domingo, 21 de janeiro de 2018

Cantoria nordestina de luto com a morte de “Louro Branco”

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(Com colaboração do cartunista, produtor cultual e também cordelista Klevysson Viana)
Por Eliomar de Lima 
O mundo do cordel está de luto.

Vítima de complicações cardíacas, morreu, em Caruaru (PE), na última quinta-feira(18), o repentista cearense Francisco Maia de Queiroz (74), o “Louro Branco”. Ele era conhecido por sua verve irônica e espirituosa na abordagem de assuntos dos mais variados do cotidiano do homem nordestino. Estava na lista dos principais cantadores do Nordeste, tendo conquistado diversos prêmios, inclusive o de melhor cantador do país.

O repentista, que morava na cidade pernambucana desde 1991, nasceu no dia 2 de setembro de 1943 na Vila Feiticeiro, no município de Jaguaribe, e trabalhou como pescador, agricultor e vendedor ambulante. Começou a cantar aos 12 anos de e morou em várias cidades nordestinas.
O artista popular nordestino levou sua poesia e arte no improviso para 20 estados brasileiros, participou de mais de 400 festivais com todos os maiores cantadores do Nordeste e prestou grande contribuição para a cultura popular. Ao longo de sua carreira, foi autor de mais de 700 composições e escreveu dois livros: “A natureza falando” e “Da casca até o miolo”.
“Louro Branco” chegou a participar de longa do cineasta Rosemberg Cariry fazendo o papel de Cego Aderaldo.

Confira poema “O Casamento dos Velhos”, de Louro Branco:

Tem certas coisas no mundo
Que eu morro e num acredito
Mas essa eu conto de certo
Dum casamento bonito
De um viúvo e uma viúva
Bodoquinha Papaúva
E Tributino Sibito

O véio de oitenta ano
Virado num estopô
A véia setenta e nove
Maluca por um amor
Os dois atrás de esquentar
Começaram a namorar
Porque um doido ajeitou

Um dia o véio comprou
Um corpete pra bodoquinha
Quando a véia foi vestir
Nem deu certo, coitadinha
De raiva quase se lasca
Que o corpete tinha as casca
Mas os miolo num tinha

No dia três de abril
Vêi o tocador Zé Bento
Mataram trinta preá
Selaram oitenta jumento
Tributino e Bodoquinha
Sairam de manhazinha
Pra cuidar do casamento

O veião saiu vexado
Foi se arranchar na cidade
Mandaram chamar depressa
Naquela oportunidade
O veião chegou de choto
Inda deu catorze arroto
Que quase embebeda o padre

O padre ai perguntô:
Seu Tributino, o que pensa,
Quer receber Bodoquinha
Sua esposa, pela crença?
O veião dixe: eu aceito
Tô tão vexado dum jeito
Chega tô sem paciência

E preguntô a Bodoquinha:
Se aceitar esclareça
A véia lhe arrespondeu
Dando um jeitim na cabeça
Aceito de coração
Tô cum tanta precisão
Tô doida que já anoiteça

Casaram, foram pra casa
Comeram de fazer medo
Conversaram duas horas
Uns assuntos duns segredo
E Bodoquinha dixe: agora,
Meu pessoá, vão embora
Que eu quero drumi mais cedo

O véi vestiu um pijama
Ficou vê uma raposa
A véia de camisola
Dixe: óia aqui sua esposa
Cuma é, vai ou num vai?
O veião dixe: ai, ai, ai
Já tá me dando umas coisa

A véia dixe me arroche
Cuma se novo nóis fosse
O véio dixe: ê minha véia
Acabou-se o que era doce
A véia dixe: é assim?
Então se vai dar certim
Que aqui também apagou-se

Inda tomaram uns remédio
Mas num deu jeito ao enguiço
De noite a véia dizia:
Mas meu véi, que diabo é isso?
Vamo vendê essa cama
Nóis sempre demo na lama
Ninguém precisa mais disso

A véia dixe: isso é triste
Mas esse assunto eu esbarro
Eu já bati o motor
Meu véi estrompou o carro
Ê, meu veião Tributino
Nóis dois só tem um menino
Se a gente fizer de barro.

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