Um século após as aparições em Fátima, Portugal, a Igreja Católica garante já ter tornado público o conteúdo de todas as mensagens repassadas aos três pastores portugueses. |
IGOR CAVALCANTE-O POVO
Um século após as aparições em Fátima, Portugal, a Igreja Católica garante já ter tornado público o conteúdo de todas as mensagens repassadas aos três pastores portugueses. Contudo, muitos mistérios continuam despertando curiosidade sobre o que foi dito pela “senhora mais brilhante do que o Sol” naquele 13 de julho de 1917, na terceira das seis aparições na Cova da Iria.
Das crianças que viram Nossa Senhora, Lúcia dos Santos, 10 anos na época, foi a única que sobreviveu até a idade adulta e repassou o que foi dito pela mãe de Jesus. Francisco Marto, 9, e Jacinta Marto, 7, morreram ainda pequenos, ele com 10 anos, em 1919, e ela com 9, em 1920. Ambos foram vítimas da epidemia de Gripe Espanhola que assolou o mundo. Lúcia dedicou-se à vida religiosa e, em 1941, foi responsável por transcrever, sob ordem da Igreja, tudo que sabia sobre os dois primeiros segredos.
Segundo a irmã Lúcia, a primeira mensagem foi uma visão do inferno. As crianças viram multidão se debatendo num mar de fogo e sofrimento, queimando em meio às chamas eternas enquanto gritavam. O segundo segredo tratava de um pedido de culto ao imaculado coração de Maria e de conversão da Rússia, antiga União Soviética. Caso os pedidos fossem descumpridos, a profecia dizia que o mal cresceria no mundo com a expansão comunista e aconteceria uma segunda grande guerra.
O trecho da mensagem é um dos que geram controvérsia, já que inicialmente se falou em conversão do mundo. A referência à Rússia foi feita anos depois por Lúcia, quando tratou dos pecados e desvios, que faziam alusão à negação da fé cristã pelos russos. Outra polêmica sobre a descrição pelas crianças é sobre as vestimentas de Nossa Senhora. Os primeiros relatos apontam que ela estaria com vestido azul, “até um pouco abaixo do meio da perna”. Ao longo do tempo, a imagem adotada para descrever a aparição é ilustrada com manto branco e vestido descendo até os pés. Terceiro segredo Em meio aos anos entre as primeiras revelações e terceira, muito se especulou sobre o que tratava a derradeira mensagem. As teorias apontavam para profecias catastróficas, com descrição de guerras nucleares e assassinato de membros da Igreja.
O último segredo só foi revelado na virada do século, apesar de ter sido transcrito pela irmã em 1944, o que aumentou as especulações que relacionavam a mensagem a uma previsão sobre o fim do mundo.
No entanto, seguindo a gradação em que o primeiro segredo tratava das pessoas e o segundo das nações, o terceiro, revelado pelo papa João Paulo II, em 13 de maio de 2000, referia-se à Igreja. A profecia de Maria era sobre o atentado que o papa sofreu em 13 de maio de 1981, data em que se comemoraram 64 anos da primeira aparição.
Para a Santa Sé, não há dúvidas que o bispo vestido de branco, seguido de outros religiosos, subindo uma montanha escabrosa, entre ruínas, era João Paulo II. Na visão de Lúcia, o pontífice seguiu até uma cruz com andar cambaleante e se prostrou diante do objeto. Em seguida, ele foi morto por grupo de soldados. Até hoje, conspiracionistas ainda apontam que há trechos dos segredos que não foram revelados. O Vaticano nega que algo permaneça escondido.
Primeiro segredo “Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados nesse fogo os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas em os grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. Essa vista foi um momento, e graças à nossa boa Mãe do Céu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o Céu! Se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor.” (Relato de irmã Lúcia) Segundo segredo
“Vistes o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para salvá-las, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo pelos seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a Comunhão Reparadora nos Primeiros Sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz”. (Lúcia)
Terceiro Segredo “Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um anjo com uma espada de fogo na mão esquerda. Ao cintilar despedia chamas que pareciam incendiar o mundo. Mas, apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro. O anjo, apontando com a mão direita para a terra, com voz forte dizia: - Penitência, penitência, penitência.
“E vimos numa luz imensa, que é Deus, algo semelhante a como se veem as pessoas no espelho, quando lhe diante passa um bispo vestido de branco. Tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre. Vimos vários outros bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande cruz, de tronco tosco, como se fora de sobreiro como a casca. O Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade, meio em ruínas e meio trêmulo, com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena. Ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho.
“Chegando ao cimo do monte, prostrado, de joelhos, aos pés da cruz, foi morto por um grupo de soldados que lhe disparavam vários tiros e setas e assim mesmo foram morrendo uns após os outros, os bispos, os sacerdotes, religiosos, religiosas e varias pessoas seculares. Cavalheiros e senhoras de várias classes e posições. Sob os dois braços da cruz, estavam dois anjos. Cada um com um regador de cristal nas mãos recolhendo neles o sangue dos mártires e com eles irrigando as almas que se aproximavam de Deus.” (Lúcia)
Saiba mais Na celebração dos 64 anos da primeira aparição, o papa João Paulo II foi baleado na Praça de São Pedro. O pontífice sobreviveu aos dois disparos e sempre afirmou que Nossa Senhora de Fátima “desviou as balas”. Em 1982, o papa visitou Fátima e ofereceu um dos projéteis que o atingiu. A bala permanece até hoje na coroa da imagem da Virgem.
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