Apesar das chuvas que banham o Ceará desde o início do ano, ainda não é possível comemorar uma recarga significativa nos açudes que abastecem as cidades cearenses. O Castanhão, principal fornecedor de Fortaleza e da Região Metropolitana (RMF), tem, atualmente, menos de 6% da capacidade, conforme a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). Nesse cenário, o secretário dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, reforçou que a RMF possui água para abastecer a população somente até a próxima estação chuvosa, no início de 2018.
"Nós temos um aporte razoável na Região Metropolitana, o que nos dá a condição, fazendo o uso racional da água, de chegarmos até a próxima estação chuvosa, se continuarmos com a tarifa de contingência e com todos os instrumentos de gestão da demanda. Mas, se não chover ano que vem, não teremos mais, como tínhamos até hoje, o suporte complementar do açude Castanhão", frisou.
Teixeira viajou a Brasília, ontem, para reunião com o Ministério da Integração na tentativa de liberar recursos para o Cinturão das Águas e para a instalação de adutoras no Interior do Ceará. O secretário comentou ainda a situação das obras do Eixo Norte da transposição do Rio São Francisco, cuja licitação está sendo investigada pelo Ministério Público Federal (MPF) após o Ministério da Integração inabilitar os dois consórcios mais bem colocados e conceder vitória ao terceiro, o consórcio Emsa-Siton.
"Deus queira que o Ministério consiga logo resolver isso e dê a ordem de serviço para reiniciar a obra para ver se, em seis meses ou até o fim do ano, essa água chegue aqui, porque ela é muito importante para nós", finalizou. A obra é uma das alternativas para aliviar a situação hídrica do Estado. Enquanto nada está consolidado, o secretário defende a necessidade de continuar racionalizando o uso da água.
Atualmente, os 153 açudes monitorados pela Cogerh apresentam volume percentual de apenas 12,7%. Nesse cenário, ações que evitem o desperdício de água são essenciais, como alerta a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). A diretora de Mercado do órgão, Cláudia Caixeta, explica que o combate às fraudes, os "gatos" na rede de água, tem sido intensificado para coibir o uso de forma inadequada.
Desde o ano passado, mais de 163 mil imóveis cearenses passaram por vistoria, nos quais foram detectadas quase 14 mil fraudes. Apesar do número alto, 9,2 mil clientes já regularizaram a situação junto ao órgão. No momento, 54 equipes da Cagece realizam fiscalizações aos domicílios. No geral, o combate às perdas de água e a retirada de vazamentos já resultaram na recuperação de 231 litros por segundo na vazão da rede.
Além disso, conforme Cláudia, a Companhia reduziu de 24h para 13h o tempo médio para a solução de vazamentos em Fortaleza e na Região Metropolitana. "Também fizemos a substituição de tubulações antigas para evitar o desperdício, já que nosso objetivo é evitar o racionamento", destaca. Para a diretora, a população também tem se conscientizado mais sobre a situação hídrica do Estado.
Prova disso é que, em março, segundo a Cagece, houve redução de 13,98% no consumo hídrico em Fortaleza e RMF, maior índice de economia alcançado desde a implantação da tarifa de contingência, em dezembro de 2015. A medida, que aplica multa de 120% sobre a conta dos consumidores que excedem o consumo, ainda não ultrapassou sua meta, estipulada em 20%.
A cobrança da tarifa, conforme definição das agências reguladoras de serviços de saneamento ambiental, não pode ser aplicada a hospitais, prontos-socorros, delegacias, presídios, casas de detenção e centros socioeducativos. Para garantir o abastecimento desses locais, o Governo do Estado, por meio do Plano de Segurança Hídrica da RMF, estabeleceu a revisão ou a perfuração de novos poços em prédios públicos localizados em áreas críticas de distribuição.
Diagnóstico
Segundo a Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), o Decreto Estadual nº 31.723/2015 orienta uma redução de 20% no consumo de água e energia elétrica dos órgãos estaduais. Além disso, afirma que o Estado já havia "implantado robusta rede de poços em equipamentos públicos" em outros momentos de escassez hídrica. Mesmo assim, nos últimos meses, 76 imóveis públicos foram visitados para diagnosticar a situação dos equipamentos, nos municípios de Fortaleza, Caucaia, Pacajus, Itaitinga, Maracanaú e Eusébio; em cinco, os poços estão secos e, em três, haverá perfuração.
A partir das análises nos equipamentos, os técnicos determinam que tipo de uso o poço pode ter. No Hospital do Coração de Messejana, por exemplo, o abastecimento da Cagece é complementado por três poços desde o fim de 2015. Segundo o sanitarista da unidade, Maurílio Cardoso, os aparelhos têm boa vazão e já impactaram positivamente na redução da conta de água. "Estamos fazendo um estudo para posteriormente avaliarmos os impactos a longo prazo", explica.
Mais informações
Cagece Mobile, para smartphones; Central de Atendimento Telefônico (0800.275.0195);
Chat Online: no portal da Companhia ou pelas redes sociais
(Colaboraram Nícolas Paulino e José Maria Melo)
Diário do Nordeste
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