quinta-feira, 21 de maio de 2015

Começa, hoje, o Festival de Sanfoneiros, no Vale do Jaguaribe. Em sua nona edição, a mostra segue até sábado (23)

Chambinho do Acordeon é uma das atrações deste ano. Serão homenageados nesta edição Carlito Bandeira, João Bandeira e Paulo Ney
Chambinho do Acordeon é uma das atrações deste ano. Serão homenageados nesta edição Carlito Bandeira, João Bandeira e Paulo Ney
FOTO: CAYQUE / DIVULGAÇÃO
Quando o Festival de Sanfoneiros foi criado, em 1968, os jovens não queriam nem saber do instrumento. “Havia uma rejeição muito grande com a sanfona”, lembra o sanfoneiro Francisco Marto Oliveira. Conhecido por Redondo, ele começou a tocar aos 13 anos e há quatro décadas ganha a vida dedilhando a sanfona. A arte herdada do pai, que, por sua vez, aprendeu com o avô. “A gente traz no sangue”, afirma Redondo, que é um convidados do 9º Festival de Sanfoneiros, que acontece de hoje a sábado (23), na praça da matriz de Limoeiro do Norte, município do Vale do Jaguaribe. Ao longo dos três dias de programação, instrumentistas cearenses e de outros estados brasileiros se apresentam e trocam repertório, técnicas e conhecimento sobre a sanfona.

Hoje, a região jaguaribana é considerada como o celeiro de sanfoneiros, festeja Redondo. Realidade diferente da apresentada há 30 anos, “quando era difícil encontrar um sanfoneiro”, atesta Redondo, que se orgulha de viver da música. Autodidata – aprendeu a tirar som de ouvido –, o músico faz parte da geração que tocava “nos matos, nas fazendas. Na época, o instrumento era muito discriminado”. Um dos méritos do festival é resgatar e valorizar os artistas populares, que tocam nas feiras da região. São personagens que fazem parte do imaginário nordestino.

Versatilidade

O foco das atenções, no entanto, não são os instrumentistas. E sim, a sanfona. A ideia, reforçar a importância do instrumento na música nordestina, especialmente, junto às novas gerações. Também mostrar a sua versatilidade, sobretudo no Nordeste, está associada apenas ao forró, queixa-se Júlio César Costa, produtor cultural e integrantes da diretoria do Instituto Brasil de Dentro, entidade responsável pela realização do festival.

“Há várias vertentes da sanfona”, esclarece, afirmando que, nessa edição, o instrumento será empregado em ritmos como a gafieira e o chorinho. Pode acompanhar valsas, jazz, fados e tango, como foi apresentado em outras edições do festival, retomado a partir de 2006.
Um dos propósitos do festival é desfazer o estigma de que sanfona só serve para tocar forró, insiste Júlio César Costa, que pretende viabilizar a 10ª edição ainda neste ano, já que, em 2014, ano eleitoral, não houve festival.

O organizador cita os pioneiros do forró no Vale do Juguaribe: Cristalino Brandão, seguido pelas gerações de João Bandeira, Zé e Luizinho Calixto, que iniciavam em sanfonas de oito baixos. “É um instrumento muito animador”, enfatiza. Sem saudosismo, os músicos celebram a evidência da sanfona nos dias atuais, quando mais do que aceita em todos os locais, é mais fácil de aprender. Existem escolas e mais facilidade para adquirir o instrumento, que pode ser comprado até pela internet. Certamente, os homenageados do festival pelos 50 anos de sanfona, Carlito Bandeira, João Bandeira e Paulo Ney, não contaram com a mesma comodidade. Nem mesmo o mais jovem, Redondo, que aos 18 anos, depois que a sanfona herdada do pai ruiu, teve de viajar para São Paulo. Lá, trabalhou cinco anos para comprar um instrumento usado. “Meu pai era pescador, tinha 13 filhos, não podia me dar uma sanfona”, conta. Ao voltar ao Ceará, começa a tocar, afirmando que a sanfona lhe deu tudo, revela em tom de orgulho, por ter seguido o coração. O interesse pela arte da música começou cedo e “não larguei mais”.

O sanfoneiro justifica o talento a um dom divino. “Deus dá para a gente que toca de ouvido”, revela, explicando que não saberia tocar aplicando técnicas de escola ou por partituras.

Celeiro

A localização do Vale do Jaguaribe, região Norte, e o fácil intercâmbio com Pernambuco contribuiu para a difusão do instrumento. Redondo destaca o trabalho realizado por Luiz Gonzaga (1912-1989), que presenteava com uma sanfona jovens instrumentistas. Era consciente do preço alto do instrumento, que custa em média R$ 5mil.

Atualmente, há uma fábrica em Campina Grande. Há 30 anos, lembra Redondo, só existia um fabricante no Rio Grande do Sul.

Programação

Uma das atrações que promete movimentar o festival é o “Forró na feira”, que tem atividades todos os dias, de 8h às 12h. Nas feiras nordestinas e cearenses, a presença de sanfoneiros era uma constante. Essa tradição será revivida no festival, com apresentações em plena feira livre. À noite, os shows de maior porte terão como palco a praça da matriz, a partir de 20h. Chambinho do Acordeon, protagonista do filme “Gonzaga: de pai para filho” abre a programação.

Entre os convidados para o shows da noite estão também Carlito Bandeira, Elias Carneiro, Damião e Renato Carneiro, Cacimba de Aluá, Jonas Alves e Alves Nascimento, Sanfona Gafieira e o Quinteto Galizas Sanfônico de Juvenil. O festival promove ainda a interação entre os instrumentistas, com o projeto “Conversa de sanfoneiro”, nas tardes de sexta (22) e sábado (23), de 16h às 17h, instrumentistas novatos e veteranos conversarão com o público sobre suas carreiras.

Mais informações:

Festival de Sanfoneiros de Limoeiro do Norte. De hoje a sábado(23), na Praça da Matriz, em Limoeiro do Norte. Gratuito. Contato: (88) 9661.0512.

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