terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Casos de febre chikungunya aumentam 1.200%


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Os casos confirmados de chikungunya no Ceará aumentaram 1.200% no período compreendido entre o mês de janeiro e as primeiras semanas de fevereiro de 2016, e igual período deste ano. Nesse intervalo de tempo, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) comprovou 28 ocorrências da doença ano passado e 365 registros positivos em 2017. Somente Fortaleza contabiliza 215, seguido por Pentecoste, com 88, e Baturité, com 42 pessoas, e Caucaia, com nove infectadas pelo mosquito transmissor também da dengue (com 405 casos em janeiro e fevereiro de 2017) e zika. Até agora, não houve morte.

A velocidade com que o vírus chikungunya (chikv) se prolifera no Estado chama atenção não só de infectologistas e gestores de saúde, como também de especialistas de outras áreas, como a reumatologia. De acordo com coordenadora de Promoção e Proteção à Saúde da Sesa, Daniele Queiroz, a questão é a relativa frequência com que se torna crônica. Como a dengue, explica, a infecção pelo chikv causa febre alta de início agudo, dores fortes em músculos e articulações e na cabeça. No entanto, o chikv provoca, além da dor, inflamação nas articulações, o que não acontece com a dengue; as dores podem ser tão intensas a ponto de impedir o doente de realizar atividades rotineiras, como vestir-se ou pentear os cabelos. Médicos como Ivo Castelo Branco, relatam casos de pacientes que ainda sentem problemas nas articulações há mais de um ano. "É preciso atenção com a doença e as ações começam em casa", afirma o especialista.


Capacitação

A apreensão não só com a doença, mas com a dengue e zika, motivou a Sesa a promover a Capacitação no Manejo Clínico das Arboviroses, realizada ontem, no auditório da Unichristus, para médicos da rede estadual da saúde pública e privada e ministrada pelo médico, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fiocruz, Rivaldo Venâncio Cunha.

Mudanças ambientais e nas práticas agrícolas, aumento de viagens e do comércio internacional e uma urbanização não planejada estão causando aumento no número, na disseminação de muitos vetores no mundo e tornando novos grupos de pessoas vulneráveis. "No Ceará, outros fatores como a seca, mudanças nas gestões municipais e descontinuidade de ações de controle vetorial potencializaram o aumento de casos" diz Daniele Queiroz. O Dia D de combate ao vetor será no próximo dia 23.

Entrevista com Rivaldo Venâncio Cunha*

O senhor afirma que a chikungunya será a grande preocupação dos infectologistas neste ano. O que aconteceu para o vírus se alastrar com tanta facilidade?

Enquanto as atenções se voltavam para o vírus zika, outro agente infeccioso, causador de uma enfermidade bem mais dolorosa e debilitante, alastrava-se pelo País de maneira discreta, a febre chikungunya. Agora, é preciso correr para combatê-la.

Os pacientes apresentam sequelas? Quais as principais queixas?

Diferente da dengue ou zika, a chikungunya incapacita o doente. Ele tem dificuldades de assinar o nome, dirigir, tomar banho. As dores são frequentes e atingem as articulações, mãos e tornozelos.

O que não aprendemos no combate ao Aedes nesses 30 anos e como combater a dengue?

Não existem soluções mágicas. Acredito que pulverizar as áreas com focos e os governos deveriam investir e garantir água encanada regular, saneamento básico, recolher e tratar o lixo e fazer campanhas que realmente esclareçam de fato a população.

*Pesquisador da Fiocruz e professor da UFMS
por Lêda Gonçalves - Repórter

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