quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

“É Melhor Viver Como Ateu Do Que Ir À Igreja E Odiar Os Outros” – Papa Francisco


Por Vatican News
Na primeira Audiência Geral do ano de 2019, o Papa deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o Pai Nosso, iniciado em 5 de dezembro, inspirando-se nesta quarta-feira na passagem de Mateus 6, 5-6.
Com esta leitura, o Papa Francisco afirmou que é preferível viver como ateu do que ir todos os dias à igreja e passar a vida a odiar e a criticar os outros.

O Evangelho de Mateus – explicou Francisco – coloca o texto do “Pai Nosso” em um ponto estratégico, no centro do Sermão da Montanha (Mt 6, 9-13). Reunidos em volta de Jesus no alto da colina, uma “assembleia heterogênea” formada pelos discípulos mais íntimos e por uma grande multidão de rostos anônimos é a primeira a receber a entrega do Pai Nosso. 

Quantas vezes vemos o escândalo dessas pessoas que passam o dia na igreja, ou que lá vão todos os dias, e depois vivem a odiar ou a falar mal dos outros”, assinalou Francisco durante a audiência geral que tem todas as quartas-feiras com os fiéis.

O Papa acrescentou: “Se você vai à igreja, então viva como filho, como irmão, dá um verdadeiro exemplo. Do contrário é melhor nem ir à igreja. É melhor viver como ateu”, afirmou.

“Os pagãos acreditam que se reza a falar, a falar, a falar. Eu penso em muitos cristãos que acreditam que rezar é falar com Deus, salvo seja, como um papagaio. Não, rezar faz-se com o coração, a partir do interior”, defendeu.

O Evangelho é revolucionário
Neste “longo ensinamento” chamado “Sermão da Montanha”, de fato, Jesus condensa os aspectos fundamentais de sua mensagem:

“Jesus coroa de felicidade uma série de categorias de pessoas que em seu tempo – mas também no nosso! – não eram muito consideradas. Bem-aventurados os pobres, os mansos, os misericordiosos, os humildes de coração … Esta é a revolução do Evangelho. Onde está o Evangelho há uma revolução. O Evangelho não deixa quieto, nos impulsiona, é revolucionário”.

“Todas as pessoas capazes de amar, os pacíficos que até então ficaram à margem da história, são, ao contrário, construtores do Reino de Deus”. É como se Jesus – explica o Papa – estivesse dizendo: “em frente, vocês que trazem no coração o mistério de um Deus que revelou sua onipotência no amor e no perdão!”

Desta porta de entrada, que inverte os valores da história, brota a novidade do Evangelho:
“A lei não deve ser abolida, mas precisa de uma nova interpretação, que a leve de volta ao seu significado original. Se uma pessoa tem um bom coração, predisposto a amar, então compreende que cada palavra de Deus deve ser encarnada até suas últimas consequências. O amor não tem limites: pode-se amar o próprio cônjuge, o próprio amigo e até mesmo o próprio inimigo com uma perspectiva completamente nova”.

Este é “o grande segredo que está na base de todo o Sermão da Montanha: sejam filhos de vosso Pai que está nos céus”, disse o Pontífice, chamando a atenção para o fato de que em um primeiro momento, estes capítulos do Evangelho de Mateus podem parecer um discurso moral, evocar uma ética tão exigente a ponto de parecer impraticável. Mas pelo contrário, “descobrimos que são sobretudo um discurso teológico:

“O cristão não é alguém que se esforça para ser melhor do que os outros: ele sabe que é pecador como todos. O cristão é simplesmente o homem que para diante da nova Sarça Ardente, da revelação de um Deus que não traz o enigma de um nome impronunciável, mas que pede a seus filhos que o invoquem com o nome de “Pai”, para deixar-se renovar por seu poder e de refletir um raio de sua bondade por este mundo tão sedento de bem, tão à espera de boas notícias”.

Coerência cristã
E Jesus – explica o Papa – introduz o ensinamento da oração do “Pai Nosso” distanciando dois grupos de seu tempo, começando pelos hipócritas”, que rezam nas praças e sinagogas para serem vistos. “Há pessoas – disse o Francisco – que são capazes de tecer orações ateias, sem Deus: fazem isso para serem admiradas pelos homens”, completando:

“E quantas vezes nós vemos o escândalo daquelas pessoas que vão à igreja, estão lá todo o dia, ou vão todos os dias, e depois vivem odiando os outros e falando mal das pessoas. Isto é um escândalo. Melhor não ir à igreja. Viva assim como ateu. Mas se você vai à igreja, viva como filho, como irmão e dá um verdadeiro testemunho. Não um contratestemunho”.

A oração cristã, pelo contrário, não tem outro testemunho crível senão a própria consciência, onde se entrelaça intensamente um diálogo contínuo com o Pai.

Rezar com o coração

“Jesus então, continuou Francisco – toma distância das orações dos pagãos que acreditavam ser ouvidos pela força das palavras”.

O Papa recorda a cena do Monte Carmelo, onde diferentemente dos sacerdotes de Baal que gritavam, dançavam, pediam tantas coisas, é ao Profeta Elias, que fica calado, que o Senhor se revela:

“Os pagãos pensam que falando, falando falando, se reza. Também eu penso aos tantos cristãos que acreditam que rezar – desculpem-me – é falar a Deus como um papagaio. Não! Rezar se faz do coração, de dentro”.

O Pai Nosso – reitera o Santo Padre – “poderia ser também uma oração silenciosa: basta no fundo colocar-se sob o olhar de Deus, recordar-se de seu amor de Pai, e isto é suficiente para serem ouvidos”.

Deus não precisa de sacrifícios para conquistar seu favor
“Que bonito pensar que o nosso Deus não precisa de sacrifícios para conquistar o seu favor! Ele não precisa de nada, nosso Deus: na oração pede somente que tenhamos aberto um canal de comunicação com ele, para nos descobrirmos sempre seus amados filhos”, disse o Papa ao concluir.

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