por Lêda Gonçalves - Diário do Nordeste
O Zika é também uma doença sexualmente transmissível (DST). É o que alerta o professor e pesquisador do Departamento de Imunologia da Universidade de São Paulo (USP), Jean-Pierre Peron. Segundo ele, durante Simpósio Internacional sobre Neuroinflação, promovido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), realizado no Centro de Eventos do Ceará, o vírus (ZKV) pode ser transmitido através de relação sexual de uma pessoa com Zika para os seus parceiros, mesmo que ela já esteja infectada e não apresente os sintomas da doença. "O mosquito Aedes aegypti pica a pessoa, transmite o vírus e se ela transar sem camisinha está colocando em risco o outro não só para a infecção em questão como para outras DSTs", afirma, acrescentando que isso é de conhecimento mundial e não entende as razões porque no Brasil, a informação não esteja disseminada. "Nos Estados Unidos, ainda no aeroporto, se ver cartazes chamando atenção para o perigo", afirma.
De acordo com dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), entre janeiro e 11 de novembro deste ano, o Ceará somou 559 casos da enfermidade, sendo 80 em gestantes, mas sem casos de microcefalia, contra 103 no ano passado.
É certo que houve diminuição no número de novas ocorrências, explica Jean-Pierre, por vários motivos, sendo o mais provável porque o vírus infectou muita gente que ficou imunizada. No entanto, frisa, isso é por um período. O mosquito não foi debelado. "O problema para as futuras gerações ainda está muito longe de ser solucionado, ou seja, as crianças nascidas agora e sem contato com o vírus podem ser infectadas. Até porque, o ZKV está instalado no âmbito silvestre e, muito provavelmente, temos macacos infectados com Zika nas florestas e com isso o vírus pode voltar às cidades e ser transmitido para as pessoas".
Por esta razão, defende, existe a necessidade de se promover os estudos para a vacina. "Estamos com parceria com a Universidade de Harvard, no Estados Unidos, ainda nas primeiras fases da pesquisa", adianta.
Microcefalia
Um problema ainda grave, diz, é com relação aos bebês com microcefalia causada pelo ZKV. São cerca de três mil em todo o País. Eles estão se desenvolvendo, destaca, e muitas das pesquisas, entre elas, a que o grupo dele está envolvido, busca entender a patogenia da doença e quais os mecanismos celulares e moleculares que a promovem. "Hoje, a gente não fala em microcefalia e sim na Síndrome Congênita, porque os bebês carregam outros sinais e não só a microcefalia". Como exemplo, cita, degeneração macular, lesão da retina, restrição do crescimento, perdas auditivas, entre outros, e mesmo bebês sem a Síndrome podem ter problemas importantes do sistema nervoso. Entre o que o grupo de pesquisadores estuda está como o vírus se comporta no cérebro, que tipo de célula ele infecta, quais as proteínas que ele induz, resposta imune e invasão viral, nesse caso, entender qual o receptor que o vírus gruda para invadir a célula. "Se a gente entender essa biologia podemos intervir terapeuticamente, inclusive indo buscar drogas que possam impedir a ação do hospedeiro", pontua.
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