sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Buraqueira abala relação entre Governo e Prefeitura



Em 2009, Luizianne colocou a mão na massa ao lançar operação tapa-buracos. Ela mesmo tapou buraco na Parangaba (MARCUS CAMPOS)
Em 2009, Luizianne colocou a mão na massa
ao lançar operação tapa-buracos. Ela mesmo
tapou buraco na Parangaba (MARCUS CAMPOS)
 
As declarações da prefeita Luizianne Lins (PT), culpando a Companhia de Água e Esgoto do Estado do Ceará (Cagece) pela maioria dos buracos nas ruas da cidade, abalaram ainda mais uma já delicada relação entre a petista e o Governo do Estado.
A reação às palavras da prefeita veio por meio da rede social Twitter. Um dos principais executivos do Palácio Iracema, o chefe da Casa Civil, Arialdo Pinho, não fez rodeios para criticar Luizianne. “Lulu Discurso Maravilha, culpa Cagece pelos buracos em Fortaleza. Engraçado, pela falta de capacidade de fazer algo, transfere responsabilidade”.
Não satisfeito, escreveu ainda: “Existem obras da Cagece na cidade com prazo para acabar. Prefeitura: ruas esburacadas, avenidas com asfalto lastimável, obras que nunca acabam”.
Em resposta, um dos assessores da Prefeitura, Afonso Tiago, foi enfático, também via Twitter: “Trabalhe, faça a sua parte, que a Luizianne para de reclamar da Cagece”, disse a Arialdo. Reclamou ainda da exposição do nome da prefeita na rede. “Ela jamais reclamaria do governo aliado se não fosse grave a situação. E jamais citaria o próprio governador, como você (Arialdo) faz”.
As críticas de Arialdo vieram após Luizianne - questionada pela grande quantidade de buracos na cidade - jogar o problema no colo do órgão do Governo do Estado.
O esforço para mostrar que a culpa não é da Prefeitura está claro no site oficial do Executivo municipal (www.fortaleza.ce.gov.br), na última notícia publicada ontem: “Mais um ponto da Av. Dom Manoel é interditado para obras da Cagece”.
Conforme O POVO mostrou ontem, a Cagece, órgão estadual, tem R$ 124 mil em multas pendentes de 2010 com a Prefeitura, por problemas na rede de esgotamento sanitário. Na semana passada, a companhia foi multada em mais R$ 76 mil.
Relações institucionais
O deputado Ivo Gomes (PSB), irmão do governador Cid Gomes (PSB), evitou colocar mais lenha na fogueira e preferiu não comentar diretamente as declarações de Arialdo sobre a prefeita. 
Sem citar Luizianne como aliada, Ivo afirmou que, “seja em qual esfera for” as relações entre governos precisam ser “institucionais” e “independente dos gestores, das pessoas, dos partidos”. “Elas precisam acontecer e o gestores precisam ter maturidade para deixar suas diferenças ideológicas e pessoais de lado e tocar pra frente as parcerias que precisam ser feitas - entre Governo Federal, Governo do Estado e Governo municipal”.
E, mostrando-se “imparcial”, enfatizou a importância da parceria para viabilizar ações “imprescindíveis”. “Nós vamos estar sempre muito perto da Prefeitura de Fortaleza, para o que ela precisar, independentemente de quem seja o gestor. Se é a prefeita Luizianne hoje, daqui a dois anos vai ser outra pessoa”.
O governador em exercício, Domingos Filho (PMDB), por sua vez, esquivou-se de apontar como deve ficar a relação com Luizianne daqui para frente, mas disse apenas “arriscar um palpite”.
Ele argumentou que, embora haja discussões, há “absolutas convergências”. “Basta se ver que nós estamos aí na mesma coalizão de forças em três eleições consecutivas”.
Arialdo Pinho não quis comentar a opinião emitida na Internet. Por meio da assessoria, disse que a declaração já foi feita. Assim como a assessoria da Prefeitura de Fortaleza informou que não responderá declarações feitas via Twitter.

Quando

ENTENDA A NOTÍCIA

Não é a primeira vez que as administrações do Estado e do Município trocam farpas publicamente. O desentendimento ocorre às vésperas de uma negociação para as eleições de 2012 que se prenuncia complicada.

PARA ENTENDER

28/1
Autarquia de Regulação, Fiscalização e Controle dos Serviços Públicos de Saneamento Ambiental (Acfor), vinculada à Prefeitura de Fortaleza, multa a Cagece em R$ 76 mil, em função de buracos provocados por problemas na rede de esgoto. O assunto foi manchete do O POVO no dia seguinte.
1º/2
Na Câmara Municipal, prefeita diz que maioria dos buracos em Fortaleza foram causados pela Cagece.
2/2
O POVO mostra que o valor a ser pago em multas pela Cagece em função de buracos passa de R$ 200 mil. No Twitter, Arialdo Pinho reage à crítica de Luizianne, feita na véspera, a quem chama de “Lulu Discurso Maravilha”. E ataca: “Engraçado, pela falta de capacidade de fazer algo, transfere responsabilidade”. E acrescenta que obras da Cagece têm prazo para acabar, enquanto a Prefeitura tem “ruas esburacadas, avenidas com asfalto lastimável, obras que nunca acabam”.

BATE-PRONTO
Salmito Filho, vereador e ex-presidente da Câmara

Em sua primeira aparição na Câmara Municipal de Fortaleza após a eleição para a presidência – quando perdeu para Acrísio Sena (PT), apoiado por Luizianne Lins (PT) - o vereador Salmito Filho (PT) afirmou que apoia a prefeita, mas que não é “cego” e que, se for preciso, não hesitará em criticar. Ele também comentou sobre possível convite para a presidência da futura comissão de Ciência e Tecnologia. (Pedro Alves)

Pergunta - Como está e como vai ser, a partir de agora, sua relação com a Prefeitura?
Salmito Filho - A mesma relação. Uma relação de apoio. Mas aquilo que for importante dizer para contribuir com o governo eu irei dizer, para melhorar, para aperfeiçoar. Não é o apoio cego. Não é o apoio... (silêncio)...
Pergunta - Incondicional?
Salmito - Não sei se é esse o termo. É uma relação de apoio para ajudar. Mas se para ajudar for preciso fazer criticas, eu vou criticar.
Pergunta - Em que pé está o convite para a comissão de Ciência e Tecnologia?
Salmito - Eu já dediquei os dois primeiros anos muito à Câmara Municipal, aos trabalhos internos da Câmara, até pela condição de presidente. Agora, como vereador, eu quero me dedicar mais para fora da Câmara. Se eu assumir a presidência de uma comissão, eu vou ter de dedicar mais tempo e mais atenção a uma questão interna. Eu acho que nós temos colegas de bom nível para assumir bem esse desafio.

Pergunta - O senhor acha que essa recusa pode ser interpretada como uma mágoa por ter perdido a eleição para a presidência?
Salmito - Não. Por quê? Eu na verdade estou tentando equilibrar. Se tivessem conversado comigo eu teria dito, olha, a minha intenção é assim. Eu fiquei sabendo pela imprensa e estou falando pela imprensa.
Giselle Dutra
giselledutra@opovo.com.br
Marcela Belchior
marcelabelchior@opovo.com.br

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