dia 17 de março. Continua na página 3
MAIS INFORMAÇÕES Lamparina de Histórias
Dia 25 de fevereiro, às 19 horas
Praça da Matriz - Centro
Município de Aquiraz (CE)
Emanuelle loboRepórter
Entre um gole e outro de café, seu Manoel conta as histórias que irá apresentar no evento. Para não ter perigo de esquecer, ele diz como está preparando seu repertório: "Minha memória não ´tá´ tão boa. Eu vou lembrando e anotando. História disso assim, história de fulano".
Tradição
A arte ele diz que herdou do pai, que também era um contador nato. "Meu pai trabalhava numa casa de farinha, com um velho que também se chamava João. Um dia o velho ´tava´ puxando uma estaca. Puxava com força e não conseguia arrancar do chão. Aí meu pai olhou pra ele e perguntou o nome da mulher. A força foi tão grande que o velho arrancou a estaca do chão, dizendo: "não fale nessa mulher", contou seu Manoel seguindo com uma gargalhada. "Será que gostava da mulher?", completou o contador.
Quem também faz parte de suas histórias é dona Luzanira, com quem é casado há 56 anos. Ao contrário do dono da Casa de Farinha, onde o pai de seu Manoel trabalhava, que não gostava da esposa, ele faz questão de dizer: "engraçado que a mulher nasceu de mim antes de meus filhos", relembrando a história bíblica de Adão e Eva, onde ela foi feita da costela dele.
Lembranças
Contando as histórias de seu pai, ele brinca e se diverte. "Ele contava tanta história que morreu". E seu Manoel também é desses que contam muitas histórias, mas não tantas quanto gostaria. "Ainda conto, mas acabou-se. O menino chega da escola, corre e vai direto pra televisão", conta apontando para o neto.
A queixa dele deu origem ao cerne do projeto Lamparina de Histórias: resgatar as histórias de trancoso, os causos, as anedotas e a história oral dos lugares, por meio desses personagens, que apesar de não viverem da arte de contar histórias, perpetuam a cultura local.
Seu Manoel Silvestre, no entanto, busca alternativas para manter viva a tradição de narrador: mantém os encontros com os amigos e os familiares.
EXPECTATIVAEncontro é para partilhar memórias
Aquiraz. Na próxima sexta-feira, a Praça da Matriz, deste Município, será palco para homens e mulheres partilharem seus saberes por meio da contação de histórias. Manoel Silvestre, Cacique Pequena e Auristela Câmara são três personagens, dos muitos espalhados por todo o Estado, que mostrarão a arte de contar histórias aos moradores de Aquiraz. Causos, anedotas e lendas locais farão parte do repertório. "No Lamparina de Histórias, é o saber anônimo que vem ser o protagonista", explica a coordenadora do projeto, a também contadora de histórias, Júlia Barros.
A abertura está prevista para acontecer às 19 horas, com a banda de pífanos do Município. Em seguida, entra em cena os três personagens locais. Seu Manoel Silvestre está escolhendo a dedo suas histórias. Vai reunir àquelas que conhece desde meninote até as que criou a pouco tempo. Sobre o seu sucesso em criar e contar as histórias, ele diz que o segredo "é pensar, formar a história na cabeça e sair contando. Eu fazia a história e contava ´pra´ turma".
Participa, ainda, da noite festiva, a Cia. Catirina e o Côco da Prainha. O espetáculo "Os Bufões", da banda cearense Dona Zefinha, animará o encerramento. A peça conta a história do popular circo mambembe nordestino, a falta de recursos e a concorrência com o mundo midiático. A comédia musical infantil protagonizada pelos palhaços "Bufão", "Panfeto" e "Pafim", resgata a magia e a beleza do circo, para que não cheguem ao fim. O grupo utiliza, além de muitas palhaçadas, músicas, cirandas, trava-línguas, adivinhações, histórias e canções.
Sobre o projeto
O "Lamparina de História" nasceu a partir de uma experiência da autora. Em uma ida ao sertão, Júlia Barros conta que viu várias lamparinas indo na mesma direção, durante uma noite. Aquela imagem ficou na sua mente martelando e fazendo-a lembrar das noites de debulha, de lua cheia, em que famílias inteiras compartilhavam do momento com muitas histórias, principalmente, as de assombração. Após manter contato com um grupo de idosos, despertou para a necessidade que estes têm em contar o que viveram, partilharam ou inventaram. A partir daí, criou o projeto. "Nasceu justamente da necessidade de conhecer os contadores de histórias tradicionais em cidades cearenses", conta.
Primeira edição
A primeira edição foi de experimentar. "Em parceria com a Casa do Conto, realizamos três edição. Uma no Dias Macedo, no João XXIII e outra no Boqueirão dos Cunhas, em Caucaia. Com a aprovação no Edital de incentivo as artes, da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult), o projeto ganhou itens de mobilização e uma infraestrutura, com palco e som.
Além dos tradicionais contadores, artistas locais também se apresentam. O próximo Município a ser visitado será São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza, no dia 17 de março. Continua na página 3
MAIS INFORMAÇÕES Lamparina de Histórias
Dia 25 de fevereiro, às 19 horas
Praça da Matriz - Centro
Município de Aquiraz (CE)
Emanuelle loboRepórter
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