quinta-feira, 30 de abril de 2015

Bode Ioiô, ilustre retirante da seca de 1915, completa um século da chegada a Fortaleza

Bode Ioiô tem história excêntrica e famosa no Ceará (FOTO: Hayanne Narlla/ Tribuna do Ceará)
Bode Ioiô tem história excêntrica e famosa no Ceará (FOTO: Hayanne Narlla/ Tribuna do Ceará)
Pelas ruas e becos de Fortaleza, um herói cearense costumava passear nos meados da Belle Époque alencarina, no início do século passado. Boêmio, não dispensava uma boa cachaça. Acompanhava aqueles que flanavam a cidade nos antigos cafés da Praça do Ferreira, no Centro. Era um cidadão como qualquer humano. Tanta fama garantiu ao Bode Ioiô ser lembrado para a posteridade.

Com seu percurso ritualístico de ir e vir, o animal percorria da antiga Praia dos Peixes ao Centro pelas mesmas vias. Não se cansava, pois todo dia é dia. Fez tanto sucesso que chegou a ser eleito vereador. Essa é a história do bode, protagonista do Museu do Ceará, no Centro. Em 2015, ele completa o centenário de sua chegada a Fortaleza.

Localizado na sala vermelha do museu, Bode Ioiô chegou a Fortaleza como retirante, fugido da famosa seca de 1915, tema de livro da cearense Rachel de Queiroz. A família com a qual chegou não teve condições de criá-lo e o vendeu para uma empresa de americanos. Mas com espírito de liberdade, o animal não se contentou em ficar parado. Andava pela cidade, como outros animais que ficavam soltos.
A partir daí, várias pessoas contavam histórias e lendas sobre o bode, como que ele passava a noite no mundo, paquerando as moças. Até que houve uma tentativa de “afrancesamento” da cidade, criando códigos de postura ordenando a cidade, como conta Isabella Araújo, coordenadora do núcleo educativo do Museu do Ceará. Isso fez com que fosse a lei retirasse animais da rua, incluindo o xodó Ioiô.
“Na prática, a lei não funcionava muito. Era um sinal que a população resistia a essa modernização. Era difícil tirar esse hábito da população em si, mesmo dizendo que eles tinham que pagar multas e os animais seriam apreendidos. E, com isso, o Bode Ioiô continuava a andar na rua. Até que ele ficou conhecido na cidade e foi eleito a vereador, como forma de protesto à política local na época”.

Apesar de nunca ter se candidatado, a eleição aconteceu, pois naquele tempo os eleitores votavam em papel, escrevendo o nome de seus candidatos. Ioiô nunca tomou posse de seu posto, mas passou a ser conhecido como “Bode Celebridade”.

Em 1931, Fortaleza ficou de luto. Bode Ioiô faleceu de velhice, mesmo que ninguém soubesse ao certo sua idade. Porém, mais lendas surgiram sobre sua morte: ele teria sido envenenado por um marido ciumento ou de cirrose, por beber demais. O animal foi embalsado devido a sua grande fama, e foi doado para o Museu do Ceará, que foi criado em 1932, mas aberto ao público em 1934.

Museu

Ioiô não fez sucesso só na época, mas até hoje conquista fãs. Inclusive, em 1990, um homem arrancou seu rabo e levou consigo. O museu teve que produzir um rabo sintético para completar a imagem. Mesmo com esse atentado ao bode, ele é bem tratado pelos visitantes, principalmente pelas crianças. Além disso, todas as segundas-feiras, ele passa por um procedimento de limpeza para ficar à mostra. Um cuidado merecido para o bode mais famoso que já existiu no Ceará

Serviço

Para os interessados em visitar o Bode Ioiô, ele está na Museu do Ceará – Rua São Paulo, 51, Centro. Aberto ao público de terça-feira a sábado, das 9h às 17h. Acesso gratuito.

Por Hayanne Narlla

Nenhum comentário:

Postar um comentário