DOMITILA ANDRADE
“Gol, gol do Brasil, Pelé! Meus amigos, é a vitória brasileira. Pelé acaba de marcar o quinto tento, aos 46 minutos de jogo. Pelé! Terminou a partida! Campeões do mundo. Os brasileiros saltam como crianças”. Há 60 anos, a voz de Oswaldo Moreira anunciava pela rádio Nacional, direto da Suécia, que o escrete canarinho conquistava pela primeira vez uma Copa do Mundo. O ano era 1958 e o Brasil vencia de 4 a 2 os donos da casa. Mas para o menino de 17 anos, não bastava: Pelé chapelou o camisa 3, Axbom, e da marca do pênalti chutou para glória.
No Estádio Rasunda, na cidade sueca de Solna, 49.469 pessoas viram o 5 a 2. No Brasil, milhões de pares de ouvidos atentos: àquela altura, uma marchinha se misturava à narração. Era festa. A nação do Carnaval pariu o País do Futebol. De camisas azuis, como o manto de Nossa Senhora, Gilmar, Djalma Santos (o lateral da Copa com uma única atuação), o capitão Bellini, Zito, Orlando Nilton Santos, Garrincha, Didi (o melhor do Mundial), Vavá, Pelé (a a revelação) e Zagallo afastavam os fantasmas de 1950 e levantavam a taça Jules Rimet.
No dia seguinte, as manchetes de todos os jornais estampavam a vitória de virada, após o primeiro gol da Suécia. Vavá marcou dois tentos, Zagallo anotou um, e Pelé completou a artilharia do time com mais dois. O POVO dedicava a primeira página inteira aos 11 jogadores, e cravava: “O maior campeão que o mundo já teve”.
“A nossa chegada foi uma grande festa. E o mais importante é que o Brasil ficou conhecido no mundo inteiro. Antes ninguém conhecia o Brasil”, relembra Pelé, em entrevista à Gazeta Esportiva, sobre a conquista.
“Daí em diante passamos a conviver com as vitórias do futebol brasileiro. Na época, despontaram grandes estrelas”, relembra o escritor e pesquisador de futebol Airton Fontenele, que em 1958, tinha 31 anos.
A campanha canarinha foi marcada por cinco vitórias e um empate por 0 a 0 com a Inglaterra. Foi a dificuldade em chegar ao gol que fez o técnico Vicente Feola colocar Garrincha, Pelé, que se recuperava de contusão, e Zito para a terceira partida. Sem os bicampeões Uruguai e Itália, a Copa estava fadada a ser do futebol científico da União Soviética ou da goleadora França — com Fontaine e seu recorde de 13 gols em um único Mundial. Mas o Brasil atropelou os dois no caminho.
“Um negro, Pelé, e um índio, Garrincha, ganham a Copa para o Brasil. E se combate um preconceito de que o brasileiro é instável porque é um povo mestiço. De que a habilidade não poderia ser também eficiente. Se começa a criar uma tradição, uma escola brasileira do futebol arte, influenciada pela cultura negra, pelo samba. 58 fica no imaginário das pessoas como o futebol ideal”, sintetiza Airton de Farias, professor e historiador.
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