Em 2016, Emiliano Queiroz completa 80 anos. Sem problemas com a velhice e renegando o termo “idoso”, ele tem consciência das limitações que o tempo começa a impor. É por isso que decidiu que não vai mais realizar longas viagens, onde se inclui a que vem do Rio de Janeiro, onde mora, até o Ceará, onde nasceu. “Tive uma labirintite muito forte há três anos, num período de muito trabalho em TV, teatro e cinema. A gota d’água foram as viagens de avião”, lembra o ator, em entrevista exclusiva para O POVO, em Fortaleza.
Por outro lado, as limitações físicas não lhe tiraram o bom humor ou a vontade de trabalhar. E foi entre muitas risadas e lembranças que o aracatiense falou sobre sua participação no filme A lenda do gato preto, que será apresentado hoje no 25º Cine Ceará. Dirigido por Clébio Viriato, o longa-metragem foi filmado em Quixadá e Maranguape e conta com atuações de Elke Maravilha, Aurora Duarte, Fernanda Quinderé, Rodger Rogério e Cássia Roberta. Emiliano interpreta Maurício, um padre que questiona as próprias convicções.
Vestir batina na hora de atuar é algo comum para Emiliano Queiroz. Desde que começou a trabalhar com teatro, ainda na juventude, fez vários padres, uns mais interessantes, outros mais sem graça. “Quando eu era bem garoto, fiz uma peça com um padre da pá virada, depois outro simpaticíssimo em Estúpido cupido (novela de 1976) que andava de lambreta”, elenca o ator, que ainda fez o Padre Santo na novela Meu pedacinho de chão (TV Globo, 2014). Entre tantos padres, ele recorda bem do personagem que fez durante os anos 1970 na peça Flávia, cabeça, tronco e membros, de Millôr Fernandes. “Logo na primeira aparição, ele entra de shortinho”, gargalha o ator que teve problemas com a igreja e com a censura federal. Pra piorar, na mesma época, protagonizou um exorcismo enquanto vivia o Dirceu Borboleta na série O bem amado (1973). A cena chegou a sofrer 45 cortes.
Em mais de 60 anos de uma carreira que passou pela rádionovela, teatro, TV e cinema, Emiliano Queiroz descreve cada momento com a ajuda de uma memória privilegiada. Só lamenta que o que menos fez foi o que mais queria ter feito: personagens nordestinos. Chegou a se sentir “humilhado” quando foi reprovado na Escola de Artes Dramáticas, em São Paulo, por que o sotaque nordestino atrapalharia a carreira. “Meu sonho era fazer cinema aqui. Cheguei a filmar uma cena de Tangerine girl (1998) aqui, mas não era um filme cearense”, lamenta, rememorando a época que morava próximo à base aérea e via grandes astros chegando a Fortaleza.
A lenda do gato preto será a primeira produção de fato cearense a contar com Emiliano Queiroz. E o ator já determinou que só volta a sua terra natal se for para fazer a continuação deste filme. Mesmo deixando amigos e parentes no Ceará, pretende se poupar e continuar trabalhando de uma forma menos custosa fisicamente. Vai sentir saudade? “Eu não sinto saudade, sinto amor pelas coisas. Por exemplo, tenho um imenso carinho pela TV Ceará, maior até do que eu possa saber expor. Mas, não sou muito de saber falar de sentimentos. E a saudade não existe. Eu sempre fui desgarrado, saí cedo de casa. Eu continuo um pouco assim”, encerra.
SERVIÇO
A Lenda do Gato Preto
Quando: estreia hoje, 23 , às 21h
Onde: Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500 - Centro)
Aberto ao público
Outras informações: www.cineceara.com
Por: Marcos Sampaio
marcossampaio@opovo.com.br
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