Sofrendo com sucessivos anos de estiagem, a cidade de Crateús, a 350 quilômetros de Fortaleza (no Sertão dos Inhamuns), guarda em seu subsolo um reservatório de água com volume estimado em 20 milhões de metros cúbicos. Em estudos geofísicos feitos na região, técnicos da Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará (SRH) encontraram, na comunidade Canto dos Pintos, a cerca de 20 quilômetros da sede do município, indícios seguros de que o concentrado de água no subsolo teria a capacidade de abastecer a cidade até o fim de 2016.
Através da assessoria de imprensa, a SRH informou que até a próxima semana serão perfurados três poços na área para testes de vazão e confirmação da expectativa.
O montante de água é equivalente a 1 milhão de carros-pipa (com capacidade média de 20 metros cúbicos) ou 8 mil piscinas olímpicas (que comportam cada 2.500 metros cúbicos de água). A secretaria indicou que, uma vez confirmado, serão feitas obras para ligar o reservatório à Estação de Tratamento de Água e, assim, abastecer o município. A SRH informa que está realizando estudos em todo o Estado à procura de indícios de água subterrânea e que teria encontrado, além do de Crateús, outro reservatório em uma cidade do Sertão Central não informada.
Expectativa
Na língua dos índios tapuias, Crateús significa terra muito seca. Atualmente, a sede do município é abastecida com água do açude Batalhão, mas vive racionamento e tem um sistema de rodízio de dias entre os bairros. De acordo com a SRH, o açude pode suprir a necessidade de água da cidade até o fim do ano. Depois, será preciso recorrer à adutora de 150 quilômetros que liga o açude Araras a Crateús. Na zona rural, a situação é mais grave e carros-pipa levam água para a população duas ou três vezes por semana.
Ontem, muito cedo, o operador de som Robervânio Cipriano, 24, pelo celular, já recebia com alento a notícia do reservatório subterrâneo de água bem embaixo de sua cidade. “A expectativa que temos por aqui é que isso ajude a não repetir o que vivemos ano passado. Em outubro, Crateús ficou completamente sem água e permaneceu assim uns quatro meses”, lembra.
Sem ter podido plantar os costumeiros jerimum e melancia, a agricultora Maria de Fátima Marques, 51, conta que, este ano, conseguiu tirar apenas um pouco de milho e feijão do roçado. Para ela, o reservatório é visto como uma “dádiva”. “São seis anos de muita seca aqui. Essa água seria uma benção, uma notícia boa depois de tanto sufoco”, projeta. O desejo compartilhado por Robervânio e dona Maria é de que a água da reserva encontrada chegue logo às torneiras.
O geólogo pesquisador de águas subterrâneas Francisco Said Gonçalves, porém, alerta que o uso do reservatório deverá ser feito sendo observado o equilíbrio geo-hídrico da região. “São muitos anos para que se forme esse acumulado relevante de água. É preciso que se retire para o abastecimento da população, considerando o poder de reabastecimento”, pondera.
Saiba mais
A captação de água subterrânea através de perfuração de poços tem sido grande aliada na redução dos estresses hídricos no Ceará. Visitada recentemente pelo O POVO, Boa Viagem (a 221 km de Fortaleza), por exemplo, tem açudes secos e é longe demais para ser abastecida por adutoras.
Na cidade, já foram perfurados 75 poços para incrementar o abastecimento, mas somente 19 tiveram vazão para serem incorporados à rede e seis estão em processo de conclusão.
Domitila Andrade
domitilaandrade@opovo.com.br
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