quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Pipeiros prometem manter paralisação por mais tempo

Enquanto suas reivindicações não forem atendidas, os pipeiros prometem ficar de braços cruzados, sem fornecer água às comunidades rurais do Interior cearense
por Alex Pimentel - Diário do Nordeste
À medida que os dias vão passando a crise vai aumentando. Essa é a amarga expectativa dos proprietários dos carros-pipa cadastrados no programa emergencial de abastecimento d'água do Governo Federal, a Operação Pipa, no Ceará. Os pipeiros, como são conhecidos, só pretendem retornar às atividades quando o Ministério da Integração Nacional assegurar o atendimento das reivindicações da categoria. Mais de 1.600 deles continuam de braços cruzados, garantem representantes da categoria.

No segundo dia de paralisação, que já contou com o protesto de moradores da zona rural de Boa Viagem, no Sertão Central, bloqueando a BR-020 por algumas horas justamente pela falta d'água nas cisternas das suas moradias, a pauta de reivindicações aumentou. Além da imediata substituição do sistema de monitoramento, os pipeiros reclamam de atraso no pagamento, alguns até de um ano após os serviços prestados. Também se queixam do valor do quilometro rodado não reajustado desde 2012.

O Ministério da Integração informou que a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) é o seu órgão subordinado responsável pela Operação Pipa e constantemente busca aprimorar o Sistema de Monitoramento de Carros-Pipa em função do desenvolvimento dos serviços e solicitações dos pipeiros. Qualquer possível inconsistência operacional apontada é imediatamente apurada juntamente com o Exército Brasileiro, executor e responsável pelo monitoramento, acrescenta.

Sobre o atraso nos pagamentos das rotas realizadas, o Ministério da Integração contesta as reclamações dos prestadores do serviço. Alega não haver pendências. Os repasses e pagamentos no Estado do Ceará estão em dia, acrescenta, reconhecendo ser um serviço fundamental para a população e que será normalizado o mais rápido possível para continuar o atendimento com a regularidade que tem sido mantida nos últimos anos.

"A operação é executada por meio de uma cooperação técnica e financeira entre o Ministério da Integração Nacional e o Ministério da Defesa. Os recursos para o programa são do Ministério da Integração, mas sua execução, o que inclui contratação, seleção, fiscalização e pagamento dos pipeiros, é de responsabilidade do Comando de Operações Terrestres do Exército Brasileiro (Coter). Sendo assim, o Comando poderá fornecer mais informações sobre o tema", justifica o Ministério.

Repasse

Ainda conforme o órgão federal responsável pelas obras contra as secas e de infraestrutura hídrica, o último repasse dos cofres da União para a Operação Pipa no Ceará, foi de R$ 21,2 milhões, respectivo ao mês de setembro, atendendo 867.200 habitantes da zona rural em 128 dos 184 municípios cearenses. No ano, os valores já chegam a R$ 181 milhões. A média mensal de moradores assistidos é de 800 mil. A reportagem também manteve contato com o Consórcio TBK, fornecedor e operador do sistema de monitoramento instalado nos carros-pipa. Um técnico chegou a atender as ligações e informou caber à direção da empresa os esclarecimentos dos problemas apontados no Ceará, a qual manteria contato em seguida. Todavia, até a conclusão desta edição não apresentou respostas às acusações.

Mesmo sem a menor estrutura, a maioria dos pipeiros pretende permanecer acampada ao lado dos seus caminhões, às margens dos mananciais, como é o caso do Canal da Integração em Morada Nova. Mais de 400 pipeiros captam a água para dezenas de comunidades do Sertão Central de lá. Muitos permanecem com os carros-pipa estacionados no pátio de abastecimento.

Insatisfação

As lideranças do Sindicato dos Pipeiros do Estado do Ceará (Sinpece) ficaram indignadas com a resposta do Ministério da Integração acerca dos problemas. Para eles, a revolta dos moradores que necessitam da água vai aumentar nos próximos dias provocando um efeito cascata por todo o Estado, afetando outros segmentos econômicos e principalmente as prefeituras, instituição pública mais próxima da população. Mas sem poder pagarem o combustível, o posto não fornece; se o pneu furar o borracheiro não vai remendar fiado.

Quanto ao bloqueio das rodovias com os carros-pipa, a maioria dos pipeiros considerou não ser a medida adequada para chamar a atenção dos governantes. Esse tipo de ação vai afetar o direito de ir e vir de quem não tem responsabilidade sobre o problema e causar transtornos para outros milhares de cearenses. O sofrimento da sede já é o pior deles e até um ato desumano, desabafa o pipeiro Leônidas de Araújo, conhecido como "Leosom". Ele é um dos líderes da paralisação.

Na avaliação do diretor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Ceará (Fetraece) no Sertão Central, José Militão, o desabastecimento só não vai se tornar mais grave em razão da proximidade das chuvas de fim de ano. Ele acrescenta que a maioria das moradias rurais tem cisternas, de 16 mil litros cada, mas nem todas recebem a água dos carros-pipa. Em razão da estiagem essa água não é utilizada apenas para o consumo e quando falta acaba causando desconforto para os moradores.

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