Segundo vaticanistas, o pontífice continua a despertar um grande fervor entre os mais humildes, mas enfrenta mal-estar interno na Santa Sé ( Foto: AFP ) |
Cidade do Vaticano. Francisco, eleito ao trono de Pedro em 2013 para reformar um Vaticano abalado por escândalos, tem ainda muitos desafios pendentes depois de quatro anos de pontificado, assim como muitos obstáculos a superar para que os resultados se apresentem em curto prazo.
Hoje, dia 13 de março, o sumo pontífice argentino completa quatro anos no comando da Igreja católica ainda despertando um grande fervor popular, com sua linguagem afável, simples, que o conecta com os mais humildes. No entanto, não desperta o mesmo fervor na Cúria romana, o poderoso governo central da Igreja, com quem teve duros confrontos, mostrando sua postura mais dura e autoritária.
Em dezembro, por ocasião da saudação de Natal aos cardeais e bispos que trabalham no Vaticano, o Papa enumerou a lista de "antibióticos" para combater os males da Igreja, entre eles honestidade, humanidade, racionalidade, bondade, respeito, lealdade e sobriedade.
Segundo um bispo argentino próximo ao Papa, Francisco conta com o apoio de cerca de 20% da Cúria e apenas uma minoria se opõe abertamente a sua gestão. Os vaticanistas recordam que introduzir mudanças na Igreja sempre foi um trabalho lento e que, em dois mil anos de história, a instituição soube sobreviver aos desafios e contradições. A questão da pedofilia dos padres continua sendo um espinho no pontificado de Francisco e um dos problemas mais graves que precisa encarar.
Perda de aliada
No início de março, Francisco perdeu uma aliada-chave na luta contra os abusos sexuais cometidos por padres, a irlandesa Marie Collins, uma ex-vítima, que renunciou a fazer parte do grupo de especialistas criado por ele para combater o fenômeno.
Collins denunciou principalmente as resistências, obstáculos e falta de colaboração por parte de alguns membros da Cúria, principalmente da Congregação para a Doutrina da Fé, guardiã do dogma e da moral.
Risco de isolamento
"Acho que é preciso acabar com o clichê de que o Papa é bom e a Cúria é má", explicou o cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, conhecido por suas posições conservadoras e encarregado da influente congregação, conhecida no passado como Santa Inquisição. O vaticanista Gianni Valente, da página especializada "Vatican Insider", sensível à mensagem do Papa, teme que "o clichê Papa bom, Cúria má" termine por afetar negativamente o pontífice, isolando-o.
"Há muito mal-estar interno, como a dos meios de comunicação", explicaram fontes que ligadas à Cúria.
Outra reforma-chave que pretende por fim à desordem imperante por décadas na administração do Estado vaticano foi a de melhorar o emprego de recursos e garantir a transparência nas finanças vaticanas para ampliar seus programas de ajuda aos mais necessitados e marginalizados da sociedade.
A mesma Santa Sé reconheceu que ainda precisa de alguns anos para consolidar seu estado financeiro.
"É difícil impor normas comuns de contabilidade quando não se faz nada há muitos séculos", ironizou uma fonte interna.
Escândalo
O encarregado por Francisco de limpar as finanças vaticanas, o superministro da Economia, cardeal australiano George Pell, foi envolvido no escândalo dos padres pedófilos em seu país, e sua defesa da economia de mercado se choca com a mentalidade do papa latino-americano.
Sua permanência em um cargo tão importante gera muitas interrogações, e muitos observam com atenção a gestão do imenso patrimônio imobiliário do Vaticano, um verdadeiro tesouro, de um valor em torno dos 4 bilhões de euros, segundo o livro "Avarizia" do jornalista Emiliano Fittipaldi.
"O papa inicia processos de reforma e termina por semear apenas desordem", comentou Sandro Magister, um dos vaticanistas mais críticos em relação a Francisco.
"Está muito longe de cumprir com suas metas", afirma Magister, enquanto Valente recorda que um pontificado "não depende de obter resultados" e sim de sua missão humanizadora em um mundo globalizado.
DN
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