quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Da 6ª série a vestibulando após 35 anos sem estudar


Até 2010, o técnico em telefonia, Paulo César Pereira Gomes, havia completado apenas a 6ª série ou, como diz ele, “o segundo ano ginasial”. Ficou 35 anos longe dos bancos escolares desde que se afastou da escola para trabalhar ainda na adolescência até completar 51 anos de idade.
Em 2011, por causa do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) ele conseguiu certificado de conclusão da etapa e só não se matriculou na universidade porque a concorrência para o curso que pretende fazer é grande: Medicina. “Se em poucos meses eu cheguei até aqui, agora vou mais longe”, diz.

Foto: Carlos Eduardo de Quadros/Fotoarena
Após sucesso no Enem, Paulo Cesar Gomes, 51 anos, agora quer ser aprovado em Medicina

Foi uma interrupção forçada no trabalho que levou Gomes de volta à escola. Sem poder se equilibrar nas escadas que faziam parte de sua rotina profissional por causa de um acidente, ele foi procurar outra coisa para fazer até se recuperar. 
Se inscreveu em um programa de bolsa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) ofertado pela prefeitura de Porto Alegre, capital gaúcha onde vive exatamente desde que havia deixado os estudos. Conseguiu uma vaga no Colégio Unificado e concluiu a etapa no primeiro semestre do ano passado. Gostou tanto que, em julho, mesmo tendo a bolsa reduzida para 50% do valor total do curso, se propôs a pagar R$ 865 semestrais para fazer o Ensino Médio. Quando chegou a época de inscrição para o Enem, em setembro, ele arriscou. “Fiz para ir treinando, mas já que o questionário perguntava qual meu objetivo, assinalei certificação de ensino médio e até aproveitar as notas para inscrição em vagas de curso superior”, lembra.
Nota maior do que a necessária
Para conseguir a primeira meta, Gomes precisaria fazer pelo menos 400 pontos em cada disciplina e 500 na redação. Foi com apreensão que ele conferiu, na semana passada, cada nota: ciências da Natureza, 473,1; linguagens e códigos 501,3, matemática 548,4, ciências humanas, 573,2; e redação 550. Sobram pontos em todas as áreas. “Tenho certeza que se não tivesse voltado a estudar, não teria conseguido e estou agradecido ao colégio, mas também ao Enem”, comentou satisfeito. “Vi muita gente reclamando, dizendo que é injusto, pois para mim funcionou muito bem.” Gomes disse que, apesar de ter o certificado, vai estudar mais. “Quero melhorar essa nota porque gostaria de cursar Medicina e quem sabe me tornar cardiologista”, comenta. A média de 529 pontos até permitiria a ele se matricular nos cursos menos disputados, mas, para a carreira de médico, a menor média exigida no Sistema de Seleção Unificado (SiSU) – processo que disponibiliza as vagas via Enem – foi de 712. “Quem sabe?”, pergunta Gomes.
Cinthia Rodrigues, iG São Paulo

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