segunda-feira, 4 de maio de 2015

‘Marta não pode reclamar de falta de espaço no PT’, diz Haddad

Haddad diz que Vaccari deveria ter tomado a iniciatva de se afastar - Marcos Alves / O Globo

SÃO PAULO - Provável adversário da senadora na eleição do próximo ano, prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, lembra que ela concorreu cinco vezes a cargos majoritários com apoio do partido.

O senhor acha que a rejeição do eleitor conservador a parte das bandeiras de sua administração explica a sua baixa popularidade?

Não fui eleito com as bandeiras conservadoras. Fui eleito com bandeiras progressistas: transporte público, transporte individual não motorizado, coleta seletiva, lâmpada LED, praça com wi-fi e política de redução de danos dos usuários de drogas. Eu nunca me preocupei com isso (índice de popularidade).


Nem com vista à reeleição?

Você tem que se reeleger em nome daquilo em você acredita. Não vou abdicar das ideias nas quais acredito por conveniência eleitoral. A pessoa que se move por pesquisa de opinião não deve governar. Não está preparada para a política.

O senhor, que se apresenta como portador de bandeiras progressistas, vai buscar no ano que vem de novo o apoio do Paulo Maluf (PP), como em 2012, com direito a fotos no jardim da casa dele?

O meu principal concorrente também foi (procurar Maluf), mas foi à noite. Eu preferi fazer as coisas às claras. Eu não fulanizo na política. O apoio do PP (partido de Maluf) foi institucional.

Apesar de ter sido eleito para um dos cargos mais importantes do país, o senhor atua pouco dentro do PT.

Nunca fui um militante orgânico do partido. Eu não me empolgo com a vida interna do partido, não é a minha praia. Acho que o PT, até pelo sucesso eleitoral que teve, acabou diminuindo a importância da vida interna do partido.

O senhor se decepcionou com o PT diante dos escândalos?

Para mim, ética é um atributo individual, não coletivo. Você tem comportamento antiético em qualquer organização humana, igrejas, times de futebol, partidos. O que precisamos é da capacidade de depurar, e penso que o governo federal tem agido nesse sentido.

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Mas as denúncias contra figuras do partido não o constrangem?

Toda conduta suspeita ou ilícita causa constrangimento. Quanto maior a proximidade, maior o constrangimento. Quando uma pessoa do seu partido comete um erro causa constrangimento porque carrega a mesma legenda que você.

Uma das correntes do PT defende que todos os citados em casos de corrupção devem se afastar de cargo na direção partidária. O senhor concorda com isso?

Eu faria isso. Acho uma dinâmica correta se afastar para responder a uma acusação e, depois, se for o caso, voltar.

Mas no caso do tesoureiro João Vaccari Neto, não houve afastamento. e ele foi preso quando estava no cargo. O PT errou?

Talvez ele (Vaccari) tenha errado por não ter percebido que a melhor coisa a fazer era se afastar.

Ao deixar o PT nesta semana, a senadora Marta Suplicy disse que quem continua no partido é conivente com a corrupção.

O PT tem 1,5 milhão de filiados. Não quero crer que ela tenha ofendido 1,5 milhão de pessoas.

O senhor está preparado para enfrentá-la no ano que vem?

Me fizeram a mesma pergunta sobre o (José) Serra (PSDB) em 2012.

Mas a Marta e o Serra têm perfis diferentes. A Marta disputa eleitores no seu campo político, de esquerda.

Ela esteve à esquerda.

A Marta diz que, quando prefeita, tinha um orçamento muito menor que o atual e fez mais obras do que o senhor.

Ela fez muita coisa porque eu era secretário de Finanças (Haddad era chefe de gabinete da Secretaria de Finanças). Eu e o (João) Sayad (secretário de Finanças) arrumamos a casa. Fizemos um grande planejamento de obras. Eu sei o trabalho que fizemos para sanear as finanças da cidade.


Em resposta a Marta, o PT disse em uma nota que ela saiu do partido por ambição eleitoral.

Uma pessoa que concorreu cinco vezes a cargos majoritários (uma vez a governadora, três a prefeita e uma a senadora), foi duas vezes ministra, não pode reclamar de falta de espaço. Não foi por isso que ela saiu.

A nota do PT fala em personalismo desmedido por parte dela.

Meu comentário é esse. É natural que um partido queira lançar novos nomes. É da tradição do PT.

Qual crítica, o senhor faz a Marta?

Isso tem momento.

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