segunda-feira, 2 de novembro de 2015

É preciso vivenciar e superar o luto

Mesmo no caso de morte decorrente de idade avançada, quando há tempo de os familiares se prepararem, é difícil adaptar-se à ausência da pessoa próxima. Quando trata-se de uma perda repentina, como em caso de homicídio, suicídio ou morte súbita, torna-se ainda mais complicado para os familiares aceitarem e se acostumarem. Não existe fórmula mágica. É inevitavelmente uma ocasião triste. Mas, afinal, qual a melhor maneira de encarar esse momento? Qual a importância de viver o luto e todas as suas etapas? Giselle Sucupira Mesquita, psicóloga e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), explica que o processo de luto é quando um laço afetivo é rompido definitivamente. Ela afirma que, para alguns estudiosos, o luto nunca acaba, só o processo mais intenso dele, uma vez que o ente querido vai permanecer para sempre nas lembranças da pessoa. "A perda do ente passa pela fase mais aguda, mas, geralmente,
a partir de um ano, começa a amenizar. Mas, em certas datas, como de aniversário, por exemplo, essa lembrança volta mais intensa. É como se o luto voltasse de tempos em tempos", diz.

Existem ainda as fases do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Porém, lembra a especialista, nem sempre elas ocorrem nessa sequência. O primeiro sintoma, destaca Giselle, é a negação, que vem acompanhada de um ligeiro momento de choque. "A primeira reação da pessoa é dizer que aquilo não está acontecendo. Ela quer ligar, ver, se certificar.
Essa fase pode durar a vida toda", comenta. Quando não pode mais ficar na negação, vem a raiva. "É o momento no qual a pessoa se revolta, fica se perguntando por que aquilo aconteceu, que não merece aquilo", observa.
Depois, ela tende a começar a barganhar. Geralmente essa é uma fase silenciosa, na qual a pessoa se comunica com o divino. "As pessoas apelam para Deus, se perguntam porque isso aconteceu", disse. Em seguida vem a depressão, que é dividida em dois momento: reativa e preparatória. Por estar reagindo a um momento doloroso, explica Giselle, naturalmente a pessoa fica triste, por isso é chamada depressão reativa. Depois, vem a preparatória, quando a pessoa começa a reviver,
já aceitando e começando a reorganizar a vida. Finalmente vem a fase final: da aceitação, o que não significa felicidade. "A pessoa aceita, mas de forma triste", adverte.

A psicóloga destaca que a pessoa precisa passar por essas fases, para se reorganizar e voltar a levar uma vida normal.
"Quando perde um ente querido, a gente nunca sabe o que perdeu realmente. É uma pessoa que fazia parte do nosso plano de vida, então é natural essa desestruturação", afirma. Contudo, quando não consegue passar por essas fases ou fica estagnada por aquela perda, Giselle orienta que é preciso buscar ajuda especializada, para que a pessoa possa concluir esses ciclos e, a partir de então, reinvestir na vida.
Negação
O psiquiatria e psicanalista José Gurgel, coordenador do setor de Interconsulta Psiquiátrica do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), alerta que, nos casos de intensa negação da realidade, em que a pessoa se comporta como se o falecido estivesse vivo, com referências a ideias suicidas e a perda do sentido na vida, indicam que a situação deve ser objeto da atenção e avaliação por parte de um psiquiatra, bem como, eventualmente, também por parte de um psicoterapeuta ou
psicanalista. Nestes casos, explica que o tratamento medicamentoso consiste no uso de antidepressivos e /ou antipsicóticos. Entretanto, salienta que o uso de medicamentos nos lutos normais não são indicados, salvo tranquilizantes, por curto espaço de tempo.
Ele explica que não há como não viver o luto e que a negação da perda é uma das formas, nada saudável, de lidar com perdas significativas. "O luto é importante. Sem ele, continuamos intensamente ligados a algo ou alguém que não pode mais nos dar o amor ou as gratificações de que necessitamos, para isso precisamos de novos vínculos", diz.
Por Luana Lima
Diário do Nordeste

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