Everaldo (à esquerda) era dono de uma técnica bastante apurada e foi dono da camisa 2 do Alvinegro por várias temporadas e se consolidou como um dos maiores nomes da história do futebol cearense / Celso Gavião (à direita) tinha como marca maior a liderança dentro de campo e a visão de jogo. Foi assim que conquistou o carinho e o respeito da torcida do Tricolor do Pici
"Clássico-Rei". O codinome real não é à toa. Quando Fortaleza e Ceará entrarem em campo amanhã, na Arena Castelão, não serão apenas os 22 jogadores "correndo atrás de uma bola", serão milhares de pessoas cravando mais uma joia na coroa do clássico mais importante do Estado. História que parece não ter fim, cheia de momentos felizes, para ambos os lados, fortes emoções e algumas tristezas, que fazem parte do futebol, mesmo que o torcedor evite lembrá-las.
Os jogadores, que se confundem entre heróis e vilões do cidadão comum, dependendo apenas das cores das camisas que vestem, são vistos como verdadeiras lendas vivas dessa história. Celso Gavião, ex-zagueiro do Tricolor do Pici nas décadas de 1970 e 1980, e Everaldo Galo, que ocupou a faixa direita da defesa do Alvinegro de Porangabuçu nos anos 80, visitaram a Arena Castelão e relembraram alguns dos momentos memoráveis deste duelo quase centenário.
Coincidências à parte, ambos os ex-jogadores fizeram suas estreias em clássicos, que, por eles, dificilmente serão esquecidas. "Esse estádio é marcante na minha vida, até pelos grandes clássicos que aconteceram entre Fortaleza e Ceará, onde marquei presença, e ficaram na minha memória, até porque a minha estreia pelo Fortaleza, em 1977, foi justamente contra o Ceará.
Ex-jogadores relembram momentos do Clássico-Rei:
O jogo terminou em 1 a 1 e nesse dia eu fiz uma boa partida. Lembro que bati uma falta da entrada da grande área e foi uma cobrança belíssima. Foi ali que eu senti que, realmente, essas duas grandes torcidas estão de parabéns e como são grandes até hoje", disse Celso.
Comandante
O ex-zagueiro do Fortaleza, que chegou a dirigir interinamente o Tricolor em 2013, pode até ter tido uma passagem breve pelo Pici, mas dificilmente será esquecido pelo torcedor. Em 1982, depois de uma contusão no joelho e uma transferência para o futebol do Rio de Janeiro, Celso Gavião retornou ao Fortaleza e de cara encerrou um jejum de sete anos sem títulos estaduais.
"A tristeza que eu sofri com a contusão eu tive em dobro de alegria com o Fortaleza, porque logo que eu voltei para cá, em 1982, eu fui campeão cearense aqui mesmo no Castelão. E nesse ano eu ainda fui campeão carioca pelo Vasco. Comecei o ano no Fortaleza, fui para o Vasco no primeiro semestre, mas voltei para comemorar o título cearense com o Fortaleza, contra o Ceará. Foi uma alegria muito grande", comentou o ex-zagueiro, com os olhos lacrimejados.
Gratidão
Do outro lado da moeda, o ex-lateral direito Everaldo Galo, natural de Pernambuco, iniciou a carreira pelo Santa Cruz, mas despontou para o futebol brasileiro, sendo até mesmo cotado para a seleção canarinho, pelo Alvinegro de Porangabuçu. Boas memórias e agradecimentos, segundo o ex-jogador, não faltam, com a história pessoal se confundindo com a do clube.
"Fica marcado para sempre, principalmente porque é um clássico. Para você ver, eu cheguei aqui em 1983 e o meu primeiro jogo foi um Clássico-Rei, e o clássico é uma dificuldade enorme. Em 1987, em outro jogo contra o Fortaleza, quando faltavam uns 4, 5 minutos para acabar, eu fui à linha de fundo e cruzei. A defesa do Fortaleza achou que o jogador estava em impedimento e parou, aí nosso atacante fez o gol. Eu me sinto muito feliz de voltar ao Castelão para relembrar esses lances", explicou Everaldo.
O "Galo" jogou por sete anos no Ceará e foi ali que viveu o melhor momento de sua carreira, sendo três vezes campeão estadual (1984, 1986, 1989)
Volta por cima
Em determinado momento da carreira, Everaldo sofreu a contusão mais séria da carreira. Durante um jogo contra o Internacional, Norberto deu um carrinho violento, que fraturou a perna do lateral. Everaldo se recuperou um ano depois e voltou a jogar em alto nível.
Mesmo depois de encerrar a carreira, Everaldo voltou ao Ceará, em 1993, para dirigir as categorias de base do clube, ficando no cargo até 2001. O ex-jogador, trabalhando com Dimas Filgueiras, foi, também, um dos responsáveis pela criação da escolinha do Vovô, e é lembrado, até hoje, pelo trabalho que realizou pelo Alvinegro cearense, dentro e fora do campo.
"Rapaz, no nosso tempo, o lateral direito tinha uma dificuldade enorme, ele tinha um atacante marcando e depois um lateral. Ele tinha que bater dois jogadores para chegar a linha de fundo, e linha de fundo é perigo de gol. Mas eu vi no Diário do Nordeste que o Evandro Leitão, então presidente do Ceará, falou que eu era o lateral do centenário, então, considerando essas dificuldades, e a quantidade de jogadores que passaram pelo Ceará, ser apontado como o melhor desses 100 anos é gratificante demais", completou o ex-lateral do Vovô.
Torcedores
Outra curiosidade é que Celso e Everaldo não chegaram a se enfrentar em campo pelo Clássico-Rei, mas duelaram como técnicos dos times sub-20 de Ceará e Fortaleza. Agora os ex-jogadores ficarão na torcida em mais um capítulo dessa história real.
Saiba mais
Começo no Vovô
Everaldo chegou a Porangabuçu através de uma troca. Ele veio na companhia de Gil Mineiro e Djalma
Mais que um jogador
Além dos títulos como jogador pelo Ceará, em 1984 e 1986, Everaldo Galo foi campeão como técnico do time sub-20 do Alvinegro de Porangabuçu em 1993 e 1995
Campeão europeu
Celso Gavião atingiu o auge da carreira no Porto, conquistando o título da Liga dos Campeões da UEFA, na temporada 86/87
Apoio importante
Hoje, Celso Gavião é presidente da Associação de Garantia ao Atleta Profissional (AGAP), que auxilia jogadores em final de carreira.
Fonte: DN
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