terça-feira, 21 de abril de 2015

59: A primeira decisão

Hoje aos 80 anos, zagueiro Alexandre exibe foto do time com quem foi campeão
Hoje aos 80 anos, zagueiro Alexandre exibe foto do time com quem foi campeão
FOTO: JL ROSA
Ceará e Bahia iniciam amanhã a decisão da Copa do Nordeste 2015, com o primeiro jogo na Fonte Nova, em Salvador e no dia 29, o segundo duelo no Castelão. Mas esta finalíssima regional não é a primeira entre os dois gigantes nordestinos.

Em 1959, o Vovô e o Tricolor baiano jogaram pela Taça Brasil decidindo o título do Nordeste, que daria vaga à fase final do torneio em três jogos. E o Bahia acabaria campeão brasileiro - o primeiro - batendo o poderoso Santos de Pelé, também em três jogos, o último no Maracanã.

Pelo feito do time baiano, ao ser campeão batendo um time que marcou história no futebol mundial e ainda disputar a Libertadores da América no ano seguinte, se imagina que o Vovô não foi páreo. Ledo engano: o Alvinegro, que era o atual bi-campeão cearense de 1957-58, encarou o Bahia de frente, empatando os três jogos e só sendo derrotado na prorrogação, com um gol no último minuto.


O primeiro jogo aconteceu no PV, com um empate por 0 a 0 e uma nova igualdade, em 2 a 2, na Fonte Nova - gols de Leo e Claudinho (contra) para o Bahia e Nenê e Walter para o Ceará - um jogo desempate foi marcado, também para a Fonte Nova. E novamente o Alvinegro cearense foi valente, empatando em 1 a 1, gols de Biriba para o Bahia e Walter para o Ceará, mas na prorrogação, Léo fez o gol do título do time baiano.

Vale lembrar que naquela época, um terceiro jogo era marcado caso cada um time vencesse um dos jogos, ou ocorressem dois empates, sem considerar a diferença de gols por vitória ou tentos marcados fora de casa.

Respeito

O time do Ceará daquele ano tinha em seus quadros jogadores históricos, que são considerados ídolos do clube: como o goleiro Harry Carrey; o lateral-direito William, o zagueiro Alexandre, o lateral-esquerdo Carneiro e o ponta-direita Carlito.

O zagueiro Alexandre Nepomuceno, o "Filé de Gia", titular absoluto daquele time - que se sagraria anos depois tricampeão cearense em 1961-62-63 - relembra os duelos com o Bahia.

"Decidir o zonal do Nordeste da Taça Nordeste com o Bahia foi um feito para o Ceará. Em uma época que a região era dominada pelos estados Bahia-Pernambuco, o Ceará provou também ser um time forte, que foi muito respeitado a partir daí. Nosso time foi o embrião para outros se destacarem nos regionais, como em 1964 que ganhamos do Náutico. Tínhamos um time formado por muitos jogadores da terra e fizemos três jogos equilibrados com o Bahia, que venceria o Santos de Pelé. Não fomos campeões por pouco, por um gol no último minuto da prorrogação", recorda ele.

Rivalidade

Considerado um dos maiores zagueiros da história do Ceará - Alexandre integra a seleção de todos os tempos do Alvinegro, compilada pelo Diário do Nordeste no Caderno Especial do Centenário do clube em julho de 2014 - e recorda que as rivalidades regionais já afloravam ali, com os zonais da Taça Brasil, que hoje são revividas com a Copa do Nordeste.

"Nos regionais da Taça Brasil, só jogavam os campeões de cada estado. Por isso era tão difícil. E a gente enfrentar um Bahia na final, foi uma experiência marcante. Ali, os regionais já chamavam a atenção, com os estádios lotados, seja PV ou Fonte Nova. Em 1964, fomos campeões do Nordeste em cima do Náutico (o lendário time dos intocáveis) com 4 a 0, e já na fase final, enfrentamos o Flamengo no Maracanã, terminando em 3º lugar. O Ceará era atração onde chegava, no Norte-Nordeste, por nossas campanhas. Hoje, o Ceará também é respeitado e espero que vença o Bahia desta vez", recorda ele.

