domingo, 22 de maio de 2016

Ganhador do Prêmio Extraordinários, Wal Schneider conta como a vitória ajudou a fortalecer sua luta pela cultura

Wal criou um centro cultural que beneficia milhares de jovens da região da Leopoldina
Wal criou um centro cultural que beneficia milhares de jovens da região da Leopoldina Foto: Clarissa Monteagudo

Um rapaz abre o portão de casa e sai pelas ruas carregando um caixão. Sobe a passarela do bairro, com dificuldade. A urna funerária pesa, mas ele segue, firme, seguido por sete amigos. A vizinhança se assusta: “Quem é o defunto?”. E se diverte ao descobrir que o cortejo, na verdade, é teatral. Capitaneado por Wal Schneider, o ator cearense de Tabuleiro do Norte ganhador do Prêmio Extraordinários 2015 na categoria Superação, o grupo de atores sai “na raça” para encenar um velório no Greip da Penha. O homem que espalha sonho, espanto e poesia pelas ruas da região da Leopoldina proporciona momentos também extraordinários em bairros castigados pela violência.
— A gente enfrenta muita dificuldade ao lutar pela cultura. Mas subir naquele palco para contar minha história foi a confirmação de que estou no caminho certo. Estou tirando onda até hoje em entrevistas. Sou reconhecido na cidade toda, nas ruas, nos ônibus. Gravei o programa “Como será?”, com a Sandra Annenberg, porque o produtor leu minha história. Fiz palestra em Niterói para 120 empresários, recebi convites — emociona-se Wal, que relembrou toda sua trajetória no palco da premiação, realizada pelo EXTRA, em parceria com o AfroReggae, e patrocínio da Fetranspor, do Detran e da Petrobras.

Na sede do Centro Cultural Atriz Chica Xavier, em Olaria, jovens da região encontram um caldeirão de atividades. Oficinas gratuitas de voz, corpo, interpretação, montagem de peças, além dos eventos que movimentam a rotina da casa, um sonho de Wal desde garoto. Aos 17 anos, ele veio de carona em um caminhão de melão para o Rio. Tinha R$ 25 no bolso e o sonho de se tornar ator e mudar a realidade de outros jovens nascidos na periferia como ele.
— Quero o melhor da cultura para eles. Já nos apresentamos em quadras de colégios para centenas de crianças, asilos, vilas olímpicas, escolas de samba... Vamos a todos os lugares. E eles fazem um trabalho maravilhoso, estudam muito — conta Wal.
A casa é um dos únicos centros culturais da região. Dispõe de biblioteca, dvdteca e acervo cultural aberto à comunidade. Por lá, já passaram mais de três mil pessoas, fora as plateias das apresentações em palcos populares.
— Eu me senti iluminado ao subir no palco para ganhar o prêmio. Meu chamado é ser artista. Eu acredito na minha missão — conta o homem que alimenta seus sonhos no palco.
Reconhecido nas ruas
“Nas ruas, eu sou parado e reconhecido como ganhador do Prêmio Extraordinários. Fora os e-mails e mensagens. A caminhada da arte é difícil. Quando anunciaram que eu tinha ganhado o prêmio, eu vi meus irmãos, eu vi mainha, eu revi toda minha história e pensei: eu vou falar com o coração. Não usei técnica, foi pura emoção. Foi o encontro do Wal Schneider com o José Valdemir da Silva Gomes (seu nome de batismo).
Não sei se é por ser nordestino, mas eu sempre acreditei que era preciso lutar para fazer a minha trajetória. Eu não fico esperando. Se não sou o galã, vou me movimentar para criar o meu mercado. A gente atua na rua, leva caixa de som, é mambembe. É muita vontade de fazer teatro”
Campanha para erguer teatro
A nova empreitada de Wal Schneider tem nome e sobrenome: Fernanda Montenegro. Ele e sua trupe de alunos estão organizando uma campanha para criar um Off Teatro, um espaço para apresentações dentro da sede do centro cultural, batizado com o nome da grande dama brasileira. Já convidou a atriz para inaugurar o novo espaço. Agora, quer unir forças e botar as mãos à obra para finalizar a nova etapa do sonho.
— Precisamos de recursos para arrumar o teatro, de cadeiras, ar condicionado, retroprojetor. Eu fico feliz quando consigo tintas, pinto o muro. É o meu sonho, eu dedico toda a minha vida para esse sonho — conta Wal, que ainda pretende batizar um novo espaço no centro cultural de Palco Paschoal Carlos Magno, ator, poeta e teatrólogo brasileiro.

Clarissa Monteagudo

Nenhum comentário:

Postar um comentário