O projeto é voltado para pessoas que trabalham com tradução,
interessados em redes sociais e também para o público em geral
Foto: Kid Júnior
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Pesquisadores e acadêmicos em linguística do Brasil, Canadá, Espanha,
Itália, México e Portugal reuniram, em um dicionário on-line, mais de
114 termos que compõem o vocabulário dos usuários das redes sociais. As
famosas "selfies", por exemplo, podem ter diferentes versões em cada
ponto do mapa. O material foi organizado pelo Centro de Terminologia da
Catalunha (Termcat) e contou com a participação de três acadêmicos
brasileiros, entre eles, o professor da Universidade Federal do Ceará
(UFC), Márcio Sales Santiago.
No trabalho "Vocabulari Panllatí de les Xarxes Socials" (Vocabulário
Panlatino das Redes Sociais), o usuário da internet encontra um
instrumento linguístico tradicional - o dicionário, em que o conteúdo é
marcado pela informalidade e pela efemeridade das expressões, traduzidas
para outros idiomas. Conforme Márcio, esse é o primeiro dicionário a
sistematizar de forma científica o tema.
A pesquisa envolveu a busca de denominações equivalentes em seus países
de origem, em um total de seis línguas românicas (derivadas do latim):
catalão, espanhol (com variantes da Espanha e do México), francês,
galego, italiano e português (com variantes do Brasil e de Portugal).
Público-alvo
O projeto tem como público-alvo pessoas que trabalham com tradução,
interessados em redes sociais e público em geral, com o intuito de
facilitar o acesso aos diversos conceitos explorados no ambiente online.
No processo de pesquisa, os estudiosos investigaram a maneira como os
conceitos se aplicavam no Brasil, muitas vezes, reproduzindo vocábulos
norte-americanos, como "timeline", "selfie", "profile", que também não
excluíam versões traduzidas, como "linha do tempo" ou "perfil". No
entanto, a importação das expressões e, consequentemente, da cultura
americana, é o que incomoda os idealizadores. Em contraposição, o
desenvolvimento das línguas latinas está entre principais as motivações
para concepção do dicionário, de acordo com Márcio.
Para ele, uma vez catalogados os 114 termos, as expressões deixam de ser neologismos, passando a existir oficialmente.
O membro da Academia Cearense de Letras e professor da Universidade de
Fortaleza (Unifor), José Batista de Lima - declaradamente um "defensor
da língua padrão" - vê a iniciativa de outra forma. Para ele, a
linguagem de Internet não representa a língua portuguesa, nem se
legitima quando se propõe a fazer sua promoção através da incorporação
de uma linguagem que deturpa a norma padrão.
"Reconheço que essa é uma linguagem de grupos, mas não representa nossa
cultura. Quando você usa aqueles termos da internet, você está tentando
impor, fazendo com que as pessoas deixem de usar uma linguagem padrão
para usar uma linguagem alternativa. Não é a língua que vai se adaptar
as novas tecnologias. É o inverso", comenta.
Na opinião de Cláudio Barbosa, professor de língua portuguesa da
Universidade Estadual do Ceará (Uece), o trabalho se volta àqueles que
atuam com informática e tradução, com caráter instrumental. No que tange
a língua portuguesa, considera que o vocabulário não fortalece a
representação, por tratar de vocábulos provenientes de produtos de
outras culturas.
Mais informações
Vocabulari Panllatí de les Xarxes Socials (Vocabulário Panlatino Das Redes Sociais):
Bárbara Almeida
Especial para cidade
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