Sobre a comparação das formações de Ceará e Bahia de 1959 e 2015, Alexandre preferiu não cometer nenhuma injustiça. "O futebol era diferente daquela época. Não lento como dizem, pois tínhamos muita técnica e a tática de prender a bola, tocar e não entregá-la ao adversário. Tenho muita saudade daquela época, de recordar o futebol das décadas de 60 e 70, mas as equipes têm relevância histórica em suas épocas, ontem e hoje".

Grupo do Ceará viaja hoje para Salvador após treino

O Ceará iniciou a semana decisiva com um treino leve pela manhã, com o técnico Silas elaborando trabalhos específicos com os jogadores. Quem jogou no último sábado contra o Guarani de Juazeiro, pelo Campeonato Cearense, realizou apenas um treino físico leve, enquanto isso, os demais jogadores trabalharam a parte técnica, finalizações e entrosamento.

O Vovô ainda treina hoje pela manhã, antes de viajar para Salvador, onde fará no dia seguinte, às 22 horas, o primeiro jogo da decisão da Copa do Nordeste, contra o Bahia.

"Depois de conquistarmos a vaga na final do Cearense no sábado, contra o Guarani, em um campo pesado, divididas duras, temos que nos recuperar bem. É importante para uma boa atuação nesse primeiro jogo", disse Fernandinho.

O lateral-esquerdo espera uma grande pressão da torcida baiana no primeiro jogo em Salvador, porém, garante que o Ceará também terá o apoio da massa alvinegra, principalmente no jogo de volta, na próxima quarta-feira, 29, no Castelão.

"Serão dois jogos, em duas arenas lotadas. Influencia psicologicamente, claro, mas sabemos jogar com torcida contra. Sabemos que teremos o apoio da nossa nos torcida nos dois jogos, principalmente no Castelão".

Desde o último sábado o torcedor do Ceará já pode adquirir seu ingresso para a decisão do dia 29, no Castelão, o jogo de volta. Até o fechamento da edição, 10.050 ingressos haviam sido vendidos.

Análise

"Nos três jogos com o Bahia, o Ceará fez bonito"

Eu lembro como se fosse hoje. Eu acompanhava o Ceará naquela ocasião, com 12 anos, um menino. E não esqueci jamais, pois foram três jogos históricos contra o Bahia. Na Taça Brasil daquela época, não tinha esse negócio de pênalti ou gol fora. Ia para um terceiro jogo se não houvesse um vencedor. Esse terceiro jogo foi espetacular! O goleiro Harry Carrey era um dos grandes nomes do Ceará e se contundiu, com o Gilvan Dias, entrando numa fria daquelas, na pressão na Fonte Nova e fez uma partida belíssima, até hoje lembrada. Pena que o Bahia fez um gol com o Léo, na prorrogação. Mas o Ceará tinha um belo time e perdeu na prorrogação apenas para o campeão do Brasil. É uma lembrança que eu guardo com carinho, pelo que o Ceará jogou. Ele fez bonito".

Tom Barros
Colunista do Diário do Nordeste

Saiba mais

Campanhas

Para chegar a decisão do zonal do Nordeste da Taça Brasil, Ceará e Bahia superaram ABC e CSA, respectivamente. Enquanto o Vovô precisou do terceiro jogo para eliminar os potiguares (1x1 em Natal/RN, 0x0 no Presidente Vargas, e 2 a 1 no jogo desempate, também no PV), o Bahia venceu duas vezes o time alagoano: 5x0 em Maceió/AL e 2x0 em Salvador. Na fase semifinal, o Bahia passou pelo Vasco e bateu o Santos por 3 a 1 no Maracanã no jogo desempate.

Formações

Ceará e Bahia fizeram três jogos eletrizantes por um título regional e vaga na fase final da Taça Brasil, disputados dias 20, 27 e 29 de setembro de 1959. No empate por 0 a 0 no PV, o Ceará jogou com Harry Carrey; William e Alexandre; Claudio, Claudinho e Carneiro, Carlito, Zeca, Valter Vieira, Doca e Gilberto. Já o Bahia atuou com Nadinho; Beto e Leoni; Flavio, Vicente e Neizinho; Marito, Alencar, Leo, Ari e Biriba. As formações citadas foram os times-base utilizados nos três jogos

Vladimir Marques
Repórter

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