por Honório Barbosa - Diário do Nordeste
Faltando 32 dias para o fim da quadra chuvosa cearense (fevereiro a maio), as precipitações de abril, no que pese a ausência de chuvas significativas no na segunda quinzena, contribuíram sobremaneira para atingir a média histórica. Até ontem, foram 516, 1mm. Segundo os critérios estabelecidos pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), é considerado dentro da média da quadra o intervalo entre 505,6 mm a 698,8 mm.
Além das chuvas mais favoráveis, diferentemente do que ocorreu no ano passado, o aporte dos açudes é considerado razoavelmente positivo, levando-se em consideração a realidade vivida nos últimos seis anos no Semiárido. Em 2017, a Funceme registrou, durante a quadra chuvosa inteira, 551.7mm, dos quais 482,2 de fevereiro a abril. Em comparação com o mesmo período, até ontem, já choveu 34mm a mais, neste ano.
Trimestre
Este mês está chegando ao fim e com ele se encerra o trimestre (fevereiro - abril) com bons resultados pluviométricos em comparação com os últimos seis anos e também na recuperação das reservas hídricas do Ceará. No período, o acumulado das chuvas está em torno de 516.1mm, um pouco acima do esperado, que é de 510.1mm. É o melhor trimestre desde 2012 e talvez supere 2011, que registrou 523.0mm, pois ainda faltam três dias para abril terminar.
Até agora segue a tendência de encerramento do ciclo de seca que começou em 2012. A situação começou a reverter-se em 2017. No ano passado, no Estado, as chuvas ficaram na categoria em torno da média durante a quadra chuvosa (fevereiro a maio). Na região Norte, no Litoral, Maciço de Baturité e na Ibiapaba, as precipitações ficaram acima do esperado para o período. As primeiras quinzenas de março e abril foram favoráveis, mas nos períodos seguintes, os índices pluviométricos caíram. Agora, a Funceme espera o retorno das chuvas para o início da semana que aproxima.
Mais chuvas
O meteorologista Raul Fritz disse que há chance de as chuvas seguirem boas no início de maio próximo. O Órgão não faz previsão mês a mês, mas as condições de temperatura das águas superficiais do Oceano Atlântico Sul Equatorial, que estão mais aquecidas do que no Oceano Atlântico Norte, aliadas a outros fatores, indicam um quadro favorável às precipitações na região.
"Em comparação com o período que segue desde 2012 já se pode falar que, em 2017, houve uma pequena melhoria e que, neste ano, o quadro segue mais significativo nos índices pluviométricos, inclusive no Sul do Ceará (Cariri), assinalando para o fim do período de seca", explicou Fritz. O meteorologista observa que muitos açudes estavam vazios, pois vinham perdendo reserva desde 2012, mas, neste ano, houve uma retomada dos aportes hídricos.
Maio, que é o último mês da quadra chuvosa, vai definir se o atual período será o melhor dos últimos sete anos em índices pluviométricos. Já abril, que está findando, assinala a marca de melhor índice pluviométrico desde 2010. Até ontem a Funceme registrou, no acumulado do período, 208mm, isto é, 10.6% acima da média que é de 188mm.
A Funceme divide o Ceará em oito macrorregiões. Observando o trimestre - fevereiro a abril - sete ficaram com índices acima da média. Os dados são parciais e têm por base o dia de ontem, 27: Litoral de Fortaleza (0.2%), Sertão Central e Inhamuns (0.6%), Maciço de Baturité (11.5%), Jaguaribana (12.4%), Ibiapaba (12.8%), Litoral Norte (16.1%) e Cariri (17.5%). Já o Litoral do Pecém ficou com déficit de -7.5%.
Reservas hídricas
Com essas chuvas, os açudes registraram aportes e ultrapassaram 16%. Há exatamente um ano, o volume médio observado nos 155 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) era de 12,5%. Havia dez reservatórios sangrando e três apresentavam volume acima de 90%.
Desde 2012 que o volume acumulado nos açudes monitorados pela Cogerh vem caindo. No ano anterior, em 2011, os reservatórios apresentavam uma média de 73,2%, após o fim da quadra chuvosa, em 31 de maio. Em 2012, na mesma data, reduziu para 66%. Em 2013, caiu para 42,6% e seguiu essa tendência nos períodos seguintes. Em 2016, chegou a 11,9% e em 2017, registrou um pequeno aumento, indo para 12,6%.
No início deste ano, o volume médio acumulado era 6,7%. A recarga mais significativa ocorreu na primeira quinzena deste mês de abril. "Estávamos no limite, com risco de importantes açudes secarem", observou o presidente da Cogerh, João Lúcio Farias. Afinal, era o sexto ano seguido de perda de reservas hídricas e dezenas de outros reservatórios estavam secos ou na iminência de secarem.
O Castanhão, maior do Estado, estratégico para o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e para os municípios da Bacia Hidrográfica do Baixo Jaguaribe, totalizando cerca de 4,5 milhões de pessoas, iniciou o ano com apenas 2,61% e seguiu perdendo volume até chegar a 2,08 em 22 de fevereiro. Foi o menor volume desde que foi inaugurado e recebeu a primeira recarga. Atualmente, acumula 8,44%.
O segundo maior, Orós, transferiu água para o Castanhão e para a RMF. O reservatório acumula agora 9,62%. No início do ano estava com 6,15%. A recarga foi reduzida por causa das chuvas escassas na Bacia do Alto Jaguaribe e do Rio Cariús, no Cariri Oeste.
O Banabuiú, o terceiro maior do Estado, está com 6,04%. Um índice reduzido, mas, no início deste mês, acumulava apenas 0,44%. "Boas chuvas que banharam a região favoreceram a recarga do reservatório", observou o gerente regional da Cogerh, Paulo Ferreira. "É o maior aporte dos últimos anos". Desde 2012 que o Banabuiú perde volume, cuja queda foi intensificada a partir de 2014.
Segundo o Portal Hidrológico da Cogerh, neste fim de abril, as Bacias Hidrográficas que têm maior volume são Coreaú (91,34%), Litoral (79,118%), Baixo Jaguaribe (45,54%), Serra da Ibiapaba (34,40%) e Metropolitana (29,51%). Houve melhoria na Bacia do Salgado (28,41%), Banabuiú (9,33%) e Médio Jaguaribe (8,27%). Houve, neste ano, aumento das reservas nos Sertões de Crateús (15,54%). A redução das chuvas nos últimos dias freou o ritmo dos aportes. O volume nos rios e riachos baixou. O mês de maio, último da quadra chuvosa, tem uma média pluviométrica de apenas 90.6mm.
É preciso atenção
O presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins, confirmou, em entrevista ao jornalista José Maria Melo, no Aeroporto, que houve uma recuperação, em termos de volume acumulado, mas que existe uma variabilidade espacial muito grande das chuvas, principalmente em relação ao aporte do Castanhão. Para ele, a situação ainda preocupa porque são seis anos de chuvas abaixo da média, principalmente no Alto e Médio Jaguaribe e, para se recuperar numa situação dessa, não dá em um ano só, "Precisaríamos de um ano excepcional e não é isso que nós estamos tendo. Não temos previsão para 2019 ainda, mas é preciso cautela e economia de água para, primeiro, vencer o ano de 2018 e, depois, deixar uma reserva para ajudar nas demandas de 2019. Os sinais do Pacífico mostram uma probabilidade de El Niño, ainda que não muito alta, e agente precisa acompanhar", declarou.
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