O Estado do Ceará conseguiu reduzir em 31% o número de óbitos maternos nos últimos dois anos. A informação consta no Boletim Epidemiológico da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), atualizado em abril deste ano, que mostra a queda de 135 mortes durante ou após a gravidez, em 2014, para 93 em 2016. É a redução mais significativa desde 2011. As causas de mortalidade materna que mais preocupam, segundo a supervisora do Núcleo da Saúde da Mulher, Adolescente e Criança da Sesa, Silvana Leite Napoleão, são os óbitos causados por hipertensão ou hemorragia. O alerta faz alusão ao Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, comemorado hoje.
O boletim identificou o número de mortes por causas obstétricas diretas, que ocorre por complicações durante a gravidez, parto ou puerpério, devidas à intervenções, omissões, tratamento incorreto ou cadeia de eventos resultantes a uma dessas causas; a morte obstétrica indireta é relacionada a doenças pré-existentes à gestação e se desenvolvem nesse período; e a morte tardia, quando o óbito ocorre após 42 dias do parto e antes de completar um ano. Conforme os dados, as mortes diretas representam 47,3% dos 93 óbitos em 2016. Das 44 mortes obstétricas, 8 (18,2%) decorreram de hemorragias e hipertensão, seguidas por complicação no parto, que foram 7 (15,9%). Já as causas de mortes obstétricas indiretas somam 23 (24,7%), sendo as doenças do aparelho circulatório a maior causa,7, enquanto os óbitos tardios foram 20.
Conforme a supervisora, a redução da mortalidade materna no Ceará começou a apresentar resultados positivos após início do programa Rede Cegonha, que implementou várias ações, incluindo a proposta de atenção humanizada ao parto normal e no melhoramento dos ambientes das maternidades, com recursos oriundos do Ministério da Saúde. Silvana Leite observa, inclusive, que na rede pública aumentou o número de partos normais. O que eleva o Estado, ainda, a uma grande quantidade de cesáreas são os procedimentos realizados nas redes hospitalares particulares. “Nós sensibilizamos os profissionais de saúde para adotar uma política de parto humanizado e a rede pública tem aumentado bastante o número de partos normais, o que eleva nossas taxas cesáreas, no Estado, são a rede particular, não a pública”, considerou.
Atenção primária
A supervisora do Núcleo da Saúde da Mulher, Adolescente e Criança reiterou que as principais causas das mortes obstétricas no Ceará são decorrentes de casos de hipertensão, hemorragia e infecções. De acordo com Silvana, o maior desafio é identificar a gestante de alto risco, logo, na atenção primária e dar assistência para evitar riscos de morte. “Na atenção primária é onde se passa os exames, o acompanhamento e a estratificação de risco dessa gestante, se é considerada hipertensiva ou diabética. A Sesa publicou uma linha guia – Nascer que contém todas as orientações necessárias na atenção primária e, assim, dar um maior cuidado com essa gestante”, explicou.
Devido aos números de óbitos maternos por hemorragia no Ceará, o Estado entrou no Programa Zero Morte Materna por Hemorragia, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com o Ministério da Saúde. O projeto prevê a distribuição de 60 trajes que fazem a compressão da pelve e de membros inferiores do corpo. Os trajes são utilizados para garantir a continuidade do fluxo sanguíneo em órgãos vitais da paciente com hemorragia, como o cérebro, coração e pulmão até que seja transferida para o local em que possa ser prestada a assistência médica.
Conforme Silvana Leite, no próximo dia 8 de junho, haverá um curso Zero Morte Materna para capacitar os profissionais a evitar a hemorragia pós-parto. Também deverá ser lançado um novo projeto que irá reorganizar o linha guia – Nascer. O linha guia vai padronizar as gestantes em todo o Estado.
Direito das mulheres
Neste Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) defende a valorização do parto normal e o respeito ao direito de as mulheres escolherem onde, como e com quem querem ter seus filhos. “Sabemos que o Brasil vive uma epidemia de partos cesárea, alcançando números alarmantes e que não são motivo de orgulho. As razões para essa distorção são variadas, mas certamente passam pela pouca capacidade que o atual modelo médico-hospitalar tem para lidar com a imprevisibilidade e com os valores dos pacientes, especialmente com os valores das mulheres”, explica Daniel Knupp, secretário da entidade. Segundo Daniel, as mulheres estão sendo motivadas por argumentos equivocados para que escolham pela cesárea.
Desse modo, a SBMFC entende que quaisquer estímulos ao parto normal, como as s medidas do Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, são bem-vindos e que todos os esforços necessários devem ser tomados para que as medidas resultem no efeito esperado.
O Estado
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