A campanha Setembro Amarelo, realizada mundialmente para comemorar o dia 10 de setembro, data estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o dia da prevenção do suicídio, chega a Fortaleza, por meio da Semana da Prevenção do Suicídio.
O evento, organizado pelo Núcleo de Psiquiatria do Estado do Ceará (Nupec) e apoiado pelo Projeto de Apoio à Vida (Pravida) - projeto de extensão formado por acadêmicos de Medicina e Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) -, contará com uma programação variada.
A Semana tem como pré-eventos uma série de palestras em universidades cearenses. O objetivo é proporcionar a profissionais, universitários e ao público em geral informações sobre a temática do suicídio, visando facilitar uma maior discussão e conscientização sobre o tema.
De acordo com Fábio Gomes de Matos, psiquiatra, professor da UFC e coordenador do Pravida, o suicídio - tema ainda considerado tabu - é um problema de saúde pública que atinge cerca de 12 mil pessoas por ano. "Seis pessoas em cada 100 mil morrem por suicídio em Fortaleza, o que resulta em uma média de 300 pessoas por ano. Fortaleza é a quarta Capital com maior taxa de suicídio no Brasil", afirma o psiquiatra, que também ressalta que cada caso é capaz de impactar aproximadamente outras sete pessoas.
Ainda de acordo com ele, a taxa de suicídio pode ser ainda 50% maior que o registrado, considerando casos que são classificados como acidente de trânsito ou queda, por exemplo, quando não são.
"Há um problema nas estatísticas. Esse número é subdimensionado. Quando uma pessoa se joga de um edifício é codificado como queda", explica o professor, que também sugere a alteração do termo acidente de trânsito para "ocorrência de trânsito", pois casos em que pessoas bebem e, em seguida, se envolvem em uma grave colisão, por exemplo, seriam suicidas.
O problema também tem, segundo Gomes de Matos, um caráter genético, mas é necessário que cada caso seja avaliado individualmente.
Alerta
Conforme o coordenador do Pravida, é necessário que a mídia e toda a sociedade apoiem a campanha, pois as pessoas que pensam em tirar a própria vida costumam pedir ajuda, mas não são ouvidas e existe prevenção.
"As pessoas sempre pedem ajuda e você deve escutá-las", recomenda o especialista, que afirma que o suicídio também pode estar associado a transtornos mentais, como depressão e esquizofrenia.
Conforme o professor, existem três perguntas que podem ser adotadas como alerta. As respostas pode dar indícios sobre a necessidade de encaminhar alguém ao psiquiatra ou à uma instituição que preste assistência a pessoas que pensam em tirar a própria vida:
1 - Você tem planos para o futuro?
2 - A vida vale a pena ser vivida?
3 - Se a morte viesse para você, ela seria bem-vinda?
"O nosso objetivo maior é conscientizar que as pessoas que têm risco de suicídio devem ser levadas à um profissional e tratar a doença de base que provoca o suicídio. Podemos não eliminar, mas é possível diminuir sensivelmente a taxa de suicídio", complementa.
Ele também reforça a necessidade de ações de prevenção por parte de instituições públicas e privadas. "O CREA [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia] deveria fazer um selo amarelo da vida. Há vários casos de pessoas que se suicidam no mesmo local. Aqui existem viadutos e pontes sem grades laterais. Por que não colocam?", questiona.
Lígia Costa
ligiacosta@opovo.com.br
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